Crise

69% preveem que vão perder renda na crise, diz Datafolha

Preocupação é maior entre os mais pobres, mas parece ter alcançado rapidamente grupos que se sentiam mais protegidos no início da crise

Por Ricardo Balthazar (Folhapress)
Publicado em 08 de abril de 2020 | 13:26
 
 
 
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O pessimismo dos brasileiros diante da crise causada pelo coronavírus aumentou, e com ele cresceu o número de pessoas que têm a expectativa de que sua renda diminuirá com a paralisia da atividade econômica, de acordo com nova pesquisa feita pelo Datafolha na semana passada.

Segundo o instituto, 69% dos brasileiros preveem que seus rendimentos diminuirão nos próximos meses, e somente 30% acham que isso não acontecerá. Levantamento feito na última semana de março mostrou que 57% dos brasileiros temiam a perda de renda e 43% achavam que não corriam esse risco.

A preocupação é maior entre os mais pobres, mas parece ter alcançado rapidamente grupos que se sentiam mais protegidos no início da crise, aumentando de forma significativa entre os mais ricos, à medida que as consequências econômicas da epidemia começam a se tornar evidentes.

Entre os mais pobres, com renda familiar mensal de até dois salários mínimos (R$ 2.090), os que têm expectativa de redução da renda eram 61% e agora são 73%. Entre os mais ricos, com renda superior a dez salários mínimos (R$ 10.450), os que preveem ganhos menores eram 49% e agora são 67%.

O Datafolha entrevistou 1.511 pessoas por telefone celular entre quarta (1º) e sexta-feira (3). As entrevistas foram realizadas a distância e não presencialmente, para evitar o contato pessoal com os entrevistados. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.

De cada dez entrevistados, quatro disseram que teriam o suficiente para se sustentar por no máximo um mês se perdessem agora seus rendimentos. Segundo o Datafolha, 6% disseram que já não estão conseguindo se sustentar e 11% afirmaram que teriam dinheiro suficiente para menos de 15 dias.

O Congresso aprovou na semana passada a criação de um auxílio emergencial de R$ 600 mensais, destinado a trabalhadores de baixa renda no setor informal da economia. O governo promete efetuar os primeiros pagamentos até esta quinta-feira (9). A lei prevê que o benefício será pago por três meses (leia à pág. A16).

Medida provisória publicada na quarta-feira passada criou um programa para compensar parcialmente perdas dos trabalhadores do setor formal, que terão direito a pagamentos do governo se tiverem a jornada e os salários reduzidos na crise, ou o contrato de trabalho suspenso temporariamente.

Os resultados da pesquisa do Datafolha sugerem que o anúncio das medidas não foi capaz de conter a insegurança das pessoas diante do avanço da Covid-19. Segundo o instituto, 56% acham que a epidemia prejudicará a economia por muito tempo. No fim de março, 50% pensavam assim.

O pessimismo aumentou particularmente entre os mais ricos. Na última semana de março, 55% dos entrevistados com renda familiar superior a dez salários mínimos previam uma crise prolongada. Na semana passada, o bloco pessimista aumentou para 71% nesse estrato da distribuição de renda.

Também aumentou nos últimos dias o número de brasileiros que preveem perdas financeiras pessoais por muito tempo. Eram 28% os que pensavam assim na última semana de março. Agora, eles são 37%. A preocupação aumentou com a mesma intensidade entre os mais pobres e os mais ricos.

Na maioria dos estados, medidas tomadas pelas autoridades para conter o avanço do coronavírus levaram ao fechamento de escolas e estabelecimentos comerciais e impuseram o isolamento a grande parte da população, deixando mais claros para as pessoas os efeitos da paralisia da atividade econômica.

Na última semana de março, quando a implementação das medidas mais drásticas estava começando, 46% dos entrevistados pelo Datafolha disseram que poderiam continuar trabalhando em casa durante a quarentena. Na semana passada, somente 33% previam que conseguiriam continuar trabalhando.

De acordo com o Datafolha, a queda foi maior entre os mais pobres, com renda de até dois salários mínimos. No início do período de isolamento, 40% deles diziam que conseguiriam trabalhar. Na semana passada, somente 23% dos entrevistados no estrato de renda inferior tinham a mesma expectativa.

Apesar do aumento do pessimismo, a preocupação com os efeitos econômicos das ações de combate ao coronavírus não reduziu o apoio da população às medidas. Segundo o Datafolha, 76% concordam com a ideia de que o mais importante agora é ficar em casa para evitar que o vírus se espalhe.

O apoio à estratégia defendida pelo Ministério da Saúde e criticada pelo presidente Jair Bolsonaro é semelhante entre ricos e pobres. Mesmo entre os eleitores que votaram em Bolsonaro e dizem não se arrepender, 62% concordam com a ideia de que o combate ao vírus deve ser a prioridade agora.

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