Nascido em 7 de agosto de 1958, Paul Bruce Dickinson era persona non grata para o maestro do coral de Oundle, na Inglaterra, do qual fazia parte no fim de década de 60. Ironias da vida. Aquele garoto, reprovado na prova obrigatória de canto por volta de 10 anos de idade, era a mesma pessoa que, já com 23, iniciava uma prolífica carreira como frontman de uma das maiores instituições de heavy metal mundial, o Iron Maiden. Substituto de Paul Di’Anno, vocalista nos dois primeiros álbuns da Donzela de Ferro – “Iron Maiden” (1980) e “Killers” (1981) –, Bruce foi figura crucial para transformar o Maiden num gigante. Detentor de um vocal técnico e diversificado, se notabilizou pela veia operística, a facilidade em alcançar notas mais altas e os dotes como compositor. Graças a ele, obras como “The Number of the Beast” (1982), “Piece of Mind” (1983) e “Powerslave” (1984) se tornaram espécies de “bíblias” para vocalistas de várias vertentes do metal. Que o digam os da cena brasileira. Viper, Angra, Shaman, Tuatha de Danann, Shadowside, Tribuzy, Bruno Sutter e tantos outros artistas e bandas foram influenciados de alguma forma por esse que é rotulado como “um dos tenores do metal”. A dois dias de Bruce completar seis décadas de vida, o Magazine traz depoimentos de seus “discípulos” brasucas e mostra as várias facetas do “Air-Raid Siren”.
BRUNO MAIA (vocalista, guitarrista e flautista do Tuatha de Danann)
Elogios. “Creio que Bruce Dickinson seja um dos maiores vultos do heavy metal, um cantor que fincou um marco no estilo desde que apareceu. De lá para cá só fez história e influenciou gerações e mais gerações. Sua voz é inconfundível, suas linhas melódicas são de uma dramaticidade invejável e, além de tudo, o cara melhorou com o tempo. Hoje, já um senhor, canta mais que nos anos 80. Não bastasse suas aptidões vocálicas, Bruce é um grande compositor, vide suas obras no Maiden e em sua carreira solo. É uma peça rara no mundo, de uma inteligência dinâmica, incansável e desafiadora, um homem renascentista, multifacetado”.
Primeiro contato. “Meu primeiro contato com o heavy metal mesmo foi quando eu ainda morava em BH. Aos 9 anos, assisti na casa do meu primo ao clipe de 'The Trooper'. Foi mágico! Foi instantâneo, me metalizei daquele momento”.
Discos favoritos. “Do Iron Maiden, meus favoritos são 'Piece of Mind' e 'Seventh Son of a Seventh Son', e uma de minhas canções favoritas do repertório deles é uma de autoria do Bruce, a 'Flight of Icarus'; já em sua carreira solo, destaco todo o álbum 'Chemical Wedding', que é inspirado em William Blake e Alester Crowley, um álbum fantástico”.
EDU FALASCHI (vocalista, carreira solo, ex-Angra)
Inspiração. “Podemos considerar o legado do Bruce como um império. Há muitos ensinamentos. Primeiro, a qualidade vocal de um vocalista de heavy metal. Muitos cantores, como eu, tentaram melhorar suas performances se baseando no vocal do Bruce. A gente tentava se aprimorar, buscando aquele timbre, aquela interpretação. Um exemplo de grande vocalista. E o legado que ele deixa, além do lado vocal, é a performance: é um grande frontman, aquele cara com presença de palco e carisma. Temos exemplos de vocalistas que não têm um lado tão técnico mas que possuem presença de palco e carisma. E o Bruce tinha essas duas coisas. Um grande vocal e uma grande performance. Acho que isso o colocou num patamar fora do comum. E paralelamente a isso, é um cara superinteligente, estudioso, tem vários méritos como esportista e sabe bastante de história. Atuou até como ator em sua carreira, comandou programa de rádio. E é dono de uma companhia aérea, além de pilotar um avião gigantesco. Um ser humano especial mesmo”.
