Com a direção do cineasta Salvador Calvo, o filme espanhol "Adú", lançado neste ano e disponível no streaming Netflix desde o fim de junho, é um soco no estômago – mas um soco necessário. Apesar de o nome fazer referência apenas ao protagonista, um garotinho de 6 anos, o longa-metragem segue basicamente três narrativas, que se encontram em pouco menos de duas horas.

Na sinopse de "Adú", que traz ótima interpretação de Moustapha Oumarou, o intérprete do protagonista, e uma fotografia impecável, apesar de uma cena dispensável, com um horrendo efeito especial, o streaming Netflix apresenta o filme destacando apenas que "uma criança faz uma jornada sofrida", que "um pai reencontra a filha" e que "um policial é atormentado pelo sentimento de culpa". Mas a história vai muito além! O longa-metragem, por meio dessas três narrativas, mostra alguns gritantes problemas sociais – problemas, inclusive, já conhecidos do público, como a imigração africana, mas que, infelizmente, acabam despercebidos no dia-a-dia. 

Primeiro: "Adú" narra a história de três policiais que atuam na fronteira entre a Espanha e o Marrocos. E, durante uma tentativa de os marroquinos cruzarem essa linha, quase uma faixa de gaza, um dos guardas acaba matando um homem. Com isso, os tiras serão investigados – e o resultado desse processo não tem segredo!

Segundo: Gonzalo trabalha para uma ONG que busca preservar a vida dos elefantes no Camarões. Porém, a prepotência dele, aliada ao desprezo pela comunidade onde atua, uma comunidade carente da África, faz com que seu trabalho não renda bons frutos. Além disso, ele enfrenta uma relação difícil com a filha, que está viciada em drogas e vai passar uns dias com ele.

Terceiro: Adú, personagem que dá nome ao filme, na companhia da irmã Alika, testemunha o assassinato de um elefante. Por conta disso, a mãe deles é friamente assassinada, forçando-os a fugir da aldeia. Pelo caminho, o garoto de 6 aninhos terá mais perdas do que conquistas, mostrando que a vida, quando é desprovida de qualquer que seja o privilégio, é tiro, porrada e bomba. E, às vezes, não sobra tempo nem mesmo para chorar e cicatrizar as feridas!