O disparo das sirenes da mina Gongo Soco, por volta das 3 horas da madrugada desta sexta-feira (8), foi o primeiro som que a dona de casa, Maria das Dores, 37 anos, ouviu logo que acordou em pânico.

A mulher chamou os sobrinhos, avisou os vizinhos próximos e junto a um grupo correu por duas horas no meio da mata próxima à comunidade do Socorro, onde ela vive com a família. “Nós corremos pelo mato adentro por duas horas, cheios de barro, ainda carregamos uma moça que estava acamada e não aguentava andar sozinha”, conta.

Depois de duas horas em desespero, a mulher recebeu uma ligação informando que ônibus disponibilizados pela Vale estariam nas comunidades de Socorro, Tabuleiro e Piteiras para levarem os residentes para o centro de Barão de Cocais.

O desespero foi tão grande que muitos moradores foram para o hospital logo que chegaram ao centro do município, entre eles duas mulheres que deram entrada com sintomas de pressão alta e uma senhora idosa que sofre com mal de Alzheimer.

O repórter do jornal local Diário de Barão, Felipe Jácome, conversou com moradores abrigados no Ginásio Poliesportivo Waldemar das Dores e relatou a situação de pânico logo que a sirene foi acionada. “O que mais me assustou foi o fato das pessoas não saberem o que fazer, nem para onde correr para sair daquela situação”, explica.

A evacuação perdurou até a manhã e cerca de 500 pessoas foram encaminhadas para o poliesportivo. Por volta das 9 horas da manhã, aproximadamente 280 moradores que foram retirados de suas residências já haviam sido encaminhados por funcionários da Vale para hotéis na cidade e em municípios próximos. A mineradora informou que vai arcar com as despesas de hospedagem, alimentação e todos os cuidados necessários.

Pavor

O número de idosos acamados nas comunidades próximas à barragem sul-superior da mina Gongo Soco preocupa os moradores, uma vez que muitos estão impossibilitados de fugir em caso de rompimento e precisariam ser carregados.

“Ouvi o relato de uma senhora que entrou em desespero porque o marido de 73 anos estava acamado e não conseguiria fugir.  Alguns vizinhos fugiram com ele pelo mato”, disse Jácome.

A mineradora ainda não informou um prazo para que os moradores das comunidades evacuadas possam retornar para suas casas. “Eu quero que eles (a Vale) tomem uma iniciativa, eu quero voltar para minha casa, não quero ficar em hotel”, contou Maria das Dores.

A doméstica Aparecida Martins de Souza, 47 anos, também moradora do Socorro, não compartilha do mesmo desejo de retornar. “Tenho medo de voltar, minha casa é bem próxima do rio. Se a barragem descer, minha casa vai embora. Se a gente voltar, vamos voltar com muito medo”, desabafa.

Aparecida foi uma das moradoras que não ouviu a sirene, ela só acordou quando sua nora telefonou para ela avisando sobre o disparo.

Ela contou à reportagem do Diário de Barão que os moradores não tinham certeza se, após o disparo, a barragem já havia se rompido ou não, o que aumentou o pânico enquanto os técnicos da mineradora não chegavam à região.

“Corremos para um ponto alto e ficamos esperando a chegada dos ônibus da Vale. Foi só o tempo de correr com a  roupa do corpo, peguei só meus documentos. Ficamos com medo da barragem já estar descendo”, conta.

Segundo informações de Jácome, funcionários da Vale foram deslocados de Brumadinho para auxiliar na evacuação dos moradores das comunidades próximas à barragem sul-superior.

Na manhã desta sexta-feira (8), o comércio funciona normalmente em Barão de Cocais, mas o trânsito próximo ao poliesportivo e à companhia policial da região continua impedido.