VAREJISTA

Ricardo Eletro vai abrir lojas em BH e Pedro Leopoldo após reverter falência

Varejista reabrirá unidades após três anos fechamento de todas as lojas no Brasil; até o final do ano serão 10 lojas abertas só em Minas


Publicado em 27 de janeiro de 2023 | 13:01
 
 
 
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Três anos após o fechamento de lojas em todo o Brasil, a Ricardo Eletro vai retomar a operação físicas nas próximas semanas. As duas primeiras lojas abertas serão no Centro de Belo Horizonte e na região central de Pedro Leopoldo, na região metropolitana. O projeto prevê as aberturas ainda no início de fevereiro, de acordo com o presidente do grupo Máquina de Vendas, responsável pela rede, Pedro Bianchi. Até o final do ano, ele projeta uma expansão para 10 unidades em Minas Gerais e mais 10 em outros Estados. 

A retomada das atividades da empresa já havia sido feita em novembro no e-commerce. A Justiça chegou a decretar a falência da Ricardo Eletro, por dívidas que somam cerca de R$ 4 bilhões com 17 mil credores. Entretanto, o processo falimentar foi revertido. Nas lojas físicas, o nome a ser adotado é ‘Nossa Eletro’. Conforme o CEO, o faturamento com a expansão será útil para pagar a dívida trabalhista com ex-funcionários, orçada em aproximadamente R$ 150 milhões. 

“É uma refundação da empresa que é genuinamente mineira. A gente ainda está estudando, mas vou focar em lojas de rua, não vamos ter lojas em shopping. Queremos ter lojas em bairros, quero dar atenção ao público que sempre foi fiel a Ricardo Eletro”, contou Pedro. Questionado sobre a localização da primeira loja a ser inaugurada em Belo Horizonte, Bianchi desconversou, mas indicou que o endereço pode ser em áreas populares e de grande circulação de pessoas no hipercentro. “Vai ser em uma rua com nome de um Estado brasileiro. Rua Curitiba, avenida Paraná, estamos mapeando vários pontos”, disse o CEO. 

Assim como no e-commerce, a empresa vai trabalhar com estoque próprio e de parceiros. A ideia é otimizar custos e evitar deixar dinheiro parado. “Já temos parcerias prontas com a indústria moveleira e de eletrodomésticos para que elas trabalhem junto conosco. A indústria vai deixar um modelo de mostruário à disposição. Quando vender, fatura direto para a empresa e a gente ganha comissão. Com isso temos uma vantagem porque ainda somos uma empresa pobre e não posso deixar dinheiro parado. Se eu fizer parceria, não empato o dinheiro, ganho comissão e reforço a marca”, projeta Pedro Bianchi. 

Inicialmente, as lojas terão um mix de produtos restrito a móveis e eletroportáteis. A oferta deve ser ampliada em compasso com o crescimento dos negócios. Em cada loja, a ideia é contar com cinco funcionários, entre gerentes, estoquistas e vendedores. Os salários, promete Bianchi, serão acima do mercado. “A remuneração variável (comissões) vai ser a melhor do mercado e a remuneração fixa também com valor acima porque quero, se a empresa gerar faturamento, que todos ganhem. Quero dividir a geração de riquezas da empresa”, ressaltou o CEO. 

Atualmente, para a operação das vendas online, a empresa conta com 40 funcionários. O site conta com 10 mil produtos e até o final do primeiro trimestre o planejamento é chegar a 30 mil. O número de vendas, entretanto, ainda é baixo: em torno de 35 a 40 por dia. “É muito incipiente, algo que está começando. Antes da falência estávamos faturando R$ 1 milhão por dia. Vamos voltar a isso. Mas agora tem todo um levantamento de algoritmo no Google, que demora e por isso nos três primeiros meses a preocupação foi para colocar a casa em ordem e não em ter mais vendas”, sinalizou. 

Para reforçar o projeto de expansão, a Ricardo Eletro tenta reverter um bloqueio de R$ 1,7 milhão, executado pela Justiça durante o processo de falência. Pedro Bianchi afirma que com o montante será possível acelerar a “abertura de lojas e contratação de pessoas”. “Acredito que vamos ter uma razoabilidade da Justiça”, ponderou o CEO. 

