Ônibus elétrico começa a ser testado nesta sexta-feira em BH por 30 dias

Um ônibus elétrico, movido a energia solar, começa a ser testado em Belo Horizonte, nesta sexta-feira (12), por 30 dias. O experimento vai ocorrer em quatro linhas diferentes, começando pela 9250 (Caetano Furquim/Nova Cintra via Savassi).

"Esse teste é um esforço para atender às exigências que o momento traz acerca da sustentabilidade do transporte. Essa iniciativa é aderente à agenda global, um esforço por parte do município de atender os compromissos assumidos nacionalmente, globalmente para atender a questão da redução de gás de efeito estufa, melhoria na qualidade do ar, redução de doenças respiratórias e uma modernização para o transporte público", explicou Rodrigo Pimenta, gerente do projeto de mobilidade elétrica da BHTrans.

Segundo ele, o intuito de colocar o coletivo em linhas diferentes é testá-lo em topografias diferentes e ampliar o serviço para que a população possa opinar e conhecer a tecnologia. 

"Em 2016 foram feitos testes preliminares, o intuito era conhecer a tecnologia, ainda que superficialmente. À época, os ônibus, tanto padrão como mini-ônibus, já eram uma tecnologia ultrapassada em termos de autonomia, de desempenho em rampa. Foi válido o teste, só que agora já temos uma tecnologia apropriada à nossa realidade topográfica, de rigidez de itinerários, com autonomia melhor", detalhou. 

A implantação do veículo na capital mineira não depende apenas da BHTrans, uma vez que há custos e é necessário o interesse das empresas para que os veículos possam ser adquiridos. No entanto, a BHTrans destacou que o ônibus já é uma realidade em outros países, como o Chile, e, no Brasil, em São Paulo, com 17 veículos. 

"Um dos principais desafios é o custo inicial do capital investido porque é uma tecnologia bem mais cara do que a tecnologia do diesel, que é do transporte conhecido e praticado. Existe resistência, preocupação e é natural. Parece inviável, mas quando você avalia a médio e longo prazo e lembra que o custo de manutenção é bem inferior ao diesel, o custo de operação, o consumo energético é bem inferior é uma questão a se discutir e é possível que ele se torne atraente, sim. Sustentável ambientalmente e no aspecto social ele já é. E é possível que seja sustentável financeira e economicamente", detalhou o gerente. 

Mudanças 

Segundo a BHTrans, o usuário que embarcar no ônibus elétrico vai perceber algumas mudanças que fazem a diferença durante a viagem tanto para passageiros como motoristas.

"O usuário vai perceber que é um ônibus mais confortável, a começar pela redução de emissão de ruídos, isso tem um impacto para o passageiro e o operador, é um ônibus moderno, é um ônibus moderno, tem um torque maior. Uma arrancada, por exemplo, em uma subida íngreme, ele arranca com maior facilidade, maior rapidez e sem emitir ruído, ele vai ver que não emite fumaça",  afirmou Pimenta. 

Trabalhando como motorista de ônibus há 21 anos, Marcos Cunha Marinho, de 45, teve a oportunidade de dirigir o veículo nesta sexta-feira e aprovou a iniciativa. "É muito mais eficiente, totalmente silencioso, como se estivesse ao ar livre. Isso faz diferença, aquele motor a diesel, todos os dias, é exaustivo", disse. 

Passagem

Segundo a BHTrans, após os testes serão realizados relatórios discutidos entre a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da BHTrans e a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, a Cemig Sim, a Viação Torres, que representa o Setra BH, e o fabricante do veículo. 

"O objetivo primordial deste teste é analisar os critérios técnicos, operacionais. E, é  lógico, vai se obter também medição de custos, a recarga, quanto vai se gastar com energia elétrica, quanto vai se gastar com as baterias. E aí será feito um estudo econômico, financeiro, e só a partir desse estudo vai se saber que tipo de impacto pode ser gerado em uma possível implantação", disse Pimenta. 

Um ônibus elétrico pode custar cerca de R$ 1,5 milhão, três vezes mais o valor do veículo convencional. A autonomia das baterias é em média de 210 KM.

Relatório

Após o mês de teste, o veículo será devolvido à empresa responsável e será feito um relatório e, a partir dos resultados, serão analisados os próximos passsos.

Economia

A Cemig SIM, empresa do grupo Cemig, vai participar do período de teste. Segundo representantes, a Cemig SIM é voltada para a inovação, soluções em energia e produção de energia limpa através de fazendas solares para o mercado de geração distribuída para o cliente de baixa tensão. 