Amor à primeira ouvida. “Meu primeiro contato com o Bruce foi pelo Iron Maiden, obviamente, nos anos 80. Um primo, no Rio de Janeiro, me mostrou uns LPs do Iron, e lembro de ouvir na casa dele o 'Powerslave'. Fiquei admirando também aquela capa maravilhosa. E aí foi amor à primeira ouvida. Me apaixonei até demais, tanto que virei profissional do heavy metal. O vocal do Bruce naquele álbum, de cara, foi o que me chamou mais atenção. Lembro de ouvir aquelas notas altas e notas longas, além do vocal muito poderoso, muito bem colocado e impostação. Tudo me chamou atenção”.
Xodó. “Considero a melhor fase, a fase mágica do Iron Maiden, do 'The Number of the Beast' até o 'Seventh Son'. O 'Piece of Mind', para mim, é muito especial, ouvi muito aquele disco quando adolescente. A performance vocal dele é tão constante num alto nível que é difícil de escolher. No 'The Number of the Beast', no 'Piece of Mind' e no 'Powerslave' é absurdo a qualidade vocal, a técnica perfeita, as tonalidades altas, difíceis de alcançar. E tudo isso com bastante naturalidade. Mas talvez eu escolha o 'Piece of Mind' (como favorito), pois fez parte da minha vida de forma bem intensa”.
DANI NOLDEN (vocalista, Shadowside)
Influência. “A voz do Bruce Dickinson sempre me inspirou. Sempre foi um grande exemplo para mim desde que comecei a cantar. Tudo que se propõe a fazer é excelente. Parece que tudo que ele toca vira ouro. A energia que ele passa no palco é algo impressionante. É incrível que com a idade que ele está ainda consegue fazer um show mais intenso do que muita gente jovem e que está começando agora. Espero que eu tenha pelo menos um pouquinho essa energia quando eu tiver a idade dele. É realmente fenomenal vê-lo ao vivo”.
Melhores músicas. “Eu gosto muito do trabalho dele tanto no Iron Maiden quanto com a carreira solo. Dentre as favoritas, 'Tears of the Dragon' e 'Aces High', sendo que esta a gente tocava no começo da nossa carreira. E sem dúvida um dos pontos mais altos da carreira do Shadowside foi tocar com o Iron Maiden”.
ALÍRIO NETTO (vocalista, Khallice e Queen Extravaganza)
Diferenciado. “Meu primeiro contato com Iron foi logo depois do primeiro Rock in Rio (1985). A banda me chamou muita atenção exatamente por conta do Bruce Dickinson. Ele sempre me pareceu acima da média se comparado com outros cantores que a gente ouve. Me chamou atenção logo de cara. Ele está cada vez melhor. Consegue se manter cantando o repertório com uma baita energia ainda. Está entre minhas influências. O Khallice, minha banda de Brasília, abriu show para o Iron Maiden. E ver aquela performance de perto foi outro divisor de águas na minha vida”.
Destaques. “O 'Powerslave' foi o primeiro disco que comprei do Iron, onde tem os maiores clássicos (da banda). Acho que é o mais icônico. Gosto muito do 'Fear of the Dark', mas o 'Powerslave' é meu preferido. O 'Balls to Picasso' é o solo dele que mais curto”.
SETE OUTRAS FACES DO 'SÉTIMO FILHO'
Além de vocalista de uma das maiores bandas de heavy metal da história, Bruce Dickinson também chama atenção pelo talento em outras áreas. Ao longo de sua história, mostrou aptidões em pelo menos sete outras áreas.
1- Iniciou a carreira de esgrimista em 1971, na Boarding School,
2- Piloto de avião por décadas – incluindo, comandante do avião do Maiden – fundou sua própria empresa de manutenção de aeronaves e treinamento de pilotos em 2012, a Cardiff Aviation.
3- É formado em história na Universidade Queen Mary, de Londres (também é doutorado em música).
4- Foi apresentador do programa Friday Rock Show na BBC 6.
5- Possui um lado ator, tendo participado, por exemplo, da série de TV “Paradise Club”.
6- Co-escreveu o roteiro do filme “Chemical Wedding”, sobre a vida de Aleister Crowley.
7- Mestre cervejeiro, trabalhou em 2013 na cervejaria “Robinson’s”, que se aliou ao Maiden para lançar a cerveja The Trooper.