Temor

Medo é rotina de morador das áreas de barragens em Minas Gerais

Das 40 estruturas em risco no país, 36 estão no Estado, e 3, em alerta máximo

Por Simon Nascimento
Publicado em 11 de janeiro de 2022 | 09:44
 
 
 
normal

A chuva sem trégua em Minas Gerais reacendeu o sentimento de medo em moradores de cidades que têm barragens instaladas – seja para contenção de rejeitos de minério ou para armazenamento de água. No domingo, moradores de Pará de Minas, na região Central, tiveram que deixar suas casas diante da possibilidade de rompimento de uma barragem de contenção de água da empresa Santanense, após chuva intensa. Uma fratura no duto que leva água ao gerador a usina foi detectada, mas a prefeitura informou ontem que a estrutura encontra-se estável.

No sábado, o transbordamento de um dique da Mina Pau Branco, da Vallourec, interditou a BR–040 e gerou temor em quem vive em Nova Lima. Outra estrutura, desta vez da Vale, também gerou medo e apreensão para quem vive no distrito de Macacos. O sistema de vazão do muro erguido para conter uma possível onda de rejeitos da barragem B3/B4 não suportou o volume de chuvas, e a água extravasou para regiões mais baixas. 

O aposentado Cláudio Bordin, 72, mora em Macacos há 16 anos. Ele diz nunca ter visto uma chuva como a do último fim de semana e relata medo sobre a condição da barragem. “Estou ilhado, não tenho saída e segurança. Desde 2019, nós estamos vivendo de maneira completamente indesejada”, relatou, ao lembrar os dois anos de evacuação de parte do distrito. 

Em Barão de Cocais, o sentimento é o mesmo para quem foi retirado de casa sob o risco de rompimento da barragem Sul Superior em fevereiro de 2019. “A população fica com medo, se vai haver ou não esse rompimento, desde 2019. E agora, com esse tanto de chuva, eles falam que está segura, mas a gente não acredita”, disse a analista administrativo Élida Couto, 35. Desde fevereiro de 2019, ela vive em uma casa alugada pela Vale.

Para o professor dos departamentos de engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais e da Universidade Federal de Itajubá Carlos Barreira Martinez, a situação das barragens é fruto de um longo período sem manutenção e fiscalização corretas.

“O principal problema desse momento é a intensidade alta de chuva, fator que deve se agravar nos próximos anos por questões ambientais. Durante muitas décadas, as empresas priorizaram a exploraçã e foram pouco lenientes com ações de segurança e preservação do meio ambiente. O Estado também falhou de forma sistêmica”, opina ele.

O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) determinou às empresas de auditoria externa que prestam serviço às mineradoras e órgãos de Estado que apresentem relatório atualizado de segurança das estruturas. Também foi determinada a apresentação de eventuais recomendações aos empreendedores. Órgãos fiscalizadores cobraram medidas preventivas e de monitoramento durante o período chuvoso.

No Brasil, são 40 estruturas ligadas à mineração com algum risco de ruptura, segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM), sendo 36 delas localizadas em Minas Gerais. As únicas em “nível 3” de alerta, que representa ruptura iminente ou em curso, estão em cidades mineiras e são da Vale – barragens B3/B4, em Nova Lima, na região metropolitana de BH; Sul Superior, em Barão de Cocais, e Forquilha III, em Ouro Preto, ambas na região Central.

Segundo a ANM, outras sete barragens estão em “nível 2” de emergência, quando uma anomalia é classificada como “não controlada” ou “não extinta”, necessitando de novas inspeções e intervenções. Todas em municípios mineiros, como Itatiaiuçu, Nova Lima, Ouro Preto e Mariana. As barragens são da Vale (5), da ArcelorMittal (1) e da Minérios Nacional (1).

O país tem 906 barragens de mineração cadastradas no Sistema Integrado de Gestão de Segurança de Barragens de Mineração (SIGBM). De acordo com a ANM, foram feitas 296 vistorias em 283 barragens em 2021. Mas os transtornos em Minas não foram evitados.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!