O ano de 2023 já é considerado um ano de epidemia da dengue em Minas Gerais. Entre o mês de janeiro e o dia 6 de novembro de 2023, o estado registrou 181 mortes decorrentes da dengue - 18 por mês - com 288.522 casos confirmados, média de 949 por dia. E conforme a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, Minas pode registrar um fato raro e preocupante: ter dois anos consecutivos de epidemia da doença.
Quem admite a possibilidade é o secretário de estado de Saúde de Minas, Fábio Bacheretti. O chefe da pasta abordou o tema durante visita às obras de construção da biofábrica de mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, uma das apostas do governo estadual para combater a doença. Anos epidêmicos da dengue, conforme Bacheretti, ocorrem de três em três anos. Além de ressaltar que o ano de 2022 já teve muitos casos de dengue, ele lembra que o cenário em outros estados do Brasil aponta para a possibilidade de epidemia também em 2024.
“Em nossa história recente, das últimas décadas, nunca tivemos dois anos consecutivos com muitos casos. Mas há uma expectativa dos outros estados do Brasil terem um ano muito difícil, e Minas Gerais tem que estar atenta”, alerta Bacheretti. Só no período entre janeiro e 6 de novembro de 2023, Minas Gerais já superou em 286% os casos confirmados de dengue registrados em 2022. Em todo o ano passado, foram 74.784 casos de dengue confirmados em Minas. Neste ano, só até o dia 6 de novembro, já são 288.522 infecções.
Combate
Uma das apostas do governo de Minas Gerais para combater a dengue no estado é uma biofábrica de mosquitos com a bactéria Wolbachia. O local será responsável por produzir mosquitos Aedes aegypti com o micro-organismo, que bloqueia a transmissão dos vírus da dengue, zika e chikungunya. Com início em abril deste ano, as obras devem ser concluídas em 2024, com previsão de início dos trabalhos em junho do ano que vem.
Em um primeiro momento, serão contempladas 1,2 milhão de pessoas em 22 cidades que foram afetadas pelo rompimento da barragem de Brumadinho (veja lista abaixo), em 2019. Os recursos para a construção da biofábrica são da Mineradora Vale e fazem parte do acordo para reparar os danos causados pelo rompimento da barragem. Além do investimento de R$ 77 milhões no projeto, a empresa terá a obrigação de construir, equipar e mobiliar a unidade, e custear o funcionamento do local por cinco anos, contados a partir da licença de operação.
A segurança e a conservação do local no período entre a conclusão da obra e o início da operação também são responsabilidade da Vale. O secretário de estado de Saúde de Minas Gerais, Fábio Bacheretti, explica que, após as barragens cederem em 2019, surgiu uma preocupação com uma possível piora do quadro de arboviroses (doenças transmitidas por mosquitos) nas cidades afetadas pelo rompimento da barragem. Por isso, elas serão as primeiras contempladas, mas o objetivo é expandir a medida para todo o estado.
“Eles (primeiros municípios contemplados) são vinculados ao rio Paraopeba. Este recurso é de reparação do desastre de Brumadinho. Por isso inicialmente, havia uma expectativa de aumento destes casos nestes municípios. Mas Minas Gerais vai se reunir com a WMP e com a Fiocruz na busca da gente expandir a produção de mosquitos e fazer uma estratégia para todos os 853 municípios”, garante.
A expectativa é que a biofábrica produza, por semana, 2 milhões de mosquitos contaminados com a Wolbachia. Os insetos vão receber a bactéria antes mesmo do nascimento e, quando atingirem a fase adulta, vão ser soltos no ambiente para se reproduzirem com mosquitos selvagens, que não possuem a bactéria que bloqueia o vírus. Os novos insetos vão nascer já contaminados com o microorganismo que impede a transmissão dos vírus.
Além da fábrica, outra nova estratégia que vai ser adotada por Minas Gerais é o uso de drones para aplicar larvicidas em áreas remotas. Serão R$ 30 milhões de reais investidos no projeto. Fábio Bacheretti tem expectativa de que a iniciativa reduza significativamente os casos de dengue no estado, de forma complementar ao trabalho dos agentes de endemia.
“O drone consegue fotografar todas as áreas onde tem água parada e jogar o larvicida, que sem dúvida faz toda a diferença, não permitindo que eclodam novos mosquitos. O agente de bate à porta, pede licença e joga o larvicida, mas não consegue ter acesso a todos os lugares. Dessa maneira, a gente consegue garantir larvicida em todos os lugares onde tem água parada”, explica.
Calor e chuva favorecem o mosquito
As altas temperaturas registradas em Minas Gerais também aumentam a preocupação com doenças causadas pelo mosquito Aedes aegipty. Fábio Bacheretti explica que essas são enfermidades comuns nesses períodos, o que aumenta a necessidade de atenção tanto da população quanto do estado.
“As arboviroses são doenças do calor e da chuva. E estamos tendo um ano ainda mais quente que o normal. Isso pode gerar um desequilíbrio e pode gerar mais casos”, adverte.