O aço como matéria-prima, o concretismo como estética norteadora. Tendo esses pilares em mente, os designers Olavo Machado e Zanini de Zanine inauguram neste sábado, no terraço do Museu das Minas e dos Metais, a exposição “Revisões Concretas”, que fica em cartaz até 30 de setembro. Com curadoria de Pedro Lázaro, a mostra reúne obras concebidas exclusivamente para a ocasião: sofá, namoradeira, poltrona, chaise e redário. Todas confeccionadas a partir do aço, fazendo jus ao espaço no qual serão expostas.
Partindo do título da empreitada, Pedro Lázaro lembra que revisitar o movimento concreto, nesse caso, significa que a forma é, sim, importante, mas não a única preocupação.
“Ambos são designers culturalistas. A pesquisa deles no campo da estética é uma tradição e, aqui, a forma, apesar da rigidez, do significado construtivista e, sobretudo, da matéria que se propuseram a usar (o aço, ou seja, um material a princípio pesado e maciço), vêm repletos de poesia e de lirismo”, ressalta.
Exemplificando, Lázaro cita o caso específico do redário do carioca Zanini de Zanine (que, cumpre frisar, é filho do arquiteto e designer José Zanine Caldas).
“São duas placas de aço, com uma rede conectando-as. Tem coisa mais brasileira que pensar numa rede, no descansar após o almoço? É uma peça conectada ao nosso modo de vida, seja pela estrutura nômade dos pescadores, pelos nordestinos que, no passado, tinham que andar daqui pra lá, fazendo pousos inesperados. Um item que acabou repercutindo no resto do país, pelo conforto”, explica.
Ele cita também a namoradeira. “O brasileiro é, por tradição, namorador, ou, se não, adora uma prosa. Ao mesmo tempo, essa peça tem, por trás de sua confecção, um nível de rigidez, de formalismo, rigoroso. Há uma estrutura matemática para gerar esse equilíbrio”.
Pedro Lázaro lembra que, além do design em si, a própria matéria-prima é repleta de conteúdos socioculturais. “O minério de ferro, que substituiu o ouro e a prata como pilar da economia, é o que até hoje nos subsidia. Mas o ‘Revisões’ do título entra como uma estrutura filosófica, que faz com que cada peça da mostra seja carregada de elementos simbólicos, para além da matéria. Costumo dizer que é uma reflexão sobre a estrutura da matéria antes mesmo de ela existir, uma estrutura cultural, presente num pensamento anterior”, explana.
Agenda
“Revisões Concretas”. Terraço MM Gerdau (pça. da Liberdade). Até 30/9, de terça a domingo, 12 às 18h, e nas quintas, de 12 às 22h. Entrada franca.