Em processo de recuperação dos efeitos da segunda pior epidemia de dengue da história de Minas Gerais, ocorrida neste ano, Belo Horizonte, Betim e Contagem, os três maiores municípios da região metropolitana, encerram 2019 com estratégias e ferramentas para combater o Aedes aegypt e evitar um novo surto no ano que vem.
O contra-ataque ao mosquito inclui reforço do efetivo de agentes de combate a endemias, intensificação da fiscalização em residências e lotes vagos e uso de tecnologia para identificar criadouros.
Em Betim, onde foram confirmados 40.217 casos de dengue e 18 mortes de janeiro até o último dia 6, o principal desafio ainda é conscientizar a população sobre a importância de cuidar da própria casa. Cerca de 80% de todos os focos do Aedes aegypti estão dentro das residências.
Para reverter esse quadro, o diretor de Vigilância em Saúde da Prefeitura de Betim, Nilvan Baeta, explica que o município aposta na contratação de 150 agentes de combate a endemias até o primeiro trimestre de 2020. A medida vai praticamente dobrar o número de profissionais responsáveis por visitar os imóveis e dar orientações sobre cuidados de prevenção e combate à dengue.
“Também estamos fazendo grandes mutirões de limpeza, visitando principalmente aqueles lugares em que, segundo o último Levantamento de Índice Rápido para Aedes aegypti (LIRAa), já há um estado de alerta para dengue”, ressalta Baeta.
Sob respaldo da Lei Federal 13.301/ 2016, Betim também decidiu intensificar a entrada forçada em estabelecimentos fechados, como casas disponíveis para aluguel e imóveis abandonados. Nesse caso, as fechaduras são arrombadas para o acesso das equipes de combate a endemias e novamente trancadas por um chaveiro. Nos ambientes em que há focos do mosquito, a prefeitura emite uma notificação para que o proprietário faça a limpeza da residência.
Mesmo com o reforço das ações, Baeta diz que não há controle da doença sem a ajuda da população: “A saúde é uma responsabilidade do governo, mas nós, cidadãos, somos corresponsáveis. Basta tirar dez minutos do seu tempo para remover qualquer foco do mosquito em casa. Automaticamente, isso vai reduzir a incidência dessa doença tão grave, que pode matar”, ressaltou o diretor.
A estudante de pedagogia Nayanne da Rocha Silva, 20, foi uma das vítimas da dengue em Betim. Moradora do bairro Petrovale, ela acredita que o criadouro do inseto estava em um imóvel vizinho. “Muita gente não cuida da própria casa e não deixa que os agentes entrem para combater o mosquito. Isso acaba prejudicando toda a vizinhança”, lamentou.
Aplicativo
A tecnologia também tem sido usada pelas cidades no combate à dengue. A Prefeitura de Betim prepara um aplicativo em que a população vai poder tirar fotos dos criadouros e enviar ao município. Ainda não há data para o lançamento.
O presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano, aprova a iniciativa. “Dar à população um meio de denunciar é pertinente”, avalia o infectologista.
Contagem quer melhorar atendimento
Em Contagem, na região metropolitana de BH, onde a dengue já adoeceu cerca de 46 mil pessoas e deixou ao menos seis mortos neste ano, a prefeitura informou que adotou a estratégia de repensar o que não deu certo no último período epidêmico e fortalecer experiências bem-sucedidas.
Após analisar o último plano de contingência, o município fez revisões que contemplavam principalmente o cuidado no primeiro atendimento aos pacientes com suspeita da doença. O objetivo, segundo o superintendente de Vigilância em Saúde do município, José Renato de Rezende, é evitar óbitos. “A nossa luta é buscar a excelência no atendimento da atenção básica para não deixar que os casos se agravem”, afirmou.
O município também promete aumentar em 14% o número de agentes de combate a endemias e intensificar os mutirões.