População na mira

Mortes por armas de fogo crescem 27% em Belo Horizonte em 2022

Capital registrou 124 homicídios causados por armas entre janeiro e julho deste ano; aumento da circulação de armas é a principal causa apontada por especialistas

Por Pedro Nascimento e Vitor Fórneas
Publicado em 03 de setembro de 2022 | 03:00
 
 
 
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Da morte do garoto Pedro Henrique em uma abordagem policial ao tiroteio à plena luz do dia no bairro 1º de Maio. No assassinato de um motorista de reboque na avenida do Contorno, após uma discussão de trânsito, ao latrocínio de um estudante por causa de um celular. Todos esses crimes são parte de uma escalada da violência que tem como fio condutor o metal e a pólvora das armas de fogo, segundo especialistas. No primeiro semestre deste ano, o número de pessoas que morreram baleadas cresceu 27% em Belo Horizonte, conforme dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).

Um levantamento da secretaria aponta que, de janeiro a julho deste ano, foram 124 mortes provocadas por disparos de armas de fogo na capital mineira. O dado mostra uma retomada de tempos pré-pandemia de 2020, quando todos os indicadores violência sofreram queda significativa devido às restrições de circulação nas ruas e o fechamento do comércio. (Confira os dados abaixo).

Para o pesquisador de segurança pública e coordenador de projetos do Instituto Sou da Paz, Rafael Rocha, o aumento de mortes pode estar relacionado, entre outras coisas, à grande quantidade de armas que estão em circulação na cidade, mesmo que o propósito com o que elas foram adquiridas não seja o crime. “Armas são bens duráveis. O tempo vai passando e elas vão ficando, vão sendo furtadas roubadas, desviadas, e acabam utilizadas no crime, mesmo que inicialmente elas tenham sido adquiridas legalmente”, afirma.

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2021 os registros de armas de fogo, em Minas Gerais, tiveram aumento de 127%. Foram 25.679 novos registros no ano passado, contra 11.312 feitos em 2020. 

Nas mãos de pessoas mal intencionadas, o pesquisador explica que as armas de fogo fortalecem a violência e tornam crimes considerados comuns em verdadeiras tragédias. “A arma de fogo potencializa todas as dinâmicas do crime, desde o tráfico de drogas, que passa a andar munido de pistolas e fuzis, até uma simples briga de trânsito, onde uma discussão normal pode virar um homícidio”, explica.

'O futuro não é promissor' 

Professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crispe), Braúlio Figueiredo acompanha com preocupação o aumento no número de mortes provocadas por armas em Belo Horizonte. Analisando os casos recentes, Bráulio explica o aumento de armas registradas por caçadores, atiradores e colecionadores, os chamados CACs, pode se mostrar letal a longo prazo.

"As mortes por arma de fogo eram muito concentradas na população jovem e masculina. Isso vai continuar acontecendo, mas vai haver um certa difusão e vamos ter outros cenários em que a gente vai observar essas mortes, e isso diz respeito muito mais a uma desavença e futilidade", explica. 

No Estado, conforme os dados da Sejusp, o registro de mortes por arma de fogo cresceu 5% entre janeiro e julho, com 964 mortes no período. Em 2021, foram 917 mortes no mesmo intervalo de tempo.

Para Braúlio, desde os crimes de menor potencial ofensivo cometidos por civis até as abordagens policias tendem a se tornar mais violentos, graças a presença da arma. "O policial militar é uma pessoa treinada para fazer o uso moderado da força em suas abordagens, então a arma deveria ser o último caso. O problema é que do outro lado sempre pode ter uma pessoa que está armada, e isso, eventuamente, vai desencadear uma situação de conflito. Pode aumentar não só a letalidade policial, como também poderemos ter mais baixas de militares e também da população", avalia.

Maioria das armas ainda são ilegais, diz PM

Nas ocorrências atendidas diariamente pela Polícia Militar de Minas Gerais, a maioria das armas de fogo apreendidas ainda são consideradas ilegais. São pistolas, escopetas e fuzis que entraram ilegalmente no país.

"Quando a gente fala do aumento de circulação de armas de fogo, de maneira geral,  isso não tem tanto impacto quanto as armas ilegais que entram e são traficadas em todo o país. Essas sim impactam muito no nosso trabalho e geralmente são as armas apreendidas em nossas incursões contra o tráfico de drogas", diz a porta-voz da sala de imprensa da Polícia Militar, major Layla Brunnela.

Seja legal ou ilegal, o fato é que a arma impacta na abordagem do policial, quem também se sente ameaçado sob a mira de alguém. 

"Pro policial militar é sempre um desafio atender a esse tipo de ocorrência, chega no local e deparar com o cidadão armado. O infrator que aponta a arma para um policial não tem nada a perder, diferentemente do policial militar que está ali exercendo a profissão e tem a família em casa esperando", descreve a porta-voz.

Confira os dados:

QUANTITATIVO DE VÍTIMAS DE HOMICÍDIO CONSUMADO POR ARMA DE FOGO - MINAS GERAIS 

2019: 1.784 

2020: 1.635 

2021: 1.542 

2019 (jan. a julho):1.012 

2020 (jan. a julho): 947 

2021 (jan. a julho): 917 

2022 (jan. a julho): 964 

QUANTITATIVO DE VÍTIMAS DE HOMICÍDIO CONSUMADO POR ARMA DE FOGO – BELO HORIZONTE 

2019: 249 

2020: 220 

2021: 196 

2019 (jan. a julho): 154 

2020 (jan. a julho): 128 

2021 (jan. a julho): 97 

2022 (jan. a julho): 124 

Fonte:  Observatório de Segurança Pública/Reds/Sejusp MG

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