Apesar de não haver registros da doença na família, estar sempre saudável e ser muito atenta aos exames de rotina, Daniella Zupo, 43, recebeu o diagnóstico positivo para câncer de mama há cerca de um ano. Se para muitas mulheres a primeira reação é negar o mal e fugir da realidade, a jornalista viu em sua situação inspiração para criar uma websérie sobre o assunto. E mais do que contar a própria experiência ela usa o folhetim para fortalecer outras vítimas da doença.

O câncer diagnosticado em Daniella era considerado agressivo pelos médicos. Porém, como a descoberta foi quando a doença estava em seu estágio inicial, o tratamento surtiu bons resultados e deve ser concluído em breve, assim como a websérie, que está em seus últimos capítulos de gravação.

“Acho que a série vem com o objetivo de lançar luz sobre esse tema. Achei que se me expusesse eu poderia estar ajudando outras pessoas a vencer o diagnóstico e a encarar o assunto de frente”, revela a jornalista.

Para Daniella, que sempre trabalhou com audiovisual, nada mais natural que escolher contar a própria história com imagens. Mas mais do apenas relatos e uma forma de trazer luz para o assunto, ainda um tabu para muitas mulheres, as filmagens auxiliaram também seu processo de interiorização e de aceitação do diagnóstico.

“Quanto mais fui vivendo o tratamento, mais fui entendendo que era minha forma de compartilhar. Tem gente que monta ONGs (Organizações Não Governamentais) ou vai a grupos de apoio. Eu optei por isso (audiovisual) por fazer parte das ferramentas que eu tinha. Tem a ver com quem eu sou. Acabei criando a websérie”, conta Daniella, que também é quem produz e dirige o folhetim.

Gravações. A série se chama “Amanhã Hoje é Ontem: Diário de um Câncer”. O nome foi inspirado em uma pergunta feita pela filha de Daniella que não entendia muito bem sobre a passagem do tempo. Com oito episódios, ela será encerrada no fim deste mês, exatamente quando o país vive o Outubro Rosa – dedicado a alertar mulheres sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama.

Segundo Daniella, a série também foi uma maneira de ela e a família lidarem melhor com o diagnóstico e o tratamento. As imagens que vão ao ar são todas feitas pelo marido da jornalista, que não é da área de comunicação e não tem nenhuma ligação com o audiovisual.

“Ele viu que estava me incentivando. Não tinha energia de pegar a câmara e fazer imagens. Foi a energia dele colocada ali generosamente que me ajudou a não desistir da ideia. Para minha filha, eu dizia que estava fazendo um presente”, relata.

Daniella conta que, como um remédio, o projeto a ajudava a sentir que tinha outras alternativas que não fosse sofrer por causa do câncer. “A cada imagem que eu via, tudo mudava. Você vai e corta o cabelo. É uma coisa. Quando assiste alguém cortando seu cabelo é uma experiência de outra ordem”, conta.

Com o fim do tratamento e depois dessa jornada, ela ainda não sabe o que vai vir pela frente, mas garante que vai deixar a vida guiá-la. Quanto à série, por enquanto, nada está previsto, mas a criadora não descarta a possibilidade de uma nova temporada ou de compilar esse material em um filme.

“Era importante fechar o ciclo em algum momento. Decidi que seria a ação do Outubro Rosa e que iria concentrar em determinados episódios. A gente vive um dia de cada vez. Acho que ele pode, sim, se transformar em outra história. Mas, nesse momento, não tenho essa resposta”, concluiu.

Dados em Minas Gerais

De acordo com a Secretaria de Estado de Minas Gerais, o câncer de mama é o tipo que possui a maior incidência e a maior mortalidade entre as mulheres. Estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca), órgão ligado ao SUS, apontam quem são esperados 5.160 novos casos da doença em Minas Gerais, apenas neste ano. A incidência é de 48,19 casos para cada grupo de 100 mil mineiras. Por isso, é importante fazer todos os exames de rotina, com destaque para a mamografia. O Ministério da Saúde recomenda que ele seja feito principalmente por mulheres entre 50 e 69 anos, e que seja repetido a cada dois anos. Minas possui, atualmente, 584 aparelhos de mamografia. No Estado, de janeiro a julho de 2016, foram realizados 279.489 exames.

Mamografias

Com o objetivo de aumentar a cobertura de exames, bem como garantir o fornecimento regular do teste às mineiras, o governo do Estado ampliou o alcance do serviço móvel de mamografia durante o Outubro Rosa. São oito equipamentos que rodam todo o Estado e, para a campanha, eles passarão por 24 municípios até o dia 11 de novembro. As mamografias também podem ser feitas pela rede pública de saúde. Em Minas, são 165 mamógrafos fixos e 310 mastologistas. Para mulheres entre 40 e 49 anos, é preciso agendar uma consulta médica no posto de saúde. O médico irá avaliar a necessidade do exame. Para mulheres entre 50 e 69 anos basta requisitar a mamografia no posto de saúde e agendar o exame. O tempo de espera varia conforme a demanda.

Cuidados e aceitação

No fim do mês, Daniella Zupo fará uma sessão comentada da websérie para a campanha Outubro Rosa do Sesc. O evento acontecerá no dia 25 de outubro, às 19h, no Teatro de Bolso. A entrada é franca, com retirada de ingressos 30 minutos antes do início da sessão. Daniella faz um alerta a todas as mulheres para a importância do diagnóstico precoce e, em casos positivos, da necessidade de se aceitar a doença. “Não é que o diagnóstico precoce te impede de ter câncer. Nada pode te impedir de ter câncer, mas você terá muito mais chance de lutar pela cura, por sua vida”, afirma. A jornalista conta que aprendeu rapidamente que as pessoas tinham medo de falar da doença, e que é preciso coragem para lidar com ela.