O momento é de tensão para o comércio exterior em Minas Gerais, sob ameaça do tarifaço de Donald Trump. Já dentro das fronteiras nacionais, o cenário é outro, e o estado bateu um recorde de superávit de R$ 21,2 bilhões no comércio interestadual.
Esta é a segunda vez que Minas tem um superávit interestadual — isto é, exportou mais do que importou para outros estados — pelo menos desde 2015. A primeira foi em 2023, quando o valor foi mais discreto, R$ 1,8 bilhão.
Os números foram apresentados pela Fundação João Pinheiro (FJP) nesta terça-feira (15/7). Eles indicam, de acordo com o pesquisador da casa Lúcio Barbosa, um retrato positivo da economia mineira e especialmente da indústria estadual neste momento.
“De modo geral, podemos interpretar que é uma economia saudável, porque temos, ao mesmo tempo, um PIB que cresce, então as importações também cresceram, e as exportações cresceram ainda mais. Uma interpretação é que Minas Gerais tem uma indústria muito importante e, quando se compara a outros estados, muito mais relevante. Como a pauta de exportação e importação é majoritariamente formada por produtos manufaturados, mostramos que, com esse crescimento da economia, a indústria também ganhou dinamismo, passou a produzir mais e a exportar mais para os estados”, diz o especialista.
O setor com maior crescimento nas exportações interestaduais mineiras entre 2023 e 2024 foi o de veículos, partes e acessórios automotivos, que registrou um salto de 21,1% e representou 10,4% do total de vendas. O pesquisador Lúcio Barbosa destaca o papel da Stellantis, em Betim, nesse impulso. Em 2024, a fábrica na região metropolitana de BH bateu sucessivos recordes mensais de produção.
“Em termos de bens manufaturados, o setor de automóveis é o principal do estado. Ele demanda insumos do setor siderúrgico, então tem toda a cadeia metalmecânica, que é a principal cadeia produtiva do estado e tem certa capilaridade em diversas regiões. Eu entendo que esse setor deve ser olhado com muito cuidado e carinho, porque ele proporciona empregos de maior valor agregado e insere Minas Gerais na economia nacional e internacional em uma posição mais favorável quando se pensa em empregos de maior qualificação”, diz ele.
Na coletiva de imprensa de apresentação dos resultados, o governador Romeu Zema (Novo), destacou a importância do aumento de exportações interestaduais para a geração de empregos em Minas. “São produtos de valor agregado. Quase todos eles, produtos manufaturados, que são mais nobres, geram mais empregos e demandam mais investimentos”, pontuou.
Confira os produtos mais exportados por Minas para outros estados:
- veículos automotores, suas partes e acessórios (10,4% de participação);
- ferro fundido, ferro e aço (7,5%);
- máquinas e equipamentos mecânicos (7,1%);
- produtos farmacêuticos (6,7%);
- máquinas e equipamentos elétricos (5,4%).
Veja também os produtos mais importados por Minas de outros estados:
- veículos automóveis, suas partes e acessórios (13,2% de participação);
- máquinas e equipamentos mecânicos (10%);
- máquinas e equipamentos elétricos (6,9%);
- combustíveis minerais (6,5%);
- plásticos e suas obras (4,8%).
O maior parceiro comercial de Minas é São Paulo, estado para o qual os mineiros mais vendem e do qual mais compram. Mais da metade das trocas comerciais de Minas concentram-se no Sudeste.
Zema critica tarifa de Trump contra o Brasil: ‘injusta e precipitada’
Durante a coletiva da FJP, o governador Romeu Zema criticou a tarifa de 50% de Donald Trump contra o Brasil. “Na minha opinião, foi uma medida precipitada, injusta. Não houve um diálogo prévio, mas também houve erros por parte do governo federal em questionar um grande parceiro comercial do Brasil. Cliente bom a gente agrada e não desagrada”, declarou.
A primeira reação pública do governador ao tarifaço de Trump havia sido culpar “Lula, Janja e STF” pela decisão do norte-americano. Ele logo abrandou o tom, contudo, e passou a condenar também a postura dos EUA. “A taxação imposta pelo presidente Trump a produtos brasileiros é uma medida errada e injusta. Ela precisa, sim, ser revista porque penaliza todos os brasileiros: gente que votou contra e a favor do Lula; empresas que investem no Brasil e que nada têm a ver com disputas políticas e ideológicas. Defender a liberdade não pode significar atacar quem trabalha e produz no Brasil”, publicou nas redes sociais.