Arroz, carne, legumes: que muitos pets preferem uma comidinha fresca à ração tradicional já não é novidade para ninguém. Porém, nem o mais “otimista” dos animais poderia sonhar que um dia teria um cardápio composto por “comida de boteco”, carnes nobres - como coelho e avestruz - e receitas preparadas por uma chef de cozinha profissional. Tudo isso faz parte do mercado de comida natural para animais de estimação, que tem movimentado a economia e garantido o faturamento de empresários de BH e outras regiões do país.
A empresa La Pet Cuisine, cujo nome é uma brincadeira com a língua francesa, escolheu a sofisticação e a pegada gourmet como forma de se diferenciar no segmento. O negócio nasceu em 2012, fruto da sociedade entre as irmãs paulistas Juliana Bechara Belo, médica veterinária, e Veridiana Noda Bechara, chef de cozinha. No e-commerce da dupla, pratos como avestruz com espinafre e abóbora (R$ 21,50) e cordeiro com grão de bico (R$ 23,60) fazem sucesso e garantem um ticket médio de R$ 250 por cliente.
“O que mais sai são os pratos congelados, principalmente pela praticidade. Mas também oferecemos suplementos e petiscos, como as carnes desidratadas e os muffins de gengibre. Também trabalhamos com cardápios personalizados, caso o animal tenha alguma restrição alimentar ou demanda específica. Dependendo da proteína escolhida e da quantidade de marmitas, uma encomenda pode chegar a R$ 2 mil por mês”, explica Juliana.
A comida natural faz parte de uma indústria em plena expansão no Brasil. De acordo com um estudo da Kantar, a categoria de comidas para pets cresceu 14% em 2024 em comparação ao ano anterior. Já o Instituto Pet Brasil e a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) estimam que a venda de alimentos industrializados movimentou R$ 40,8 bilhões no ano passado.
De acordo com Karina Roque, veterinária especializada em nutrição de cães e gatos, a alimentação natural traz vários benefícios aos pets - como a melhora do processo digestivo, o aumento da disposição e a perda de peso, uma vez que é possível controlar melhor a quantidade de carboidratos ingeridos. Além disso, também pode ser uma saída para pets que tenham múltiplos problemas.
“Se pensarmos em um animal que tem alergias e disfunção renal, por exemplo, não existe uma única ração que dê conta de tudo. Então, um cardápio personalizado com comida natural pode atender às necessidades que aquele pet precisa. Também podemos considerar os animais idosos ou com câncer. Há ainda a função preventiva, para evitar futuras doenças. É uma gama ampla que a alimentação natural pode atender”, explica.
Na visão de Juliana, sócia da La Pet Cuisine, esse mercado ainda tem muito a expandir. “Deu uma desacelerada nos últimos anos, pois muitos negócios abriram. Porém, ainda somos uma novidade em comparação à ração industrializada e conseguimos fidelizar o cliente que compra de forma recorrente, principalmente no online”, diz.
“Comida de boteco” para pets
Enquanto alguns apostam no nobre, outros miram na “comida raiz” para conquistar sua clientela. Designer gráfico de formação, o empresário belo-horizontino Delney Meireles fazia comida natural para o seus cães, passou a fornecer para amigos e parentes e, hoje, comanda a Banquete Pet, que fatura cerca de R$ 15 mil por mês com pratos dignos de botecos mineiros, como carninha de panela, coraçãozinho, moelinha e o risotinho de carne.
“O produto será consumido pelos animais, mas quem compra é o tutor. Então, nesse mercado, é preciso ser criativo e chamar a atenção. Essa brincadeira com os petiscos cria identificação com os mineiros e ajuda nas vendas, pois praticamente todo mundo adora frequentar um barzinho”, aponta.
Com quatro anos de mercado, ele atende cerca de 25 clientes fixos por mês, que assinam seus planos que variam entre R$ 234 e R$ 645, dependendo do número de marmitinhas escolhidas. Fornecendo apenas para a Grande BH, ele conta que seu processo ainda é bastante artesanal e ele próprio realiza as entregas nas casas dos clientes.
“Tem sido um crescimento lento, mas é o ideal para mim. Meu foco é fidelizar quem já está comigo e manter a qualidade dos produtos. Além disso, um dos grandes desafios é o alto custo do negócio, tanto que a maioria do meu público é A e B. São pessoas com maior poder aquisitivo e que podem investir nesse tipo de produto”, afirma.
Faturando até os ossos
Já a empresária Ana Flávia Diniz, sócia proprietária da Pet Naturau, encontrou no caldinho de ossos uma forma de expandir os negócios e fornecer seus produtos para outras regiões do país, principalmente São Paulo, já que a venda da comida natural é restrita para a Grande BH e outros itens podem ser enviados para fora do estado. A empresa produz cerca de quatro toneladas de caldo de ossos por mês, vendendo entre 800 e 1 mil unidades.
“O caldo se destaca por ser muito trabalhoso de fazer em casa e focamos principalmente na versão desidratada. É um produto prático, que não precisa de refrigeração e pode ser levado em viagens com o pet. Com a venda de todos os produtos que oferecemos, faturamos uma média de R$ 170 mil por mês”, revela.
É natural, mas não pode tudo
Apesar da alimentação natural trazer diversos benefícios aos pets, Karina Roque, veterinária especializada em nutrição de cães e gatos, alerta que alguns itens não podem ser consumidos pelos animais. Além da cebola e do alho, já conhecidos do grande público, cebolinha, alho poró, macadâmia também estão na lista de proibidos.
“Queijos e carnes gordas também não são recomendados, assim como açaí, carambola, alimentos com adoçantes artificiais, chás, café e leite. Algumas frutas, como manga, abacate, pêssego, ameixa, devem ser oferecidas sem o caroço e sem a casca. Não dê elas inteiras para o animal comer”, aconselha.