Prestes a voltar às novelas na pele da vilã Dalila, em “Órfãos da Terra” – próximo folhetim das seis que estreia no dia 2 de abril, na Globo –, a carioca Alice Wegmann, de 23 anos, que foi destaque em “Onde Nascem os Fortes”, fala sobre o novo trabalho e a carreira e também aborda questões como machismo.

Você tem uma carreira em ascensão. Em 2018, foi muito elogiada por sua atuação em “Onde Nascem os Fortes”. Qual o balanço que você faz da sua trajetória até hoje?

Felizmente eu tive muitas possibilidades, foram personagens diferentes uma da outra, e isso me deixa muito feliz, porque explorei muita coisa e quero explorar cada vez mais. A Maria de “Onde Nascem os Fortes” foi uma personagem que realmente me marcou muito. Como diz o Gilberto Gil, “o tempo é uma seta para frente”, e acho que vem mais por aí. A Dalila certamente é um personagem muito especial, e espero que todos gostem muito dela. 

Na trama, Dalila é uma mulher mimada, a queridinha do pai, o sheik Aziz Abdallah (Herson Capri). Por isso ela faz tudo o que quer?

Ela estuda em Londres, então acho que tem um pouco da visão ocidental. Mas a questão da Dalila é que as leis, por exemplo, valem muito mais para os outros do que para ela. Dalila pode, digamos assim, fazer o que quiser, mas os outros, não. Então tem um pouco disso, um pouco dessa safadeza, desse abuso de poder em relação aos outros. 

Ela é apaixonada por Jamil, personagem do Renato Góes. Como ela vai tentar atrapalhar o romance dele com a Laila (Julia Dalavia)?

O problema da Dalila é que, além de amar muito o Jamil, ela fica muito obcecada por ele e vai até o fim para conquistar esse homem. Por isso, ela realmente faz mau uso do poder e de todas as coisas que ela já aprendeu com o pai, com a religião dela, com a cultura dela. Ela não sabe muito lidar com esse amor, com essa paixão, e por isso fica muito complicado para ela lidar com toda essa situação de o Jamil ser apaixonado pela Laila, que está prometida em casamento para o pai da Dalila. Então, acho que ela tem o ciúme e a inveja dos dois lados, pelo pai e pelo Jamil. 

Como é participar dessa novela, que fala de refugiados, em um momento tão delicado como o que estamos vivendo? 

É muito especial, é uma responsabilidade muito grande que a gente tem. É muito delicado também, porque é um assunto que mexe com muita gente, que poderia envolver qualquer um de nós. É realmente muito difícil falar de todas essas questões, e estamos fazendo uma novela das seis, que muitas vezes não permite ir tão fundo assim. Mas eu acho que estamos tratando de assuntos densos, da melhor forma possível, para atingir, para tocar todos os corações que a gente puder. E para as pessoas se identificarem com as histórias, pra entender o que a gente está falando de amor, de humanidade, de empatia, de todos os sentimentos que todo mundo tem dentro de si. Queremos aflorar esses bons sentimentos dentro das pessoas, a gente quer recuperar esses sentimentos que a acha que estão um pouco escondidos, talvez, no Brasil. 

O que você tem aprendido com essa novela?

É muito legal quando a gente adentra um universo que a gente não conhece. Eu tive medo de fazer essa novela quando me chamaram. Primeiro, porque eu não sabia se eu tinha a ver com o perfil da personagem, e depois porque eu não conhecia muito da cultura árabe. Então, eu falei: “Como eu vou contar uma história de uma cultura que eu não conheço?”. Se foi difícil pra mim fazer uma nordestina – a Maria, de “Onde Nascem os Fortes” – , como que eu vou fazer uma muçulmana que mora no Líbano e estuda em Londres? Eu realmente falei: “Caramba, vai ser um superdesafio pra mim”. E foi e está sendo, e acho que é muito engrandecedor, e é isso que me dá o brilho nos olhos na profissão. Adentrar cada vez mais um universo que a gente não conhece, se descobrir e descobrir cada vez mais o outro, isso me emociona de verdade.

A cultura árabe causou algum estranhamento em você?

Causa estranhamento porque é muito diferente do que a gente está acostumado aqui no Brasil. Eu luto muito pelo direito das mulheres aqui, acho que as mulheres têm que ter liberdade para fazerem o que elas quiserem. São debates infinitos e que a gente precisa começar a pensar sobre isso, pensar sobre o mundo todo. Mas, assim como a gente precisa pensar sobre o mundo de lá, a gente precisa pensar no nosso país também. Porque aqui no Brasil um estupro acontece a cada 11 minutos. A gente precisa pensar no que está acontecendo aqui. Não tem muito machismo aqui também? Vamos falar sobre isso aqui também? Vamos colocar essa pauta? A gente precisa bater cada vez mais nessas teclas. As vezes as pessoas falam “ah, é mi-mi-mi”, “esse assunto é repetitivo”. Então porque ainda tem mulher morrendo? Porque tem tanta taxa de feminicídio? Parem de matar as mulheres, parem de matar a gente. O machismo é ruim em todos os lugares, a gente tem que lutar para combatê-lo em todos os lugares do mundo. Isso é um problema universal. 

Para você, a morte de Marielle Franco, há um ano, fomentou ainda mais o discurso contra o machismo e o outros tipos de preconceito?

Marielle foi uma mulher muito especial, que lutou muito pela gente. Acho que precisamos lutar por ela, por todas as mulheres desse país e por todas as pessoas do país.