"Esse é um ônibus carregado com energia solar produzida no Norte de Minas Gerais. Ele tem uma autonomia para rodar o dia todo. Adotando esse tipo de transporte é uma redução de 15 toneladas de CO2 por ano de cada veículo  que vai se evitar na atmosfera. É uma redução significante quando a gente pensa no futuro com uma frota muito maior na cidade", detalhou João Paulo Dionísio Campos, diretor de novos negócios da Cemig SIM.

Especialista 

Para a professora de arquitetura e urbanismo do Ibmec BH, Camila Zyngier, ter variações nos tipos de ônibus em áreas com topografias diferentes da capital é uma proposta interessante.  

"Belo Horizonte é uma cidade muito grande, não estamos vencendo a poluição ainda, especialmente na questão de ônibus e automóveis. Então ter um ônibus diferente que alcança esses pontos da topografia como da anti-poluição é muito bom. Tem cidades cidades que optaram por modais mais sustentáveis, como Turim, na Itália, tem uma variedade muito grande de meios de transporte. Em Belo Horizonte nós ainda temos tipos bem restritos, entrar com o ônibus elétrico acho que é uma abertura bacana", afirmou. 

Ônibus elétrico traz curiosidade e esperança 

A reportagem de O TEMPO foi às ruas conversar com usuários sobre a chegada do ônibus elétrico. A maioria dos entrevistados ainda não sabia da novidade. João Pedro Rodrigues, 18 anos, estudante de medicina veterinária, mesmo sem muitas informações do assunto, acredita que as mudanças podem impactar a vida do usuário.

"Como não vai usar o diesel, deve ficar mais barato. Não é possível que a passagem vai ficar mais cara, já está difícil o deslocamento, Se for para piorar é melhor não colocar. Não tem barulho também vai ser bom. Ando sempre com o fone de ouvido por causa do barulho do ônibus e dos passageiros", afirmou. 

O auxiliar administrativo Gabriel Alves Rodrigues, de 22 anos, já tinha conhecimento do início do teste e está confiante nas melhorias. "Eu acho interessante, a gente vive uma crise de combustíveis. Não é algo que vai ser implementado tão rápido, mas pode ser bom sim. A princípio, acho que não deve impactar na tarifa, é um recurso novo. É um avanço", contou.

Veja outras opiniões 

"É a primeira vez que estou ouvindo falar, se ajudar no valor da passagem vai ser ótimo. Às vezes a gente quer ter um descanso durante o trajeto e tem o barulho do ônibus"

Angélica Corrêa, 33, autônoma e estudante

"Seria bom se impactasse no preço da passagem e se esse ônibus for silencioso para a gente, que acorda cedo, é melhor"

Yasmin Ferreira, 19, auxiliar administrativo

"Usar energia solar é melhor. Não sou muito de andar de ônibus, mas, quando pego, gasto muito. Se puder abaixar vai ser melhor"

Cristian de Oliveira, de 22, autônomo

Quem entrar no coletivo elétrico poderá opinar. Cartazes com  QR Code foram colocados no coletivo e, através dele, poderá ser realizada uma pesquisa on-line. Clique aqui.

Posicionamento do SetraBH

Por meio de nota, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH) informou que "apoia todas as novidades tecnológicas que possam agregar melhorias para a operação do sistema de transporte coletivo da cidade. A entidade está acompanhando com grande expectativa os testes do ônibus elétrico na cidade, principalmente pelos benefícios ecológicos na emissão de poluentes, de nível de ruído, conforto e desempenho".

Veja as linhas em que o ônibus será testado:

9250 - Caetano Furquim / Nova Cintra via Savassi (atende 

5503A - Goiânia A

9105 - Nova Vista / Sony

815 - Estação São Gabriel / Conjunto Paulo V

Veja quais serão os intens avaliados do desempenho do ônibus:

- Adaptabilidade às condições climáticas;
- Adaptabilidade aos tipos de solo e relevo;
- Níveis de emissão dos poluentes atmosféricos (gases de efeito estufa – GEE, outros gases e material particulado) a serem evitados com a operação do ônibus elétrico;
- Níveis de emissão de ruídos a serem evitados com a operação do ônibus elétrico;
- Consumo de energia elétrica e autonomia das baterias em condições normais e severas.

Matéria atualizada às 15h25