"Fazer o bem sem olhar a quem". O dito popular, com origem em ensinamentos bíblicos, poderia servir para um pastor de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, após autorizar que uma carreta fosse parada no estacionamento de uma igreja evangélica, nessa segunda-feira (20). O que o religioso não contava era que o veículo estava "recheado" com quase duas toneladas de maconha. Dois suspeitos foram presos.

As barras foram descobertas após uma denúncia anônima ser realizada para a Polícia Militar. Nela, o denunciante informava que o carregamento estava em um endereço no bairro Cândida Ferreira. "Constatamos que se tratava de um carregamento de drogas oriundas do exterior que seriam destinadas à região metropolitana por uma quadrilha que atua na região Noroeste de Belo Horizonte. As drogas seriam para o abastecimento no aglomerado Pedreira Prado Lopes e bairro Concórdia (região Nordeste)", explicou o tenente Wanderley Assunção, do Tático Móvel do 34º Batalhão.

A carreta foi localizada no lote vago, que serve de estacionamento, ao lado da igreja. Os suspeitos estavam atrás do veículo. Ao perceber a aproximação da viatura, dois homens fugiram em direção a um matagal. O terceiro, de 34 anos, era o motorista da carreta. Ele disse aos militares que era do Paraná e receberia R$ 10 mil pelo transporte da maconha. Ainda segundo condutor, a droga seria do Paraguai.

"O motorista disse que pegou esse caminhão em uma cidade do interior do Paraná já carregado com o material ilícito. Posteriormente, ele colocou uma carga de soja por cima. Foi até certa cidade, entregou, carregou de novo com outro tipo de grão, descarregou e seguiu para Minas Gerais. As barras de maconha estavam escondida no assoalho da carreta com uma camada fina de café por cima, provavelmente, para tentar conter o cheiro", detalhou o policial.

Preso na mata

Com o apoio do helicóptero Pégasus e dos cães da Rocca, o segundo suspeito, de 21 anos, foi localizado na mata. O jovem contou que era morador de Betim, também na Grande BH, conhecia o pastor e pediu para deixar o veículo estacionado no local. A intenção era pegar a carreta na manhã desta terça-feira (21). O comparsa dele conseguiu fugir. A igreja fica próxima às margens da BR-040, em uma via com vários galpões.

"Além de ficar encarregado de arrumar o local em que seria feito o transbordo da carga, ele também receberia para ajudar a descarregar. O pastor fez contato com a gente. Para ele foi contado que a carreta precisava de manutenção. O pastor, de boa fé, autorizou que ficasse no estacionamento. Ao que tudo indica, não tem participação dele no crime de tráfico de drogas", disse o militar.

Ao todo foram apreendidas 1.860 barras de maconha com cerca de um quilo cada. Até chegar ao consumidor final - o usuário - o valor da mercadoria seria alta. No entanto, não foi possível estimar o valor da carga no atacado. Essa é uma das principais apreensões de drogas realizada pela Polícia Militar nna região metropolitana neste ano.

Os dois presos e a droga apreendida foram encaminhados à Polícia Federal.

"A gente usa de bom coração para ajudar sem saber o que espera", diz fiel

A reportagem de O TEMPO esteve na igreja nesta terça-feira, fez contato com o pastor, mas, após se reunir com outros quatro líderes do templo, ele preferiu não comentar o caso.

O religioso se limitou a confirmar as informações do boletim de ocorrência de que um dos homens pediu para guardar a carreta no local por, supostamente, apresentar problemas mecânicos. 

Sob anonimato, uma fiel de 44 anos contou à reportagem que, nessa segunda, na parte da tarde, o jovem de 21 anos foi até o local em que ela trabalha e pediu o número de telefone do pastor.

"O rapaz chegou aqui por volta das 15h me pedindo o numero do meu pastor. Pensei até que fosse para pedir oração. Fiquei sabendo o que aconteceu hoje de manhã quando cheguei para trabalhar. Esse rapaz também trabalha aqui perto, sempre me pagou direitinho e não tinha suspeita nenhuma. Aproveitaram da boa fé do pastor, que é um homem muito íntegro, trabalhador. A gente usa de bom coração para ajudar sem saber o que espera", finalizou.

O estabelecimento em que o homem trabalha, na mesma rua, estava fechado. 

 

Matéria atualizada às 12h52