Um vídeo mostra parte da fiscalização feita às estruturas da mineradora Vale interditadas pela Agência Nacional de Mineração (ANM) na Mina de Fábrica Nova, em Mariana, região Central de Minas Gerais. O objetivo era verificar as condições de três pilhas de estéril que, se desabassem, atingiriam um dique de água e sedimentos, o que poderia ameaçar o distrito de Santa Rita Durão.
O distrito de Santa Rita Durão, em Mariana, na região Central de Minas Gerais, não deve ser evacuado. A decisão, segundo apurou O TEMPO, foi tomada após uma vistoria da Agência Nacional de Mineração (ANM) descartar, inicialmente, a possibilidade de transbordo de um dique, que… pic.twitter.com/tSd1zDwfPZ
— O Tempo (@otempo) November 14, 2023
Inicialmente, os trabalhos de fiscalização na segunda-feira (13) não constaram anomalia aparente que apresente risco iminente da estrutura das pilhas de estéril Permanente 1, Permanente 2 e União Vertente Santa Rita. Com isso, as autoridades não devem recomendar a evacuação do distrito. Os trabalhos serão concluídos nesta terça-feira (14 de novembro).
O Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração (PAEBM) da mina indica que 295 pessoas estariam na Zona de Autossalvamento (ZAS) e poderiam ser removidas de casa.
Detalhes sobre pilha estéril
Pilhas de estéril são estruturas compostas por materiais que não têm "aproveitamento industrial", em meio ao processo de extração do minério, explica o professor de engenharia hidráulica Carlos Martinez, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Esse material é separado a seco, com pouca umidade.
O professor compara, visualmente, o processo a uma pirâmide ou a uma montanha. "Você cria montanhas com o material retraído da extração do minério de ferro. Esse material, que tem baixa concentração de ferro e outros minerais, é jogado ou em uma barragem de rejeito, ou em uma pilha de estéril, que é como uma montanha", explica.
Interdição
A interdição das pilhas de estéril da Vale, na Mina de Fábrica Nova, foi determinada pela ANM, que alegou ausência de comprovação de estabilidade das estruturas, que "circundam" (rodeiam) um dique de contenção de água. O dique é uma estrutura de proteção, colocada para reter o material que possa cair das pilhas, como mecanismo de segurança.
O problema seria se houvesse um deslizamento massivo da pilha de estéril. "O efeito é como uma criança pular dentro de uma piscina de lona. A água vai sair para todo lado. E, neste caso, a onda pode atingir quase 300 pessoas", explica o professor Carlos Martinez. O dique possui 6,7 metros de altura e 62.000 m³ no reservatório. Ou seja, o vilarejo seria inundado com o equivalente a cerca de 60 piscinas olímpicas.
Resposta da Vale
Procurada pela reportagem, a Vale garantiu que "não há risco iminente atrelado às pilhas de estéril da mina de Fábrica Nova, em Mariana (MG), assim como não há a necessidade da remoção de famílias". A mineradora também alegou que "a pilha de estéril é uma estrutura de aterro constituída de material compactado, diferente de uma barragem e não sujeita à liquefação".
A mineradora também afirmou que o "dique" que seria ameaçado por eventual queda das pilhas de estéril é de "pequeno porte" e "tem declaração de condição de estabilidade positiva". "A Vale reitera que a segurança é um valor inegociável e que cumpre todas as obrigações legais. A Vale continuará colaborando com as autoridades e fornecendo todas as informações solicitadas", completa.