Aposentar-se precocemente é cada vez mais coisa do passado. E dados do Sistema Único de Informações de Benefícios (SUIBE), da Previdência Social, confirmam essa tendência no Brasil. No primeiro semestre deste ano, o número de concessão de aposentadorias caiu 4,24%. Passando de 580.664 nos primeiros seis meses de 2013 para 556.045 em igual intervalo deste ano. A menor concessão tem uma relação no recuo dos pedidos. Menos pessoas foram ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) solicitar benefícios neste ano até junho frente ao mesmo período de 2013. A queda nos requerimentos foi de 9,78%.
 

Para o presidente da Federação dos Aposentados e Pensionistas de Minas Gerais (FAP-MG), Robson de Souza Bittencourt, o motivo da procura menor pelo benefício está ligado ao fator previdenciário, que pode reduzir o valor da aposentadoria de 30% a 40%.

O fator previdenciário foi criado pela Lei nº 9.786, de 1999, em uma tentativa do governo federal de desmotivar as pessoas que desejam se aposentar por tempo de contribuição em uma idade precoce. E pelos números da Previdência, parece que o objetivo está sendo finalmente alcançado.

Ele ressalta que, além da influência do fator previdenciário, a aposentadoria tardia está relacionada com a perda da renda dos aposentados que ganham acima do salário mínimo, com reajustes que não são capazes de recompor o poder de compra. “Assim, as pessoas estão se aposentam mais tarde, no limite que é previsto em lei. Ou ainda, tem aqueles que pedem o benefício, mas continuam trabalhando para tentar manter o seu padrão de vida”, observa.

Sem aposentadoria. O funcionário público Waldir da Costa Vale, 59, é um dos que continuam no trabalho, mesmo tendo tempo de contribuição para parar. Ele conta que já poderia ter se aposentado pelo INSS há cinco anos e, há três, pelo Estado, que tem regime próprio. “Eu prefiro trabalhar, tenho forças para isso”, justifica. Ele disse que, se aposentar, seu rendimento será corroído, pois não terá o mesmo reajuste que tem seu salário na ativa. A regra no Estado é que aos 70 anos a aposentadoria é compulsória. “Tenho tempo ainda”, completa.

O funcionário público também teme, no caso de parar agora, não arrumar facilmente no mercado uma atividade que lhe dê uma renda complementar. “Muita gente pede a aposentadoria, mas continua trabalhando. Mas a realidade do mercado de trabalho hoje está diferente”, diz Vale.

É o caso do advogado Julio Avelar Santos, 77, que é aposentado desde 1984, mas continua trabalhando. “Antes de aposentar, a gente acha que vai descansar, passear. É uma utopia. Só com a aposentadoria do INSS não dá para viver bem. Com ela, pago o plano de saúde. E é só”, diz.

Para ele, a tendência é que as pessoas parem de trabalhar cada vez mais tarde no Brasil. Santos ressalta que o poder de compra da aposentadoria foi caindo com o passar dos anos, corroído pela inflação, que subiu mais do que os reajustes dos benefícios. “Hoje, o que ganho representa quase a metade na comparação com a época em que me aposentei, em 1984. Não dá para comprar o mesmo tanto de coisas que eu comprava antigamente”, observa o advogado.

Gasto com saúde é um dos maiores impactos na renda

O aumento dos gastos com saúde é um dos impactos mais expressivos sentido por quem se aposenta, segundo o advogado Julio Avelar Santos, aposentado, mas que continua na ativa. “E mesmo com plano de saúde, algumas vezes, é necessário pagar uma consulta particular”, observa.

O presidente da FAP/MG, Robson de Souza Bittencourt, frisa que os remédios passam a pesar mais na vida dos aposentados, além do aumento do valor do plano de saúde.

E o peso dos gastos com saúde não deu trégua, já que em julho, os planos de saúde individuais e familiares tiveram reajuste de até 9,65%. Esse aumento foi autorizado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).