O atendimento à moda antiga, que considera o paciente de forma integral, ressurge. A diferença é que o médico de família retorna como uma especialidade, para que as pessoas tenham um profissional que seja referência e acompanhe o paciente permanentemente.
Países como Canadá, Inglaterra, Holanda e Portugal têm no especialista em medicina de família e comunidade o principal médico na atenção primária à saúde, ou seja, é o profissional que cuida dos principais problemas de saúde da população e analisa seu contexto social e familiar. Para entender como funciona a medicina de família e o que é atenção primária à saúde, fizemos algumas perguntas ao assessor de Atenção à Saúde da Unimed Federação Minas, Guilherme Lobo da Silveira.
No setor público, a valorização do médico de família começou há alguns anos, impulsionada pela Estratégia de Saúde da Família (ESF). Agora, os médicos de família começam também a se expandir no setor de saúde suplementar. Qual é o objetivo?
O movimento que estamos assistindo em vários países é de qualificação e expansão da Medicina de Família. Mas o que está por trás desta movimentação é muito maior e passa por uma profunda mudança no modelo de assistência. Hoje é facultado ao paciente a livre escolha pelas especialidades médicas, muitas vezes ocasionando uma estressante série de exames e consultas, entre a primeira ida ao especialista até a indicação do tratamento. A aposta principal agora é a Atenção Primária à Saúde, modelo no qual ao invés de buscar aleatoriamente um especialista a cada sintoma diferente, é ofertado ao paciente atendimento por uma equipe multidisciplinar coordenada pelo médico de referência que passa a ser o ponto de partida para o tratamento de forma integral, coordenada e muito mais assertiva.
Como se dá o acesso às demais especialidades?
As especialidades médicas são fundamentais e essenciais para a chamada Medicina de Família. O que acontece é que, atualmente, é delegada ao paciente a responsabilidade pela decisão de qual especialista ele deve procurar para tratar uma dor de cabeça, por exemplo. Um incômodo que pode ter origem em um problema oftalmológico, neurológico ou até mesmo tensional. A função do médico de família, ou médico generalista, é justamente esta: reduzir o chamado percurso assistencial, evitando que o paciente fique “pulando” de médico em médico e possa ter seu problema encaminhado de forma mais rápida e com diagnósticos mais efetivos.
O encaminhamento do paciente para os médicos especialistas então passa a acontecer de forma a direcionar o paciente de forma mais efetiva, já com um conhecimento prévio do problema?
Sim, com certeza. A Assistência Primária à Saúde aproxima médico e paciente de forma que ele vai conhecendo as características do paciente e formando um histórico do seu atendimento. Além disso, o modelo atua fortemente de forma preventiva, com foco na Promoção da Saúde do paciente e não só na solução de doenças.
De que maneira os beneficiários Unimed, em Minas, podem ter acesso ao médico de referência?
As Unimeds do Estado já estão trabalhando essa mudança para o Modelo de Atenção Primária à Saúde com a consultoria e assessoria da Unimed Federação Minas. A materialização disso acontece com a oferta de uma nova opção de plano de saúde para a população, o Unimed Pleno. O Pleno já é realidade em algumas Unimeds. Em Belo Horizonte, por exemplo, este produto foi lançado há 5 anos e já conta com 44 mil vidas vinculadas a ele.
Quais as premissas para que o Modelo de Atenção Primária à Saúde seja adotado efetivamente no Brasil?
A necessidade de um novo modelo não diz respeito apenas à sustentabilidade da saúde suplementar, mas do sistema de saúde como um todo. O modelo atual está sobrecarregado por fatores naturais como o envelhecimento da população e aumento dos casos de doenças crônicas. O modelo atual não é resolutivo frente a este cenário. E para a que a mudança aconteça efetivamente é necessário trazer essas questões todas para o conhecimento da população, colocar este novo modelo no centro dos debates. Todos somos responsáveis por promover e participar deste movimento. Essa mudança de mentalidade passa obrigatoriamente também pela classe médica. É necessário um retorno às origens de medicina, com uma maior valorização da Medicina de Família. E isso passa tanto pelas instituições quanto pelos profissionais da saúde.