Até o fim de junho, a licença para a retomada das atividades da Samarco em Mariana deve ser liberada. De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Minas Gerais (Semad), a previsão de finalização da análise técnica e da deliberação é para o primeiro semestre de 2019. Mesmo se a licença sair, a mineradora só deve voltar a operar a partir do ano que vem. É que ela definiu que só vai reativar as atividades depois de trocar o sistema de disposição de rejeitos por um modelo mais seguro, que não utiliza barragem. A preparação já começou. Nesta quarta-feira (29), a Samarco anunciou o fim da primeira etapa das obras de adaptação da cava Alegria Sul.

Até 2015, a empresa extraía o minério de ferro dessa cava, no complexo de Germano, e depositava os rejeitos na barragem de Fundão, que se rompeu em novembro daquele ano, matando 19 pessoas e arrastando lama pelo rio Doce afora, de Mariana até o Espírito Santo. Quando a Samarco voltar a operar, em vez de ser o local de onde a mineradora vai tirar o minério, a cava Alegria Sul será o depósito de 20% dos rejeitos gerados da lavra da mina. Os outros 80% de rejeitos serão filtrados e empilhados a seco.

A primeira etapa da preparação da cava está pronta e custou R$ 180 milhões. A segunda etapa, com montagem eletromecânica dos sistema de bombeamento de lama, rejeito e água, já está em andamento. Ainda falta construir o sistema de filtragem, que custará R$ 300 milhões.

Por meio de nota, o diretor-presidente da Samarco, Rodrigo Vilela, destaca que “a proposta é voltar diferente, o que reforça nosso compromisso com as comunidades e toda a sociedade. Vamos voltar de forma gradual, inicialmente com 26% de nossa capacidade produtiva, operar sem barragem para disposição de rejeitos e por meio da incorporação de novas tecnologias, tendo a segurança como prioridade. Só voltaremos após a implantação completa da filtragem”, afirma Vilela.

A previsão é retomar no segundo semestre do ano que vem. Antes do rompimento, a Samarco tinha capacidade de produzir 30,5 milhões de toneladas de pelotas de minério por ano. A previsão é reiniciar com 8 milhões de toneladas de pelotas.

Atualmente, a empresa trabalha com cerca de 1.200 funcionários diretos e indiretos, em Minas e no Espírito Santo, menos da metade que os 3.000 contratados antes do rompimento da barragem de Fundão. Segundo a assessoria de imprensa da mineradora, o atual quadro será suficiente para a retomada gradual. O complexo de Germano, onde está a mina, possui três concentradores em Mariana. No Espírito Santo, estão quatro usinas de pelotização. A previsão é reiniciar com um concentrador e uma usina.

Antes da tragédia, a Samarco chegou a faturar R$ 6,4 bilhões no ano. De acordo com a assessoria de imprensa, as previsões para o futuro vão depender da cotação do minério, do dólar e do valor do prêmio da pelota.

Recursos vêm das sócias Vale e BHP

Sem atividade desde novembro de 2015, quando a barragem se rompeu, a Samarco conta com apoio financeiro das sócias Vale e BHP, que investiram R$ 480 milhões na implantação do sistema de disposição e tratamento de rejeitos em Germano. As duas também mantêm a Fundação Renova, criada para reparar os danos socioeconômicos e ambientais do rompimento. Até março deste ano, a Renova recebeu R$ 5,7 bilhões, mas está longe de resolver todos os problemas causados pela tragédia, conforme mostrou reportagem de O TEMPO nesta quarta-feira.