A declaração do governador Romeu Zema (Novo), nesta terça-feira (17), de que a serra do Curral será “intocável”, mesmo com a exploração de minério na região, foi criticada por ambientalistas e por representantes da sociedade civil ouvidos por O TEMPO. Especialista sugere até que o político retorne para a sala de aula.

Em entrevista ao Bom Dia Minas, da Rede Globo, Zema disse que a mineração no local compreende uma “atividade fora da serra do Curral, que não afetará a serra”. O governador destacou que o “monumento de Belo Horizonte nunca será alterado”. 

O urbanista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Roberto Andrés criticou o argumento de Zema e deu uma sugestão. “O governador precisa voltar para a aula de geografia. Tanto ali é serra do Curral que o dossiê de tombamento da serra do Curral inclui aquela área, então não tem o que dizer”, afirmou.

O docente também fez outras colocações abordando os impactos da mineração para rebater o posicionamento de Zema. “Ele não respondeu quando questionado sobre o estudo de risco hídrico desatualizado. O projeto consta que passa do lado de uma adutora da Copasa que abastece grande parte da região metropolitana. Ele foge da pergunta de maior risco à população”, prosseguiu.

A exploração de minério na serra do Curral não se justifica com os argumentos da administração estadual, conforme analisa Andrés. “O Estado está tentando tapar o sol com a peneira, mas a população não vai aceitar. Não é com desculpa e fugindo das perguntas que o governador vai convencer ninguém. As pessoas não querem mineração na serra e não adianta fingir que não tem irregularidade”. 

O engenheiro do Fórum Permanente São Francisco e morador da região do Taquaril, em Belo Horizonte, Euler Cruz, reforça que a serra é uma só. “Você pode chamar um cachorro de cachorro ou de dog, a Serra do Taquaril é a parte da Serra do Curral. A parte que será minerada está colada no pé do Pico Belo Horizonte, que é tombado, e pode fazê-lo desmoronar”, frisa.

Nome relacionado à ocupação

Ambientalistas explicam que a diferenciação entre Serra do Curral e Serra do Taquaril é administrativa, cultural, social e política, e está relacionada à ocupação daquele território pelo ser humano. 

“A formação geológica completa leva o nome de Serra do Curral, que compreende toda a região do que chamamos de Quadrilátero, da Serra da Piedade, em Caeté, a Itatiaiuçu, no Centro do Estado. Ao longo do caminho essa formação terá outros nomes, que são locais ou regionais, o que é o caso da Serra do Taquaril, como está denominada a porção de Nova Lima. Pode ter o nome que for, o desenho visual que for, mas é originária da mesma formação geológica, que abrange também as serras da Moeda e do Gandarela”, ressalta a ambientalista e pesquisadora do projeto Manuelzão e do movimento Tire o Pé da Minha Serra, Jeanine Oliveira. 

Já o texto da Tamisa, que também reconhece que a divisão está relacionada à denominação oficial, foi escrito por consultoria contratada pela empresa para elaborar o Relatório de Impacto do Projeto (Rima) - documento que, junto com o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), é de apresentação obrigatória no processo de licenciamento ambiental de empreendimentos de mineração no estado de Minas Gerais.