"Toda vez que ele batia nela era para machucar. Ele é igual a um câncer". O relato é da irmã de Flávia Maria dos Santos, de 41 anos, que foi assassinada a golpes de marreta dentro de um apartamento em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. O crime foi descoberto na madrugada desta quinta-feira (14) após o marido dela, de 61, entrar em contato com a filha do casal e contar que tinha matado a companheira.
A família vivia em um prédio localizado na Vila Barraginha. Lá, além do casal, moravam os três filhos: uma jovem de 18 anos e dois meninos, de 12 e 5 anos.
Na quarta-feira (13), todos eles estavam na casa de parentes em Igarapé, na região metropolitana da capital, quando a mulher e o companheiro voltaram para Contagem.
"Por volta das 19h, eu escutei um grito vindo do apartamento. Mas não escutei discussão. Na madrugada acordei com os policiais no prédio. Eles brigavam muito, no ano passado a polícia chegou a tirá -lo do apartamento. Mas há cerca de quatro meses, ele voltou a morar aqui", contou uma vizinha, que pediu para não ter o nome divulgado.
A Polícia Militar foi acionada pela filha do casal, após ela receber a ligação do pai. Militares deslocaram até o imóvel, onde encontraram Flávia caída ao lado da cama já sem vida. Ela apresentava lesões na cabeça por golpes de marreta, que foi apreendida.
"As viaturas estão a campo na tentativa de prender o autor. Já fizemos contato com alguns parentes em Igarapé, estamos com viaturas lá. É mais um crime com requintes de crueldade. Eles já tinham histórico de violência doméstica, tem uma ocorrência de lesão corporal e ela já tinha tentado uma medida protetiva", explicou tenente coronel Bruno Assunção, comandante do 39º Batalhão.
Desentendimento por causa de terreno
Além das constantes brigas de casal, Flávia e o marido também discutiam por causa de um lote em Igarapé. Uma rede de supermercados tinha interesse na compra no lote, avaliado em R$ 600 mil, mas a partilha do valor causava atrito entre os dois.
"Ele trabalhava como pedreiro. Com a gente aqui sempre foi tranquilo. Ela era muito caseira, não gostava de sair. Mesmo separado, ele chegava com compras para a família. A gente quase não acredita. É muita violência contra mulher, as mulheres não podem terminar um relacionamento que estão condenadas à cova", desabafou a vizinha.
Casal estava junto há 22 anos
De acordo com a família de Flávia, o casal começou a namorar quando ela tinha apenas 19 anos. Apesar das agressões físicas, parentes não acreditavam que ele pudesse assassinar a companheira.
"Ele batia, ameaça. Ele não queria separar, sempre estava no prédio. Pedimos força ao Senhor e agora vamos cuidar dos meus sobrinhos. Não consigo sentir nem ódio dele. Quem fere com a espada, com a espada será ferido", disse a irmã da vítima, Cristiana Santos.
"Se ele aparecer aqui, vão matá-lo", diz moradora da região
O feminicídio assustou e revoltou moradores da região. "Ontem, a Flávia chegou aqui à tarde, me deu um abraço e foi para o apartamento dela. Não ouvimos nenhum barulho, e acordamos com a chegada da polícia. Ele precisa pagar pelo que fez. Se ele voltar aqui vão matá-lo. A Flávia era muito bacana", disse outra moradora do prédio também sob anonimato.
Até o fim desta manhã, o suspeito não havia sido localizado.