Canecão Mineiro, Boate Kiss e Museu Nacional do Rio de Janeiro. Episódios de incêndio de grandes proporções que, embora tenham ocorrido em tempos e em locais distintos, possuem, em comum, um mesmo problema: irregularidades para o funcionamento. Situações que podem até mesmo ter sido provocadas pela falta do auto de vistorias do Corpo de Bombeiros. O documento, que precisa ser renovado a cada três anos, é o que garante que a estrutura não tem risco de incêndio ou possui os equipamentos necessários para apagar as chamas e salvar vidas em caso de um acidente.

"É esse documento que verifica as condições de segurança em situações de incêndio e pânico. Não ter ele significa dizer que aquele imóvel não está preparado para situações de emergência", explica o engenheiro Clémenceau Chiabi Saliba Júnior, do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de Minas Gerais (Ibape-MG). Conforme a legislação mineira, toda edificação de uso coletivo, seja residencial, comercial, industrial, ou de outra natureza, deve ter o AVCB.

No episódio do incêndio em um galpão de uma empresa de montagem de estruturas, no bairro Cachoeirinha, na região Nordeste de Belo Horizonte, que teve início durante a noite de terça-feira (11), o espaço também estava sem o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB). O fogo destruiu o telhado do galpão, e os bombeiros precisaram montar uma operação de guerra, com 13 viaturas e 48 militares, para combater as chamas. O trabalho durou mais de 10 horas.

Casos em BH

  • Galpão com peças de ônibus

Um galpão com peças de ônibus no bairro Cachoeirinha, na região Nordeste de Belo Horizonte, pegou fogo no dia 28 de março de 2023. O local estava em situação irregular, devido a falta do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB). O fogo comprometeu a estrutura, e o galpão precisou ser interditado devido ao risco de desabamento.

  • IEMG

O Instituto de Educação de Minas Gerais (IEMG) estava em processo de regularização do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) quando foi atingido por incêndio no dia 22 de março de 2023. A escola, que é uma das mais tradicionais da capital mineira, fundada em 1906, precisou ser evacuada quando as chamas iniciaram, no intervalo entre as aulas do período matutino.

Sem alarme de incêndio, os professores e funcionários precisaram gritar para que os estudantes deixassem o local. Ao menos 36 pessoas precisaram ser socorridas e encaminhadas ao Hospital João XXIII, na capital. 

  • Othon Palace

O hotel Othon Palace, tradicional em Belo Horizonte, estava sem o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB), quando foi atingido por um incêndio no dia 24 de fevereiro de 2023. O documento ainda estava em fase de regularização, quando toda a estrutura do hotel foi tomada pela fumaça provocada pelas chamas que iniciaram no terceiro andar.

O fogo começou durante a manhã, e só foi contido durante a tarde. O trabalho mobilizou 20 militares e quatro viaturas. Os bombeiros faziam o uso de máscaras, e revezavam para entrar no prédio.

Casos em Minas e no País

  • Museu Nacional no RJ e museus em MG

O incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em 2018, alertou as autoridades públicas de Minas Gerais. Isso porque, na ocasião, apenas 15 dos 31 dos espaços museológicos cadastrados no sistema informatizado do Corpo de Bombeiros no Estado possuíam comprovante de que a edificação tinha condições mínimas de segurança contra chamas. À época, um dos imóveis que estariam irregulares era o Museu da Moda de Belo Horizonte.

  • Boate Kiss

O incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria, no interior do Rio Grande do Sul, em 2013, motivou a criação de uma nova lei federal, conhecida como a Lei Kiss, que entrou em vigor em 2017. A tragédia, que provocou a morte de 242 pessoas e deixou mais de 600 feridos, escancarou a fragilidade nos critérios de segurança em casas noturnas e exigiu uma resposta dos legisladores.

O episódio fez com que fossem estabelecidas normas mais rígidas sobre segurança, prevenção e proteção contra incêndios em estabelecimentos de reunião de público em todo território nacional. 

  • Canecão Mineiro

O incêndio no Canecão Mineiro, ocorrido em 2001, matou sete pessoas e deixou ao menos 197 feridas. O fogo teve início durante um show pirotécnico. As chamas atingiram  placas de isopor que forravam o teto e causaram o incêndio. 

A casa não tinha saídas de emergência e havia 1.500 pessoas no local. As saídas do local tinham catracas, que dificultaram a fuga  do público.