Passagem cara

Metrô BH: número de passageiros caiu 72% em uma década

Especialistas propõem subsídio no preço da tarifa para recuperar passageiros

Por Anderson Rocha
Publicado em 22 de março de 2024 | 05:00
 
 
 
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O Metrô BH, formado pelo Grupo Comporte Participações, assumiu o modal belo-horizontino há um ano, com o desafio de melhorar a qualidade do serviço e, consequentemente, conter a queda de usuários, que vem ocorrendo ano após ano. De 2013 para 2022, a quantidade anual de passageiros transportados caiu 72% – de 64,9 milhões para 18,1 milhões, conforme relatórios públicos de gestão da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), responsável pela administração do sistema até aquele ano – os dados de 2023 não foram informados pela concessionária.

Entre os fatores que explicam a queda, a CBTU pontuou no documento de 2016 que a situação foi reflexo da “crise econômica pela qual passa o país, com grande número de cidadãos desempregados, e a concorrência predatória do BRT em Belo Horizonte, levando a uma perda de cerca de 3,3 milhões de passageiros naquele sistema”. O BRT (Bus Rapid Transit, que pode ser traduzido como “transporte rápido por ônibus”, chamado de “Move” em BH) foi inaugurado em 2015.

Para Mauro Zilbovicius, professor do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica (Poli) da USP e coordenador do Laboratório de Estratégias Integradas da Indústria da Mobilidade (MobiLab), um fator que influenciou fortemente a queda foi o aumento do valor da tarifa, que passou de R$ 1,80 em 2019 para R$ 5,30 em julho de 2023, o que a faz a terceira mais cara do país, atrás de São Paulo e Brasília.

“A tarifa é um regulador da demanda. A tarifa mais alta significa perder passageiro, porque a população tem renda baixa, e isso não é só no Brasil”, disse. Segundo ele, a operação do metrô de Paris, por exemplo, é paga pela soma do que é arrecadado com a tarifa dos usuários, além do aporte do Tesouro francês (dinheiro público), e de uma contribuição do comércio, que é considerado um grande usuário do sistema.

Por isso, o professor de urbanismo Roberto Rolim Andrés, da Escola de Arquitetura da UFMG, defende um subsídio para que a tarifa diminua em BH. “Você só recupera esses usuários com subsídio público para reduzir a tarifa. Isso, infelizmente, não está na perspectiva da gestão atual do metrô”, avalia.

Procurado, o Metrô BH não comentou a queda dos usuários e se há um plano para diminuir o valor da tarifa. O governo de Minas e o Ministério das Cidades também não tinham respondido sobre o subsídio até o fechamento desta edição. 

Atrasos e falta de diálogo

O Super andou de metrô para observar o serviço e ouvir os usuários. Em geral, o passageiro que mora e trabalha em região atendida pela Linha 1 gosta do modal, em comparação com o ônibus, pela agilidade e maior previsibilidade que esse tipo de transporte oferece. Mas duas reclamações se repetiram: a falta de pontualidade das viagens e a ausência de comunicação do metrô com os usuários.

“Hoje mesmo, cheguei tarde no meu serviço porque o trem passou com 15 minutos de atraso. Isso tem acontecido umas duas ou três vezes por semana, desde que privatizou”, disse o estagiário Guilherme Augusto Gomes, de 19 anos, morador do bairro Camargos, na região Noroeste de BH. Ele ainda reclamou do fechamento de uma das duas escadas da estação Eldorado, o que faz o desembarque se estender por cerca de 5 minutos.

“Para mim, piorou. Passagem cara, só vem lotado, não tem ar-condicionado. E trasa. Antes não havia tanto problema de atraso. Eles colocam a culpa no ‘raio que caiu’, mas nem chovendo está”, disse a analista de sucesso Dainara Gomes, de 31 anos, que pega o modal na Vila Oeste até o centro da capital.

A professora Marinez Bressan da Costa, de 56 anos, também diz ter notado aumento nos atrasos. “Pego o metrô todo dia às 5h20. Hoje passou 5h45, já lotado. Tirei foto e mandei para eles (Metrô BH) via WhatsApp (31 3250-3901), perguntando ‘cadê o metrô?’, mas não me responderam. Neste primeiro ano, eu não vi melhora no serviço”, denuncia. No dia do problema relatado por Maria Inês, a empresa não havia respondido para ela até 18h32.

Empresa informa que já fez melhorias

O Metrô BH informou que, desde março de 2023, quando assumiu a concessão, o sistema opera de forma mais eficiente. “As melhorias graduais refletem o empenho da empresa em proporcionar regularidade, pontualidade e conforto ao usuário”, declarou, em nota.

Entre as ações, a empresa cita a redução das “evacuações” dos trens – quando todos os passageiros têm que descer por causa de alguma pane – de uma média de 30 para uma por mês. “O tempo médio de percurso entre as estações Vilarinho e Eldorado foi reduzido de 55 para 47 minutos. Já o número médio de viagens em atraso diminuiu de cerca de 35 para três, mensais”, alega.

100 mil pessoas utilizam o metrô de BH diariamente

“O preço da passagem está um pouco puxado. E a linha tem vez que atrasa. E atrasa a gente no trabalho. De minuto em minuto, a gente acaba saindo no prejuízo.” 
Ronderson de Amorim, de 47 anos, assistente administrativo, morador do Barreiro

“Diz que vai ter melhora, mas até agora nada. Tinha que ter mais horários. A gente, cansada, com sessenta e poucos anos, tem que ir em pé, e os mais novos vão sentados." Marinalva Chaves, de 60 anos, empregada doméstica, moradora de Contagem

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