Moradores de Pedro Leopoldo, na região metropolitana de Belo Horizonte, reuniram-se em um movimento em prol da instalação da fábrica da cervejeira Heineken no município, embargada por determinação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Eles argumentam que as regras para impedir a construção não estão claras e que o impedimento da construção da fábrica traria prejuízos econômicos ao município.
“A cidade estava precisando de um empreendimento de volume, porque passa por dificuldades há algum tempo. A notícia da chegada da Heineken gerou um impacto positivo desde o início, o mercado imobiliário mudou, o ambiente de negócios da cidade foi outro. Agora, qualquer iniciativa espera ver o que vai acontecer com a Heineken”, diz o empresário Chrystofer Sales, 35, um dos organizadores do movimento #euqueroaHeinekenaqui, que reúne cerca de 40 pessoas, de acordo com ele. Eles planejam uma manifestação em Lagoa Santa, em frente à sede regional do ICMBio, para a próxima semana.
Na perspectiva do movimento, as normas que levaram ao embargo da obra não estariam claras. A Heineken conseguiu licenciamento ambiental da Secretaria de Estado de Meio-Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) para construir a fábrica, dois meses após formalizar o pedido. O ICMBio, porém, avaliou que as informações apresentadas pela empresa sobre o eventuais impactos que a obra poderia causar nos sítios arqueológicos da região não foram totalmente esclarecidos, e exigiu maior detalhamento.
Nesta semana, a empresa conseguiu, na Justiça, o direito de recomeçar as obras, mas afirmou que as manterá suspensas até chegar a um entendimento com os órgãos ambientais. “A tratativa tem que ser mais rápida. Tenho certeza de que os cuidados foram tomados pela empresa, que tem selo verde de desenvolvimento e não quer briga”, pondera Sales.
A previsão inicial da empresa é investir R$1,8 bilhão na instalação da fábrica, que poderia contar com 350 empregos diretos em Pedro Leopoldo. A própria prefeitura da cidade faz campanha, com outros prefeitos da região, pela permanência do empreendimento no local.
‘A Heineken é bem-vinda, mas precisamos de estudos’
“Entendo que a cidade precisa de empregos. A Heineken é bem-vinda, mas precisamos de estudos. As regras para instalação de empresas em regiões como aquela são claras. São caras, porque precisam ter um estudo de tudo ao redor dos sítios arqueológicos, mas são claras”, avalia a professora do departamento de Arqueologia e Antropologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Maria Jacqueline Rodet.
Ela diz que o trabalho de identificação de possíveis danos da instalação de um empreendimento do porte da fábrica da Heineken em Pedro Leopoldo demandam meses e precisam ser detalhados, sob risco de colocar em perigo o conhecimento de milênios de história. O crânio de Luzia, o fóssil humano mais antigo encontrado nas Américas, com mais de 11 mil anos, foi encontrado nos anos 70 na região. Em estruturas geológicas frágeis, os sítios ainda preservam pinturas rupestres milenares.
“O crânio de Luzia, que sobreviveu ao incêndio do Museu Nacional, foi o que lançou Pedro Leopoldo no mundo. É fácil destruir o que esses povos deixaram, porque não estão mais aqui para contar a história deles. Mas essa história é importante, ela conecta o Brasil com o mundo”, conclui.