Risco à saúde

Servidores da Fhemig protestam contra falta de equipamentos de proteção em BH

Trabalhadores da saúde e do setor administrativo da Maternidade Odete Valadares estão em paralisação nesta sexta-feira (15)

Por Rafaela Mansur
Publicado em 15 de maio de 2020 | 12:33
 
 
 
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Trabalhadores da saúde e do setor administrativo da Maternidade Odete Valadares, em Belo Horizonte, estão realizando uma paralisação nesta sexta-feira (15). Eles protestam contra a falta de equipamentos de proteção e o não afastamento de profissionais que pertencem ao grupo de risco para a Covid-19, entre outros problemas.

De acordo com o Sindicato Único dos Trabalhadores da Saúde de Minas Gerais (Sind-Saúde), quando a maternidade recebe pacientes com suspeita ou confirmação de coronavírus, eles são transferidos para outras unidades. Ainda assim, os profissionais têm contato com essas pessoas.

“O principal ponto é a falta de equipamentos de proteção individual, principalmente máscara e capote. Vários trabalhadores denunciaram, inclusive, o uso de máscara de pano, comprada com o dinheiro deles próprios. Muitos também estão trabalhando com roupa de casa, o que não pode”, afirmou a diretora executiva do sindicato, Neuza Freitas. Segundo ela, 30% dos profissionais da unidade estão trabalhando durante a paralisação.

“Tem também a questão de transporte dos pacientes, que está sendo feito de forma inadequada. Os pacientes com suspeita ou confirmação de coronavírus têm que ser transportados em uma ambulância equipada e preparada para isso, e o trabalhador que faz o transporte tem que estar totalmente paramentado, o que não está acontecendo”, diz Neuza. “Colocam os profissionais e os pacientes em risco”, completou, ressaltando que houve casos confirmados de Covid-19 entre os profissionais da unidade. 

O técnico de enfermagem Francisco de Assis, que atua há mais de 20 anos na Maternidade Odete Valadares, diz que tem diabetes e pressão alta e, portanto, pertence ao grupo de risco para a Covid-19, mas não foi afastado pela Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), responsável pela unidade. “A Fhemig está exigindo relatório, a gente apresenta, e mesmo assim não afastam, apenas transferem para um setor com que a gente não está acostumado. Eu fui transferido para a central de esterilização de material, mas ainda há risco”, disse.

A técnica de enfermagem Gesliane Germano conta que os profissionais da saúde estão recebendo duas máscaras cirúrgicas por plantão, que dura 12 horas. “O ideal seriam quatro. Os funcionários do administrativo têm usado máscara de pano. Às vezes, nós, que estamos na linha de frente, estamos recebendo máscara artesanal que a Fhemig recebe de doação. Não é adequado, porque não fornece proteção”, afirma. “Eu fico receosa porque tenho criança em casa, porque meu filho fica com minha mãe, que é do grupo de risco. Fico preocupada de pegar a doença e passar para os meus familiares”, completa. 

Outras demandas

Os trabalhadores da Maternidade Odete Valadares também protestam em prol de demandas gerais dos servirores de saúde da Fhemig. 

“A principal reivindicação é a extensão da gratificação, concedida somente para a categoria médica, aos demais trabalhadores da saúde. Pedimos também a inclusão de representação dos trabalhadores da saúde na comissão de combate ao coronavírus e também o afastamento daqueles que pertencem ao grupo de risco”, disse a diretora executiva do Sind-Saúde, Neuza Freitas.

Os servidores também pedem a manutenção dos leitos de psiquiatria do hospital Galba Velloso – a unidade vai receber pacientes itnternados em hospitais da Fhemig que não estejam com Covid-19.

Respostas da Fhemig

Em nota, a Fhemig informou que a denúncia de falta de máscaras e capotes "não procede". Segundo a Fundação, há máscaras para todos os trabalhadores, sendo cirúrgicas para a assistência e de TNT para trabalhadores do setor administrativo. "A Maternidade segue protocolo da Fhemig de uso racional de EPIs para que não haja desperdícios e nem falte futuramente. Se a máscara de qualquer trabalhador for danificada, ele pode trocar quantas vezes for necessário", disse a nota.

De acordo com a Fhemig, os servidores do grupo de risco dos setores administrativos "se encontram em teletrabalho ou afastados de suas atividades, seja por meio de férias regulamentares, férias prêmio ou afastamento" e os servidores assistenciais do grupo de risco "foram realocados em funções que permitem exercer suas atividades administrativas ou também foram destinados a realizarem teletrabalho". Os demais foram realocados ou afastados, segundo a Fundação.

Conforme a Fhemig, "o transporte de pacientes suspeitos e confirmados de coronavírus está sendo feito adequadamente, em ambulância exclusiva, recentemente adquirida, com EPI adequado".

Sobre a extensão da gratificação de emergência para todos, a Fhemig informou que foi aberto um chamamento público para a contratação emergencial de diversos profissionais como médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e fisioterapeutas. Com exceção dos médicos, em todas as demais categorias houve interessados e classificados superior às vagas existentes, "uma vez que o salário da Fhemig nestas categorias é bem superior à maioria dos hospitais públicos e privados". "No entanto, as vagas de médicos não foram preenchidas, já que os processos seletivos existentes na rede pública e privada oferecem vagas com remuneração superior à praticada pela Fhemig. Assim, houve a necessidade da equiparação do salário dessa categoria à existente no mercado", diz a nota.

Segundo a Fhemig, a gratificação foi criada para "haver isonomia entre os servidores ativos e os novos contratados que atuarão exclusivamente nos setores destinados atendimento de pacientes com Covid-19".

Em relação aos leitos psiquiátricos, a Fhemig declarou que "foi identificada a possibilidade da transferência temporária dos pacientes do Hospital Galba Velloso para o Instituto Raul Soares, pertencente à mesma rede e que atua na mesma linha de cuidado, ou seja, não haverá ruptura ou qualquer mudança na assistência".

A Fhemig informou que "considera inoportunas as manifestações sindicais que impactam na rotina assistencial das unidades e, consequentemente, no atendimento aos pacientes que precisam de dedicação e efetividade em seus tratamentos". Segundo a Fundação, não houve impacto assistencial na Maternidade Odete Valadares com a paralisação.

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