Produtores brasileiros de suco de laranja estão atônitos com o anúncio de uma sobretaxa de 50% sobre a exportação brasileira anunciada pelo presidente Donald Trump, e falam em risco de colapso no setor. O sentimento é o mesmo entre produtores de carne bovina, já que os Estados Unidos são o segundo maior comprador da proteína do Brasil.
O Brasil é hoje o maior produtor e exportador de suco de laranja do planeta, vendendo 95% de sua produção para o Exterior. Desse volume, 42% tem os Estados Unidos como destino. Segundo o diretor-executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), Ibiapaba Netto, a nova alíquota, se for levada adiante, representa um aumento de 533% nos tributos. "A recente imposição de uma tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada pelo governo dos Estados Unidos, coloca em risco o setor de suco de laranja brasileiro", afirmou o executivo.
Na safra 2024/25, encerrada em 30 de junho, os Estados Unidos representaram 41,7% das exportações brasileiras do produto, somando US$ 1,31 bilhão em faturamento, conforme dados da Secex consolidados pela CitrusBR. Essa nova tarifa, de acordo com a associação, representa um aumento de 533% sobre os US$ 415 por tonelada que já eram cobrados sobre o suco brasileiro.
Considerando a cotação atual da Bolsa de Nova Iorque, de US$ 3.600 por tonelada de suco concentrado, o peso tributário subiria para cerca de US$ 2.600, o equivalente a 72% do valor total do produto.
Segundo Ibiapaba Netto, essa condição acabaria inviabilizando as exportações para os EUA, com graves prejuízos para toda a cadeia. "Trata-se de uma condição insustentável para o setor, que não possui margem para absorver esse tipo de impacto. A medida também afeta empresas americanas que têm no Brasil o seu principal fornecedor de suco de laranja", disse o empresário.
Na prática, as consequências podem ser a interrupção de colheitas, desorganização do fluxo das fábricas e paralisação do comércio diante das incertezas.
Segundo a CitrusBR, a cadeia produtiva de suco gera cerca de 200 mil empregos diretos e indiretos no Brasil. "Trata-se de uma cadeia produtiva altamente interligada, que sustenta milhares de famílias. A CitrusBR entende a sensibilidade política e diplomática dessa medida, mas acredita que a escalada entre governos não é o caminho", disse Ibiapaba Netto.
A Europa é hoje o principal mercado do suco brasileiro, com 52% de participação nas exportações da safra 2024/25.
Na safra 2024/25, finalizada em 30 de junho passado, o volume destinado à Europa sofreu uma queda de 24% em relação às 495.602 toneladas da safra anterior. Apesar do recuo, o faturamento avançou 22,9%, passando de US$ 1,40 bilhão para US$ 1,72 bilhão.
No caso do Japão, os embarques recuaram 30%, passando de 27.668 toneladas para 19.356 toneladas, com aumento de faturamento de 26,3% (de US$ 86,2 milhões para US$ 108,9 milhões). A China apresentou a maior retração entre os principais destinos: as exportações caíram 63,2%, de 81.808 toneladas para 30.114 toneladas, com perda de receita de 27,2% (de US$ 142,3 milhões para US$ 103,5 milhões).
"Esses dois mercados, somados, são insuficientes para absorver os excedentes que ficariam sem destino caso o mercado americano seja comprometido. As consequências sobre a produção nacional, os empregos e a competitividade do setor seriam imediatas", afirmou Ibiapaba Netto.
No setor de carne bovina, o preço médio praticado é de US$ 5.732 por tonelada. Uma tarifa adicional implicaria um custo extra de cerca de US$ 2.866 por tonelada, o que levaria o custo total para algo próximo de US$ 8.600 toneladas, um nível praticamente inviável frente à concorrência, segundo representantes do setor.
A FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária) reagiu com preocupação sobre o assunto. Por meio de nota, afirmou que a medida "representa um alerta ao equilíbrio das relações comerciais e políticas entre os dois países".
"A nova alíquota produz reflexos diretos e atinge o agronegócio nacional, com impactos no câmbio, no consequente aumento do custo de insumos importados e na competitividade das exportações brasileiras", declarou a frente da bancada ruralista.
"Diante desse cenário, a FPA defende uma resposta firme e estratégica: é momento de cautela, diplomacia afiada e presença ativa do Brasil na mesa de negociações. A FPA reitera a importância de fortalecer as tratativas bilaterais, sem isolar o Brasil perante as negociações. A diplomacia é o caminho mais estratégico para a retomada das tratativas", afirmou a frente. (ANDRÉ BORGES)