O Conselho de Política Monetária (Copom), vinculado ao Banco Central do Brasil, anunciou uma nova alta da taxa básica de juros na noite desta quarta-feira (15). Agora, a Selic saiu de 12,75% para 13,25% – alta de 0,5 ponto porcentual, a 11ª consecutiva. É o maior patamar desde 2016. Mas, o que isso muda, necessariamente, na nossa vida? 

Primeiramente, é preciso entender os motivos alegados pelo Banco Central para definir esse novo aumento. Nos últimos 12 meses, o IBGE aponta para uma inflação de 11,73%. 

Portanto, a alta da Selic tem como objetivo frear essa alta geral dos preços tirando dinheiro da mão do cidadão. Mas, como? Simples: essa taxa serve como parâmetro para que os bancos estipulem seus juros.

Assim, quanto mais alta a Selic, mais caro o cidadão paga para acessar alternativas de crédito, como os financiamentos de veículos (1,98% ao mês, conforme a Bolsa de Valores) e casas, a própria fatura do cartão (223,47% ao ano na Caixa Econômica Federal) e o cheque especial. 

Conforme O TEMPO mostrou nas últimas semanas, o financiamento de carros seminovos populares, considerando somente o reajuste dos juros, ficou R$ 5 mil mais caro em um ano no Brasil. Quanto aos imóveis de padrão econômico, as altas consecutivas da Selic provocaram um encarecimento de R$ 100 mil nos mesmos 12 meses.

A interpretação do Banco Central é que a inflação é puxada por uma crise entre oferta e demanda. Por conta da pandemia da Covid-19, há menos produtos disponíveis para compra. Com a explosão da demanda diante do retorno das atividades presenciais, os preços, evidentemente, aumentam. 

Outra explicação apontada pelo Banco Central é o aumento do preço das commodities por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia. Por exemplo, a cotação do barril de petróleo cresceu, o que fez o brasileiro pagar mais caro pelo combustível diante da política de Preço de Paridade de Importação da Petrobras (leia mais sobre ela aqui).

Fenômeno parecido acontece com os grãos. Rússia e Ucrânia são produtores dessa mercadoria, o que diminui a oferta mundial e aumenta o preço. 

O Banco Central também justifica o aumento como alternativa para atrair investidores estrangeiros e valorizar o real ante o dólar. 

Especialista opina

Entendidas as justificativas do Banco Central, é preciso saber se elas realmente são válidas. Para o economista Gelton Pinto Coelho, vinculado ao Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), as explicações para onerar o bolso do cidadão não fazem sentido. 

"A taxa de juros de curto prazo está muito acima da taxa de juros de longo prazo. Isso significa uma curva de rendimentos com inclinação negativa. É uma anomalia", diz Gelton. 

Para ele, o mercado financeiro pode estar tentando antecipar uma queda da atividade econômica, o que reduziria a inflação e a Selic nos próximos anos. 

"O problema dessa explicação é que ela pressupõe que a inflação atual é produzida por excesso de demanda agregada. Os números do mercado de trabalho (geração de empregos) e as previsões de crescimento pífias para 2022 (1,5% no PIB) não permitem endossar essa interpretação", alega o economista. 

Uma outra interpretação levantada por Gelton é a já citada pela reportagem: a alta no preço das mercadorias após a pandemia e a invasão da Ucrânia pela Rússia causam uma explosão da inflação. 

"Esses choques de oferta podem se dissipar nos próximos anos com a normalização da cadeia de suprimentos pós Covid-19 e o fim da guerra na Ucrânia. Nesse caso, a inflação vai cair mesmo sem a elevação draconiana de juros feita pelo Banco Central desde março de 2021. Nesse caso, a elevação dos juros terá servido apenas para transferir renda de toda a sociedade brasileira para os rentistas”, afirma o especialista.

CDL se posiciona

Em nota, a Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) informou que "os reflexos (da alta da Selic) podem ser baixa produtividade, alta inflação, desemprego e diminuição da renda em circulação". 

"O impacto no comércio também pode ser negativo, pois o crédito junto aos bancos ficará mais caro para lojistas e empresários. Nessa situação, o comerciante precisa repassar a diferença para o consumidor. Isso se torna um efeito dominó onde produtividade, investimentos, consumo e vendas são simultaneamente prejudicados", posicionou-se a CDL/BH.