Quem matou Bianca? Há 11 anos, essa é a pergunta que atormenta a técnica de enfermagem Márcia dos Santos Fonseca, mãe da garotinha de 11 anos que saiu de casa para comprar pão, mas foi estuprada e morta por asfixia, em maio de 2012, no bairro Palmital, em Santa Luzia, na região metropolitana de BH.
Mais de uma década após o crime brutal, e mesmo depois de todos os esforços da família – que localizou o corpo e forneceu uma série de pistas à Polícia Civil –, o caso foi encerrado sem apontar o assassino. Porém, em 23 de junho, a mãe voltou a ter esperança: o Ministério Público de Minas Gerais identificou lacunas na investigação e ordenou a reabertura do inquérito para a realização de novas diligências. A Polícia Civil confirmou ao Super Notícia já ter acatado a decisão.
Márcia, que guarda com cuidado três peças de roupas, fotos, um quadro e uma bolsinha rosa com lápis de cor da filha, lembra-se de cada detalhe daquele 5 de maio de 2012, quando, por volta das 10h, Bianca pediu para ir à padaria, a 140 m da casa da família. Ela usava chinelo, camiseta branca, bermuda e estava com os cabelos presos.
Em condições normais, a garota gastaria, no máximo, 10 minutos para fazer o percurso de ida e volta entre a casa e a padaria, mas o relógio já marcava 12h, e Bianca não havia voltado. Ao notar o sumiço da filha, Márcia foi ao estabelecimento, mas o dono disse que a garotinha não tinha passado por lá. Foi naquele momento, que Márcia entrou em contato com a polícia e registrou a ocorrência.
Falta de pistas dificultou buscas
Dali em diante, as buscas se transformaram em pesadelo devido à total ausência de provas. “A rua estava cheia, era sábado de manhã, e ninguém a viu. Na região, até hoje, não possui câmeras de vigilância, imagine há 11 anos”.
Parentes e vizinhos se mobilizaram em uma força-tarefa para vasculhar a região. O que eles não imaginavam era que o corpo de Bianca só seria encontrado dois dias depois, a 204 m de casa, abandonado em uma vala, em área de matagal. “Foi o meu irmão e meu ex-marido que encontraram o corpo da minha menina. O que me chama atenção foi que Bianca não teria aparecido na padaria e ninguém viu a minha menina. Procurei por toda a região, e o corpo dela estava perto de casa. Foi naquele sábado que minha vida mudou para sempre. Só quero saber quem matou minha filha”, lamenta Márcia.
A mulher tenta retomar a vida junto com os outros filhos, de 15, 18, 21 e 23 anos. Bianca estaria com 22. “Meu filho de 15 anos faz aniversário no dia que Bianca foi enterrada, 8 de maio. No dia do velório, estava tudo pronto para a festinha, com tema Batman. Tudo foi ensacado. Só depois de quatro anos, conseguimos cantar o parabéns, com tristeza no coração, mas tentamos seguir. Até hoje, no aniversário dele, meu menino me olha com tristeza. A sombra de quem matou minha filha persegue todos nós”, disse a mãe.
Morte de outra criança reacendeu caso
Entre a localização do corpo, em 2012, e a retomada das investigações, no ano passado, o caso Bianca ficou praticamente paralisado por dez anos. A investigação foi retomada em agosto de 2022, quando a mãe informou à Polícia Civil que havia reconhecido Paulo Sérgio, de 50 anos, como suspeito. No entanto, a participação dele foi descartada após exames de DNA.
A suspeita surgiu após Márcia ver uma notícia que mostrava Paulo como autor do estupro e assassinato de Bárbara Vitória, de 10 anos, em Ribeirão das Neves, na região metropolitana. Além da semelhança entre os crimes – Bárbara foi morta após sair de casa para comprar pão –, Márcia se lembrou de que Paulo havia trabalhado na casa dela como eletricista na mesma época do assassinato de Bianca.
Caso Bianca tramita em segredo de Justiça
Por se tratar de um crime contra a dignidade sexual, a investigação que apura o estupro e a morte de Bianca tramita em segredo de Justiça. Segundo o Ministério Público de Minas Gerais, o sigilo é garantido pelo Código Penal, e, por essa razão, não é permitida a divulgação das lacunas que levaram o órgão a pedir a reabertura do inquérito.
A Polícia Civil não esclareceu ao Super Notícia quais serão os próximos passos da investigação e informou, em nota, que “em momento oportuno repassará demais informações”. O advogado criminalista Rafael Pereira esclarece que o segredo de Justiça “é uma maneira de preservar a imagem e a intimidade de vítimas de crimes tão cruéis, como o estupro”. Além disso, a medida “evita a revitimização, expondo detalhes do caso que podem afetar diretamente a vítima, principalmente quando o crime envolve crianças”, diz Paulo Crosara, advogado especialista em ciências criminais.