Operação 'Camarote'

PF investiga se empresários da Saritur receberam vacina falsificada em MG

A linha investigativa foi revelada após cumprimento de mandado de busca e apreensão na residência da enfermeira que teria aplicado a vacina, e frascos com soro foram recolhidos no endereço

Por Lara Alves
Publicado em 30 de março de 2021 | 18:42
 
 
 
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A Polícia Federal (PF) trabalha com a hipótese de que empresários vacinados de forma irregular em Belo Horizonte tenham recebido, na realidade, doses falsificadas do imunizante contra o coronavírus. A linha investigativa foi revelada à noite de terça-feira (30) por meio de comunicado da corporação logo após cumprimento de mandado de busca e apreensão na residência da enfermeira que teria aplicado a vacina no grupo de mandatários da Saritur, importante conglomerado do setor de transportes em Minas Gerais. Frascos com soro foram recolhidos no endereço, e material será periciado.

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Cartões de vacinação, seringas, agulhas, luvas e outros materiais também foram arrecadados no imóvel – bem como um segundo mandado foi igualmente cumprido em uma clínica. Outras duas hipóteses investigadas pela Polícia Federal, além da possibilidade de terem sido fraudadas as vacinas aplicadas nos empresários, são: a primeira, que doses foram importadas ilegalmente do Chile, e a segunda admite desvio do imunizante a partir do Ministério da Saúde. A enfermeira e o filho dela são suspeitos do crime de comercializar e aplicar tais doses contra a Covid-19 de origem ilícita. De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), empresários e políticos que receberam o imunizante poderão ser responsabilizados criminalmente por receptação e vacinação irregular, pelo menos.

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Além dos investigados, outras pessoas também teriam recebido imunizante

A Polícia Federal (PF) apura também a possibilidade de que a enfermeira e o filho dela tenham feito a vacinação irregular de um segundo grupo de pessoas, além do composto por empresários e políticos ligados à Saritur e que já são investigados na operação nomeada “Camarote”. Aliás, em depoimentos prestados de forma espontânea nessa segunda-feira (29), os proprietários, sócios e membros do alto escalão da companhia de transporte de passageiros admitiram a aquisição do imunizante contra o coronavírus de procedência ilícita.

A enfermeira, que tem passagem por furto, o filho dela e um segundo homem envolvido, conforme informação da corporação, foram conduzidos à sede da Superintendência da Polícia Federal (PF) em Minas Gerais, no bairro Gutierrez, à região Oeste de Belo Horizonte, na tarde de terça-feira para prestarem esclarecimentos. Até o momento, não há informações sobre o conteúdo dos depoimentos.

Histórico

A imunização ilegal foi revelada pela revista “Piauí” à terça-feira passada (23), e reportagem indicou que cerca de 50 pessoas receberam doses contra o coronavírus em uma garagem da viação Saritur e os organizadores seriam os irmãos Rômulo e Robson Lessa. Cada vacinado teria desembolsado R$ 600 pelas doses. Uma servidora municipal da Saúde de Belo Horizonte filmou o instante em que suspeitos estariam recebendo a vacina no bairro Alto dos Caiçaras, à região Noroeste de BH.

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Três dias após a denúncia, a Polícia Federal (PF) deflagrou a operação “Camarote” e cumpriu quatro mandados de busca e apreensão em endereços ligados à empresa rodoviária. Documentos e arquivos de imagens foram recolhidos. Uma lista com 57 nomes de pessoas suspeitas de terem sido vacinadas irregularmente contra a Covid-19 também foi apreendida pela PF.

Assista as imagens filmadas:

Outro lado 

Por meio de nota, o empresário Rubens Lessa declarou que o endereço mencionado na reportagem não pertence ao grupo Saritur e afirmou que os nomes citados – dos irmãos Robson e Rômulo Lessa – não integram a companhia, e “que o assunto tratado na matéria era de total desconhecimento da diretoria da empresa”.

Atualizada às 16h04.

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