Se o isolamento social em Belo Horizonte fosse totalmente interrompido, o número de mortes por Covid-19 na cidade poderia ser pouco mais de dez vezes maior até o dia 1º de agosto, em relação ao número esperado se o isolamento se mantiver no patamar atual.
Considerando a taxa de isolamento mais recente divulgada pela prefeitura, de 49%, prevê-se que, em agosto, o município some 154 óbitos, número que passaria para 1.574, se a mobilidade voltasse a patamares habituais em BH. Mesmo com uma queda menor da taxa de isolamento, passando de 49% para 40%, o número de mortes em agosto duplicaria, chegando a 218.
Isso considerando uma taxa de mortalidade de 0,6% para a doença. Com o isolamento corrente, em agosto haveria quase 25,7 mil pessoas doentes, contra 36,3 mil, em um cenário com isolamento constante de 40%, e 262,4 mil, sem isolamento algum. Estendendo a previsão para o dia 1º de setembro, pode haver quase 1 milhão de casos, se o isolamento for totalmente banido — somando 961,8 mil —, e 5,8 mil mortos.
Os cálculos são do professor do Departamento de Estatística da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Luiz Henrique Duczmal. Após publicar um artigo provando matematicamente a ineficácia de um possível isolamento vertical, ele trabalha em análises de cenários para a cidade caso o distanciamento aumente ou diminua.
O professor apresentou alguns dos resultados durante um seminário online promovido pelo Departamento de Estatística nesta quarta-feira (20). Com capacidade para 100 participantes, a sala lotou poucos minutos depois de ele iniciar a apresentação.
“É hora de aumentar o isolamento. Infelizmente, essa pandemia é muito perversa, algo sem precedentes. É melhor esperar para flexibilizar, porque não estamos com tendência de redução do número de casos, mas de ligeiro aumento”, justifica. Ele lembra que as possibilidade mostradas são cenários hipotéticos, considerando taxas constantes de isolamento. Na prática, esses valores costumam oscilar e aumentar aos finais de semana, por exemplo.
Por ora, o professor se posiciona contrário à possível flexibilização do funcionamento do comércio na cidade a partir de 25 de maio, possibilidade levantada pela prefeitura.
Para chegar aos cenários possíveis em BH, Duczmal leva em conta o atual número de registros de internações por suspeita de Covid-19 na cidade e já considera o uso de máscaras pela população em todos os cenários — o que ele estima reduzir o contágio da doença em três vezes.
Por enquanto, como mostram os dados de monitoramento da prefeitura, o número médio de transmissão por infectado na cidade é 1,2. Ou seja, cada pessoa doente pode infectar mais de uma outra, o que quer dizer que a pandemia continua com tendência de crescimento. Isso só é revertido a partir do momento em que a taxa fica abaixo de um.
Além de analisar cenários de diminuição do isolamento, Duczmal estuda o que aconteceria se ele fosse reforçado. Aumentando a taxa para 60%, haveria menos 43 mortes do que com a taxa de 49%: 111, em vez de 154. Em um caso extremo, com isolamento de 99%, os óbitos cairiam para 67 até o dia 1º de agosto.
“Quanto maior o isolamento, mais rapidamente a gente consegue sair desse cenário. O que acontece é que, para a vida voltar à normalidade, temos que chegar a zero caso, e isso só vai ser possível quando houver vacina ou tratamento eficaz. Infelizmente, não tem escapatória: mesmo com isolamento bastante forte, vamos demorar vários meses para reduzir a quantidade de infectados a ponto de ficar seguros na rua”, avalia o professor.
Ele reforça a possibilidade da adoção do isolamento intermitente, quando determinados setores funcionam com mais restrições ou menos ao longo do tempo, conforme os indicadores de saúde na cidade, algo que a Prefeitura de Belo Horizonte já declarou considerar para o futuro.
Mais professores do Departamento de Estatística da UFMG vão apresentar análises e estudos sobre a Covid-19 nas próximas semanas. Os encontros acontecem às 14h das quarta-feiras, em link disponibilizado no site.