“Tô relendo minha lida, minha alma, meus amores; tô revendo minha vida, minha luta, meus valores; refazendo minhas forças, minhas fontes, meus favores; tô regando minhas folhas, minhas faces, minhas flores”. De 2005, a canção “Meu Jardim”, do celebrado belo-horizontino Vander Lee (1966-2016), ganha nova conotação neste 2020 e é atualizada pelo contexto de uma pandemia, em que ficar em casa é uma das formas mais eficientes de cuidar de si.
Este forçado recolhimento implicou, para o cantor, compositor e multi-instumentista Mauricio Tizumba, na revisão da lida cotidiana, dos modos de vida. Claro, tudo isso enquanto “tô limpando minha casa, minha cama, meu quartinho”, como diz a música, que ele logo lembra - e não é à toa: acontece que, entre as reflexões, os afazeres domésticos, as conversas e os novos projetos, o músico tem cantado com frequência as criações do repertório de Vander Lee.
No sábado (6), a partir de 20h, Tizumba divide com o público toda essa cantoria. Em seu canal no YouTube e em seu perfil no Instagram, simultaneamente, ele dedica uma live ao parceiro de palco e de histórias. Detalhe que o próximo álbum do músico, que já estava em pré-produção e foi interrompido pela emergência de saúde, é justamente uma homenagem à obra do compadre. “Eu estava preparando para, em março, começar para gravar um disco com as músicas dele. Mas, chegou a pandemia, fui para casa e passei a ficar quieto, cantando as músicas do meu parceiro”, comenta.
Nas redes sociais, Tizumba dividiu uma e outra de suas interpretações de Vander Lee com seus seguidores. Logo vieram os pedidos de bis. “Então, eu pedi licença e decidi fazer uma live para meu compadre, que tem uma obra linda, cheia de luz, de beleza, uma obra cheia de vida”, diz ele sobre o artista que, com quase 20 anos de carreira, deixou nove discos autorais e foi gravado por tótens da música brasileira, como Elza Soares, Gal Costa, Emilinha Borba, Maria Bethânia, Margareth Menezes, entre vários outros.
Amizade
A vontade de celebrar o repertório do compositor é antigo. “Logo que ele morreu, surgiu esse desejo, mas deixei adormecer, pensei que poderia até mesmo soar oportunista na época... Depois esqueci. Mas esse chamado foi acordado e em dezembro comecei a planejar esse novo trabalho”, comenta, lembrando que o álbum ficou agora para o pós-pandemia.
O prazer de Tizumba, algo que se fez perceber na conversa por telefone, não se restringe a cantar o repertório do amigo: é sensível que falar dele é também um deleite para o artista.
“Todas as letras são de poesias muito bonitas… Parece que as canções foram feitas para eu cantar, sinto que a minha interpretação cabe ao que ele fez. O que eu sinto quando canto as músicas dele é inexplicável”, garante o músico, que, ao lado de Zeca Baleiro e Chico César, realizou os shows de lançamento do DVD "Vander Lee 20 anos", álbum que o artista deixou inacabado antes de falecer.
Tizumba e Lee foram parceiros musicais ao longo de toda a trajetória artística dos dois, desde o início, tocando em bares de Belo Horizonte, ou quando já reconhecidos, quando dividiam palco em eventos e festivais. “Chegou uma hora que eu brincava que nem poderia ir, porque eu estava sempre em todo show que vinha para BH”, recorda.
O repertório, que passeia por toda obra do compositor, traz canções como “A Voz”, gravada por Mauricio Tizumba no disco “Mauricio Tizumba no Mercado”, “Céu azulou”, composição de Vander Lee para o Grupo Tambor Mineiro, “Estrela”, gravada por Maria Betânia, “Do Brasil”, “Esperando aviões”, “Aversão brasileira”, “Iluminado”, “Galo e Cruzeiro”, “Desejo de flor”, “Músico de bar”, “Neném”, “Garota Shopping Center” além de “Amor de Pai”, composição de Laura Catarina, filha de Vander Lee.
Serviço:
O que. Live "Mauricio Tizumba canta Vander Lee”. Quando. Sábado (6), 20h. Onde. No canal de Tizumba no Youtube e no perfil dele no Instagram.
Link para contribuir financeiramente: https://bit.ly/tizumba.