Laços com antiga gestão 

Preso e solto após ficar um dia na cadeia em 2020, sob a acusação de ter sonegado ao menos R$ 387 milhões em ICMS, o empresário Ricardo Nunes, fundador da Ricardo Eletro, não tem mais nenhuma ligação com a marca. Atualmente, ele atua como coach nas redes sociais e palestrante. Na descrição do perfil no Instagram, Nunes diz ser “o maior vendedor do mundo pelo Guinness Book”, cita que foi fundador da Ricardo Eletro e da R1 Business, além de oferecer cursos na área empresarial. 

“Não existe nenhuma ligação. O Ricardo Nunes não faz parte da gestão da empresa e do quadro de acionistas desde o final de 2019. Infelizmente no começo de 2020 veio a pandemia, fomos obrigados a fazer um corte no osso e agora estamos retomando, mas sem nenhuma ligação”, frisou o presidente do grupo Máquina de Vendas, Pedro Bianchi. 

Da liderança de mercado à falência 

Uma das líderes do mercado de varejo no Brasil por anos, a Ricardo Eletro se afundou em uma profunda crise. O ex-proprietário da marca, Ricardo Nunes, alcançou notoriedade e simpatia de personalidades como Luciano Huck, que foi garoto-propaganda da rede. A varejista chegou a empregar quase 30 mil pessoas e ter um faturamento anual em torno de R$ 10 bilhões. 

Foi em 2010 que surgiram os primeiros indícios de irregularidades na biografia do mineiro. Em março, uma fusão da Ricardo Eletro com a Insinuante criou a gigante Máquina de Vendas. Em setembro daquele ano, o auditor da Receita Einar de Albuquerque Pismel Júnior foi preso pela Polícia Federal flagrado com R$ 50 mil e US$ 4.000 em dinheiro vivo ao sair do escritório da empresa de Nunes, em São Paulo.

Segundo a Procuradoria da República, o dinheiro se tratava de propina. Em 2011, Nunes foi condenado a 3 anos e 4 meses por corrupção ativa pela Justiça Federal. A defesa recorreu, alegando inocência. O fato não impediu que, três anos depois, Nunes, aos 44 anos, entrasse na lista dos mais ricos da revista “Forbes”, com patrimônio estipulado em R$ 1,52 bilhão.

Mas a bonança não durou muito. Em 2016, porém, a queda no valor de mercado das empresas de Nunes o retirou da lista. Em 2018, a crise levou o grupo empresarial a pedir recuperação extrajudicial, que foi homologada em 2019, mesmo ano em que Nunes deixou a empresa. Já em 2020, a varejista entrou com pedido de recuperação judicial. 

Em junho de 2022, a Justiça chegou a decretar a falência da empresa, negando a solicitação. Na sentença, o juiz Leonardo Fernandes dos Santos afirmou que foi observada inviabilidade financeira da empresa e incapacidade de reorganização financeira. Ainda há argumento de esvaziamento patrimonial. 

Entretanto, dois dias após a decisão que encerraria as atividades da empresa, a Ricardo Eletro conseguiu reverter a sentença. À época, o magistrado que acatou o recurso da varejista alegou que uma eventual falência "poderá gerar danos irreversíveis, comprometendo o direito das agravantes", no caso as empresas do grupo. 

Denúncia no MP 

Ainda em junho de 2022, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) moveu uma ação contra Ricardo Nunes por sonegação fiscal. Segundo a Promotoria, ele e um antigo superintendente da empresa deixaram de recolher R$ 86,1 milhões à Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais (SEF/MG).

Segundo o MP, a dupla cobrava uma antecipação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de compradores do Rio de Janeiro, mas não repassava o dinheiro à Fazenda Pública. O valor é de 18.050.623,71 unidades fiscais de referência (Ufirs), o que corresponde a R$ 86,1 milhões atualizados pelo valor da Ufir em Minas hoje.

O superintendente exerceu a função na RN Comércio Varejista, ligada à Ricardo Eletro, de 21 de outubro de 2015 a 10 de maio de 2019. Já Ricardo Nunes renunciou à presidência da marca em 21 de outubro de 2015, mas, segundo o MP, "se manteve à frente da entidade até o ano de 2019, compartilhando o poder de decisão com o co-denunciado".

Os crimes aconteciam em dois endereços: um em Contagem e outro em Lagoa Santa, na Grande BH, segundo a Promotoria. Se a Justiça acatar o pedido do MP, Ricardo Nunes e o superintendente vão responder por 58 infrações. Cada uma delas pode gerar pena de seis meses a dois anos de prisão e multa, agravada de um terço à metade por ter ocasionado grave dano à coletividade.

(Com informações de Gabriel Ronan)

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