O tarifaço de Donald Trump contra o Brasil começou a valer há uma semana e ainda causa dúvidas em setores direta ou indiretamente afetados pelas tarifas. Um dos mercados que observa com tensão os desdobramentos dos próximos meses é o de seguros, que pode sofrer com mudanças no futuro próximo.
Os seguros de exportação cobrem uma série de intercorrências que podem afetar a carga que sai do Brasil até o destino no exterior, como roubo, acidente de avião, caminhão ou navio, incêndios e outros acidentes que possam causar até perda total. Ele não é obrigatório, segundo a legislação brasileira, mas é previsto em alguns contratos entre comprador e vendedor. Esses combinados contratuais são chamados de Incoterms (International Commercial Terms, ou Termos Internacionais de Comércio). Nesses casos, o contrato pode prever que o seguro seja arcado pelo importador ou pelo exportador.
O tarifaço não incide diretamente sobre os seguros. O que muda com ele é a percepção de risco implicada nas exportações. Quanto mais arriscada é uma rota, mais caro tende a ser o seguro. Por isso, uma mudança de destino das exportações, por exemplo, pode afetar o preço cobrado pelas seguradoras, explica o superintendente de relacionamento comercial da REP Seguros, Marco Lopes.
Outros destinos podem absorver parte das exportações antes direcionadas aos EUA — Lopes cita países árabes e o Reino Unido, por exemplo. Com a substituição de rotas, surgem novos perigos, variantes e, assim, preços. “Essa mudança de trajeto muda também o risco e muda, consequentemente, o seguro que está sendo contratado. Além disso, existem questões relacionadas a valores de frete, a exposição ao risco de roubo, de incêndio, de deterioração ou de avarias das mercadorias. Tudo isso muda de acordo com a alteração de risco. Então, pensa, se você tem uma situação em que está exportando para um determinado país e passa a exportar para outro, onde a rota é mais longa e a mercadoria precisa ficar mais tempo no porto esperando, tudo isso influenciará o contrato”.
Ainda é cedo para precisar os efeitos da mudança sobre o setor de seguros, pontua o diretor técnico, de estudos e relações regulatórias da Confederação Nacional da Seguradoras (CNseg), Alexandre Leal. Ele traça alguns cenários possíveis: “eventuais impactos colaterais podem ocorrer. Caso haja um recuo da atividade econômica em decorrência do aumento de tarifas e restrições impostas, pode haver uma redução na contratação de produtos relacionados, como seguros de crédito à exportação e demais modalidades voltadas aos setores afetados. Contudo, esse cenário pode ser atenuado caso haja substituição dos destinos das exportações ou adaptação das rotas comerciais por parte dos exportadores brasileiros”.
O eventual encarecimento dos seguros de exportação também pode ter reflexos no preço de alguns produtos no próprio Brasil, conjectura Marco Lopes, da REP Seguros. Ele exemplifica com o mercado de commodities, como o de grãos. “Com essa commodity sendo vendida para fora com um custo muito mais alto, ele deve ser repassado ao mercado interno de forma até bem rápida. Eu entendo que, obviamente, o aumento de custo do seguro relacionado à mudança do contexto de exportação devido às tarifas tende a ser repassado internamente, mas é difícil mensurar que somente isso gerará aumento de preços. É um dos fatores que estará agregado nesse contexto todo”, diz.
Resta ainda a esperança de que as medidas de socorro aos setores afetados pelo tarifaço desenhadas pelo governo federal aliviem custos. “O mercado está atento às medidas que o governo brasileiro vem preparando para aliviar os prejuízos para os exportadores nacionais. Caso essas ações sejam efetivas, poderão minimizar o impacto negativo sobre o setor segurador, contribuindo para uma maior resiliência frente às incertezas externas”, conclui o diretor técnico da CNseg, Alexandre Leal.