Após morte

Yellow acorda com BHTrans estudo para redução da velocidade de patinetes

Empresa também deverá dar treinamento para usuário em Belo Horizonte

Por Alex Bessas, Fransciny Alves, Franco Malheiro e Letícia Fontes
Publicado em 09 de setembro de 2019 | 20:20
 
 
 
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Primeira pessoa a sofrer acidente fatal quando usada uma patinete elétrica compartilhada no país, a morte do empresário e engenheiro Roberto Pinto Batista Júnior, 43, em Belo Horizonte, no último final de semana, reacendeu e acirrou o debate sobre a segurança desses veículos. Agora, a redução da velocidade do equipamento nas primeiras viagens de usuários novatos, juntamente com ações educativas, é a principal linha de frente emergencial para garantir a segurança dos usuários.

A criação de um sistema capaz de garantir que os dispositivos alcancem menores índices de velocidade quando utilizados por novos usuários foi discutida em reunião nesta segunda-feira. No encontro estavam representantes da administração municipal, da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) e da empresa responsável pela operação de patinetes na capital.

O prefeito Alexandre Kalil (PHS) lamentou a morte do belo-horizontino e defendeu que se tenha serenidade neste momento, pois, para ele, ainda não há boas experiências de regulamentação em outras cidades. “Em São Paulo, obrigaram a ter capacete e isso foi suspenso pela Justiça. E, em Recife, uma decisão simples fez que eles (as empresas) retirassem as patinetes de lá”, justificou. 

Kalil, que em julho vetou integralmente o projeto de lei que versava sobre o uso de patinetes elétricas aprovado pela Câmara Municipal, lembra que a BHTrans desenvolve estudo para que se possa chegar a uma melhor forma de regulamentação do modal na cidade. “Nós estamos com muita pressa, mas pra fazer correndo eu prefiro não fazer”, pontuou. 

Críticas

Autor do projeto que teve veto de Kalil acolhido pela Câmara na última terça-feira, o vereador Gabriel Azevedo (sem partido) também se solidarizou à família da vítima. Ele criticou duramente a prefeitura. “Em abril de 2018, protocolei o projeto de lei aqui. A patinete chegou aqui em janeiro desse ano. Ou seja, a questão está ai a muito tempo”, queixou-se. 

“A primeira medida que o prefeito devia fazer é demitir o presidente da BHTrans, que pelo jeito ele não está vivendo em BH para não ver que a cidade está cheia de patinete e bicicleta”, acusou. Azevedo cita que a proposição apresentada por ele previa que as empresas compartilhassem com a prefeitura dados dos usuários, permitindo a criação de mapas de calor capazes de indicar regiões que demandariam por ciclovias. 

Também assinalando pesar pela fatalidade, Wesley da Autoescola (PRP), que preside a comissão de transportes da Câmara, expôs que, apesar de a proposta de Azevedo ter sido aprovada por unanimidade em dois turnos, os parlamentares acolheram o veto do executivo diante do entendimento de o projeto era inconstitucional.

Já o vereador Jorge dos Santos (Republicanos) chegou a pedir um minuto de silêncio em luto pela fatalidade. Ele também tem um projeto de lei que obrigaria as empresas a fornecer capacetes aos usuários. Azevedo, todavia, discorda. “Vai ter patinete com capacete pendurado de quantos tamanhos? As cabeças têm dimensões variadas”. 

Medidas emergenciais

Por meio de nota, a BHTrans informou que se reuniu com diretores e presidente da Grow, empresa responsável pela operação dos patinetes elétricos da Grin e da Yellow em BH. Na ocasião, foi acordado que a empresa realizará uma avaliação técnica sobre a possibilidade de reduzir “velocidade do equipamento para as primeiras viagens de usuários novatos”. 

A Grow “também irá desenvolver um extenso programa de treinamento para os usuários de patinetes na capital, combinado com uma campanha de divulgação de informação”.

Mini-entrevista com Alexandre Kalil

O senhor acredita que a patinete pode ser a solução para cidades com grande trânsito?

Sim. É só o poder público não meter o nariz, não atrapalhar; e regulamentar com inteligência e calma, sem demagogia. As soluções que estão querendo dar já foram dadas e fracassaram. Então, nos deixem tentar algo diferente, algo que vai dar certo, se Deus quiser.

Há prazo para solução?

Nós estamos com muita pressa, mas, para fazer correndo, eu prefiro não fazer.

O cidadão precisa ter responsabilidade, e vamos tomar essa fatalidade para a gente avisar a filhos, netos, família que é aconselhável usar capacete para andar patinete e bicicleta. Coisa que eu, pessoalmente, não faço, mas vou pensar em fazer daqui pra frente. 

Empresa vai prestar apoio à família

Por meio de nota, a Yellow manifestou “pesar e solidariedade com os familiares de Roberto Pinto Batista Jr que sofreu um acidente fatal ao trafegar com uma patinete em BH no último sábado”. A empresa diz estar em contato direto com a família de Roberto “para prestar todo o apoio possível neste momento” e também com autoridades “para ajudar a esclarecer de que forma este acidente ocorreu”.

A Yellow lembra que os equipamentos são de uso individual, que os usuários devem ter mais de 18 anos e devem sempre usar o capacete bem preso à cabeça e ajustado adequadamente. A empresa reforça que não se deve conduzir bicicleta ou patinete se houver ingerido álcool ou enquanto estiver manuseando celular ou usando fone de ouvido.

Uso de equipamentos de segurança negligenciado aumenta risco

Ainda que não exista estatística oficial sobre os acidentes envolvendo usuários de patinetes, há, entre os profissionais da medicina, uma percepção consensual de que houve aumento no número de casos desde o início das operações da modalidade na capital mineira, em janeiro deste ano.

De acordo com o cirurgião geral do trauma no hospital João XXIII, Bruno Vergara, a falta de equipamentos de segurança e a velocidade das patinetes são os fatores para os acidentes. “Nunca vi usarem (capacete). Há muitos ciclistas que não usam também, talvez por acreditarem que não há risco”, observa.

De fato, a reportagem de O Tempo flagrou ontem quatro jovens andando de patinete na região Centro-Sul da capital. Nenhum deles usava equipamento de segurança.

"É como andar de bicicleta, ninguém usa capacete. É normal. A diferença é que agora as pessoas estão andando na rua. A cidade não tem estrutura para isso. É um meio de transporte, mas não tem como usar. As calçadas são irregulares, não tem local apropriado”, justificou o advogado André Mattos, 34, que costuma utilizar as patinetes durante o intervalo de almoço.

Crianças. Uma outra irregularidade flagrantemente comum é o uso desses dispositivos por crianças. De acordo com norma do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), o modal é restrito a pessoas com mais de 18 anos. 

No bairro de Belvedere, região Sul da capital, uma babá, que preferiu não se identificar, comentou que é orientada pelos pais de duas crianças a leva-las para “passear e brincar nas patinetes”, principalmente nos fins de semana. Ela reconheceu que nenhuma das meninas usa equipamentos de segurança e que é corriqueiro ver outras crianças da vizinhança conduzindo esse tipo de veículo por lá.

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