Com a febre do ‘morango do amor’, não foi só a fruta que virou item disputado por confeiteiras em todo o Brasil. A anilina vermelha, corante alimentício utilizado para colorir a calda de caramelo que cobre o doce, também provocou alta demanda nos mercados. Por causa disso, encontrar o corante virou um desafio. O produto, segundo confeiteiras, está escasso tanto nas lojas físicas quanto online.
A confeiteira Ângela de Almeida Oliveira Rufino conta que dois lugares onde costuma comprar corantes já não têm mais estoque. “Semana passada eu fui na Via Mel e na 1001 Festas. Na 1001 Festas tinha ainda, aí eu aproveitei e comprei. Arrependi de ter comprado menos, devia ter comprado mais, né? Porque essa semana já não tem”, relata.
Ela conta que deu sorte de ter comprado alguns tubos e ter achado alguns também em uma lojinha de bairro. “Eram os últimos da lojinha”, conta. Segundo ela, em uma das lojas que não tinha mais estoque, os vendedores informaram que todos os tipos de corante — líquido, gel e pó, este último o mais caro — já haviam sido vendidos. “São os mais difíceis de vender, até esses não estavam tendo”, diz.
Ângela começou a produção de morangos do amor no dia 13 de julho e vende a unidade, de cerca de 90 gramas, por R$ 10. O doce complementa a produção habitual de bolos e outros doces. Segundo a confeiteira, no dia que não tem eventos ou grandes encomendas, ela faz e vende cerca de 30 morangos do amor.
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Já o marido da confeiteira Roseli Rodrigues Galo passou por uma situação inusitada na loja de artigos de confeitaria. “Meu marido encontrou um corante só no Centro. Ele disse que ele pegou o corante e perguntou se dava para fazer também, porque era em pó. Ele me contou que ficava uma moça andando atrás dele e que, se ele dispensasse o pote em algum lugar, ela ia pegar, porque não tinha mais, era o último da loja”, relata.
Roseli conta que, além desse que o marido comprou, ela tinha alguns vidrinhos de corante em casa, que foram suficientes para a produção inicial, que começou na semana passada. Mas, até mesmo na internet ela teve dificuldade para encontrar. “Eu entrei ontem na Shopee, e não tem corante vermelho. Tinha corante em algumas lojinhas, eu entrava no corante, olhava, e o vermelho não tinha. Então, foram várias lojinhas assim. E a que tinha, o preço estava um pouco mais alto. Mas, no fim, eu consegui comprar, estou esperando chegar”, diz. A confeiteira, que trabalha com encomendas de bolos e outros doces, vende cada morango do amor por R$ 12.
Na loja do Rei do Amendoim, no bairro Santa Efigênia, região Leste de Belo Horizonte, a procura por anilina esgotou o estoque do produto na composição em gel em questão de dias. Por lá, o carro-chefe são os doces e as paçocas de fabricação própria, e os itens de confeitaria complementam o leque de produtos da loja. Como a procura por corante era baixa, o estoque disponível atendia apenas a demanda habitual. Segundo o gerente administrativo do local, Gabriel Oliveira, ainda há algumas unidades de anilina líquida. “O comércio não estava preparado para a alta do consumo e agora aguarda reposição pelas indústrias”, diz.
Morango 'anêmico'
Sem anilina, a confeitaria Momo fez uma produção inteira de morangos "anêmicos". A chefe de confeitaria Patrícia do Carmo Santos Silva conta que, na correria da produção, acabou esquecendo de botar o cortante na calda, e os morangos foram feitos apenas com o glitter dourado. O doce, que é vendido por R$ 15,90, como estava fora do padrão, foi oferecido com preço promocional de R$ 9,90. Nas redes sociais, a loja brincou com a aparência diferente e chamou de “morango do (des)amor”.
Mas, segundo Patrícia, a empresa também tem tido dificuldade para encontrar corante alimentício no mercado. “Não está sendo fácil encontrar anilina vermelha. Já está ficando difícil, viu? A demanda está sendo muito grande”, diz. Segundo ela, o preço da anilina também está mais alto. A Momo também compra morangos de um fornecedor da cidade de Barbacena, que também teve que reajustar os preços do morango por causa da alta procura. “A demanda deles também já está enorme. E os morangos deles são bem bonitos”, comenta.
Por lá, são fabricados pelo menos 2.000 morangos do amor por dia. Com alta procura nas lojas e nos canais de entrega por aplicativo, a produção é escoada com velocidade. “É questão de 15 minutos na vitrine”, diz Patrícia. A empresa iniciou a produção há apenas duas semanas.
Falta de anilina pode afetar outros doces
A falta de anilina no mercado pode afetar a produção de outros doces que também levam corante. Segundo Patrícia, se faltar corante vermelho, vai ficar difícil produzir os bolos red velvet da Momo. “Do jeito que está a demanda, pode impactar”, afirma.
Já Ângela compara a escassez de corante com a época de Natal, que também é um período de alta procura de corante vermelho. “Se eu tivesse tons de bolo para decorar que exigissem esse tom de vermelho escuro, com certeza afetaria. No Natal, geralmente esses corantes também ficam em falta. Então, está faltando mais que na época de Natal”, afirma.