A comunidade de Parque da Cachoeira busca com a Vale e autoridades públicas auxílio para os atingidos pela lama da barragem rompida da mina do Córrego de Feijão, em Brumadinho.
"A Vale só nos procurou ontem (domingo) por causa da mídia. O desastre foi na sexta-feira e ninguém tinha entrado em contato com a gente antes, nem Vale, nem Defesa Civil, ninguém. Não tem nada resolvido", reclama o presidente da associação de moradores de Parque da Cachoeira, Adilson Charlys Ramos de Souza.
Segundo ele, o bairro conta com 1.200 famílias, e cerca de 45 casas foram derrubadas pela lama. Pelo menos mais cinco, segundo Souza, estão com as construções abaladas pela lama.
Segundo o soldado Meneses, da Defesa Civil do Estado, na região já foram localizados 393 moradores e 291 estão sem contato. Nesta segunda-feira, houve uma reunião na sede da associação de bairro com atingidos, moradores e representantes da Vale, Ministério Público, Defensoria Pública e Defesa Civil do Estado.
No momento, segundo Adilson Souza, a maior preocupação é o contato com a lama, que pode transmitir doenças, além da situação dos desabrigados. Segundo a gerente executiva de gestão ambiental da Vale, Gleuza Jesué, presente à reunião, a empresa está fazendo uma análise laboratorial do rejeito para saber se o risco de doenças, incluindo a leptospirose, existe. Esse laudo deve demorar de 10 a 15 dias para ficar pronto.
Para o morador de Parque da Cachoeira, professor e agricultor familiar, Edmar Fernandes Mendes, 53, a Vale deve ressarci-lo pela perda de sua propriedade que chegava a 2.000 metros quadrados, 1.200 deles plantado. Toda a propriedade foi tomada pela lama e a casa arrastada 50 metros pelos rejeitos da barragem. "Eu quero ficar na casa da minha filha onde estou, mas a Vale tem que me dar o dinheiro para comprar (outra propriedade) em outro lugar", diz Mendes. Ele conta que não morreu porque havia saído 15 minutos antes para ir ao médico.
Mariana
Durante uma reunião entre Ministério Público, Defensoria Pública, Vale e moradores da comunidade de Parque da Cachoeira, o promotor de Justiça André Sperling afirmou que a experiência de Mariana mostrou que a melhor alternativa é fazer uma comissão técnica que seria responsável por levantar os bens que a Vale deve ressarcir cada morador.
"Entrar na Justiça não resolve o problema. O melhor é fazer um acordo com a empresa" defende. "Aprendemos com a experiência de Mariana e queremos que erros que aconteceram lá não se repitam em Brumadinho" acrescenta a defensora pública da União Carolina Morishita.
O morador e advogado Tiago Sebastião dos Santos, 30, questiona o Ministério Público (mp). "O MP não fez nada em Mariana e não tomou providência para impedir o que aconteceu aqui em Brumadinho. E não tem autonomia para agir, só recebe ordens. Então, é a comunidade que deve decidir o que é melhor", afirma Santos.
A representante da Vale na reunião com os moradores de Parque da Cachoeira, Gleuza Jesué, gerente executiva de gestão ambiental da mineradora afirmou na reunião que aconteceu na tarde desta segunda-feira não soube informar se a Vale vai limpar os rejeitos da barragem e nem como vai tratar a situação das propriedades que foram destruídas pela lama. "Vamos informar em breve como será o tratamento dos rejeitos. Sobre as pessoas que não estão sem casa, precisamos das informações desses moradores para definir as ações" declarou.
Quanto às solicitações feitas na reunião de ontem (domingo) com a mesma comunidade, a Vale confirmou que irá montar uma cozinha e enquanto isso fornecerá quatro refeições ao dia. Gleuza também informou que a empresa está montando na sede da associação de moradores de Parque da Cachoeira uma central de saúde com enfermeiros, médicos, psicólogos e medicamentos para a população atingida.
Outra reivindicação dos moradores foi em relação a segurança. Segundo Gleuza a Vale solicitou à pmmg um aumento do patrulhamento na região, mas não confirmou uma segurança particular