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Preço de materiais de construção têm alta recorde e aumenta quase 40% em BH

Escassez de matéria-prima na indústria e alta demanda no mercado de reformas explicam aumento do valor, dizem representantes do setor

Por Gabriel Rodrigues
Publicado em 03 de junho de 2021 | 00:00
 
 
 
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Com aumento da demanda e escassez de insumos no mercado, o preço dos materiais de construção na Grande BH subiu 38,2% nos últimos 12 meses, maior alta para o período finalizado em maio desde a adoção do real no Brasil, segundo o Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG). Sem previsão de redução dos valores, a elevação ameaça o mercado imobiliário e dificulta o planejamento de quem pensa em reformar.

Passando mais tempo em casa com a família durante a pandemia, o contador César Barros, 54, planejava construir um sobrado, mas desistiu da ideia por causa da flutuação de preço dos materiais. “O serralheiro disse que não tinha como me dar um orçamento porque o preço sobe todo dia. Ele falou que eu poderia ir comprando as barras aos poucos na fábrica, se quisesse, porque no outro dia já teria aumentado”, diz. Agora, ele está reaproveitando uma piscina de outra propriedade que tinha e diz estar assustado com os preços de materiais: “Ontem mesmo eu paguei R$27 em argamassa, mas minha esposa achou por R$43 em outra loja”, diz.

Os aumentos são generalizados, de acordo com o Sinduscon-MG. Os vergalhões de aço aumentaram quase 128% em um ano, quase 55% só nos primeiros cinco meses de 2021. O valor dos fios de cobre também dobrou em um ano e o cimento subiu cerca de 48,5%. 

“Desde agosto, o preço dos materiais tem se elevado ainda mais, o que pressiona muito os preços das construções. Só em maio, o custo dos materiais subiu 3,54%, o maior aumento desde a adoção do real, e não existe previsibilidade de solução definitiva para o problema”, detalha a assessora econômica do Sinduscon-MG, Ieda Vasconcelos. 

A origem do problema tem mais de uma frente, desde a alta do consumo interno de materiais durante 2020 à retomada econômica de potências globais, explica o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Teodomiro Diniz Camargos. “No início da pandemia, as indústrias ficaram semi paralisadas e, quando o consumo não abaixou, perderam o estoque. Outra razão é que o dólar subiu bastante, e vários produtos da cadeia produtiva são ligados a ele, alguns diretamente, como o cobre. E, no mercado internacional, os planos de recuperação dos EUA e da China adotaram investimentos na infraestrutura, então houve pressão de aumento dos preços básicos da construção”, detalha. 

Para Camargos e Ieda Vasconcelos, do Sinduscon-MG, a solução para o alívio do mercado passa pela diminuição das taxas de importação de materiais, ao menos temporariamente. “O imposto de importação do ano, que hoje é de 14%, deveria passar para 4% por pelo menos seis meses, o que poderia gerar um choque de oferta”, exemplifica Vasconcelos. 

Depósitos diminuem margem de lucro, mas repassam alta a cliente

Mesmo com crescimento nacional de 11% e perspectiva de altas até 2022, o varejo de material de construção tem precisado reduzir a própria margem de lucro para não repassar todos os aumentos dos fornecedores aos clientes, segundo o presidente da Associação do Comércio de Materiais de Construção de Minas Gerais (Acomac MG), Flávio Gomes “O comércio tem absorvido parte dos aumentos, mas compensado isso com o volume de vendas, que estão aceleradas. Já é um chavão dizer isso, mas as pessoas começaram a reformar mais na pandemia, porque eram hóspedes em casa e agora são moradoras”, diz. 

Dona de um depósito de construção em Contagem, na região metropolitana de BH, Vânia Moreira, 52, conta que tem enfrentado aumentos diários de preço e precisado subir o valor para os clientes. “Alguns fornecedores nos entregavam material em 10, 15 dias e agora demoram dois meses. Quando chega, já é com outro valor. Alguns consumidores se assustam e pensam que nós é que aumentamos o preço. Mas isso não acontece só na nossa loja, todas passaram por aumento”, explica.

Emprego e imóveis ameaçados

A alta de preços pressiona o mercado imobiliário, segundo o Sinduscon-MG. Em BH e Nova Lima, nos últimos 12 meses, a quantidade de lançamento de apartamentos novos, 3.266 foi inferior à de venda de imóveis, 4.615. “Mais que paralisação de obras, pode haver aumento de preços dos imóveis. É impossível fazer um lançamento hoje com o mesmo valor de um ano atrás”, pontua Ieda Vasconcelos, assessora econômica do sindicato. 

Ela também lembra o impacto do preço dos materiais sobre a geração de empregos. No Brasil, a geração de empregos formais na construção civil passou de cerca de 44 mil entre janeiro e fevereiro para quase metade, 23,1 mil, nos dois meses seguintes. “Mão de obra e material são quase 97% do custo básico de construção”, diz a economista.

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