Segundo um relatório de 2018 do Fórum Econômico Mundial sobre o futuro do trabalho, 75 milhões de empregos deixarão de existir até 2022. Em contrapartida, 133 milhões serão criados. Algumas ocupações “do futuro” parecem distantes, como a de walker/talker, em que profissionais passam tempo falando com idosos por meio de uma plataforma online. Outras, como a de especialista em big data, que analisa grandes volumes de dados, já estão ganhando relevância.

Um estudo recente do Senai prevê, entre cinco e dez anos, o surgimento e a consolidação de 30 novas profissões em oito áreas. No setor automotivo, por exemplo, é esperada a criação de ocupações como a de mecânico de veículos híbridos. Na indústria têxtil, uma nova profissão será a de técnico de projetos de produtos de moda, que vai usar tecnologias para criar produtos customizados.

No segmento de tecnologias da informação e comunicação, várias novas ocupações devem ser consolidadas, como a de analista de internet das coisas – que conecta todos os itens da vida cotidiana. Segundo a pesquisa, profissionais com essa formação vão trabalhar em todos os setores.

“A indústria 4.0 pode ser uma oportunidade para o Brasil. O mundo inteiro tem que requalificar sua mão de obra e, se estimularmos esse processo, podemos nos destacar”, diz o gerente executivo de educação profissional e tecnológica do Senai, Felipe Morgado. A estimativa da entidade é de que o país vai precisar qualificar 10,5 milhões de trabalhadores em ocupações industriais até 2023.

Na área administrativa, a tecnologia e as transformações do mercado de trabalho também vão criar profissões do futuro, e os salários são atrativos. Uma pesquisa da Robert Half, empresa de recrutamento, aponta que os rendimentos podem chegar a R$ 26 mil. Entre as novas ocupações previstas, estão a de gerente de e-learning, que cuida dos treinamentos de cursos virtuais oferecidos pelas empresas, e o consultor de transformação digital, responsável pela migração para os meios digitais.

“As empresas e os profissionais devem se preparar e se adaptar o quanto antes. Flexibilidade, criatividade e adaptação prometem ser as palavras mais utilizadas no contexto profissional”, diz a gerente sênior de recrutamento da Robert Half, Flavia Alencastro. Segundo ela, é importante que as pessoas desenvolvam não só habilidades técnicas, mas também comportamentais. Algumas das mais importantes são inteligência emocional – que consiste em agir de forma empática – e pensamento crítico.

Sobram vagas para desenvolvedores de software

Enquanto 12,6 milhões de pessoas procuram emprego no país, 160 mil postos de trabalho na área de tecnologia da informação não possuem profissionais para ocupá-los em 2019, segundo estimativa do BrazilLAB. O estudo mostra que 75% das empresas têm dificuldade em recrutar profissionais de TI.

Na Michael Page, empresa de recrutamento especializado, a demanda por profissionais da tecnologia vem crescendo nos últimos três anos. “A tecnologia passou a entrar em vários segmentos, como o varejo, o e-commerce, os bancos, que estão olhando para os canais digitais, e as empresas que estão automatizando seu processo logístico. Mercados muito tradicionais começaram a se reinventar. A tecnologia deixou de ser uma área de suporte e passou a ser estratégica”, diz a consultora sênior da Michael Page, Luana Castro.

Segundo ela, em algumas áreas há muito mais vagas do que profissionais qualificados. “Temos tecnologias novas todos os dias. São poucos os candidatos que conseguem acompanhar esse movimento”, pontua. Luana afirma que, embora as empresas venham abrindo mão do ensino superior, profissionais com diplomas de faculdade de renome ainda têm destaque. “Mas a faculdade forma 30 pessoas por ano, e a gente tem em uma única empresa com 100 vagas por mês”, diz.

Na Sydle, especializada em produtos e soluções de tecnologia corporativa, com sede em Belo Horizonte, há quase 50 vagas disponíveis, a maioria na área de desenvolvimento de softwares. A companhia está com inscrições abertas para o programa de trainee. “É uma área que está muito em alta, a concorrência entre empregos está grande, e as vagas são muitas”, afirma a gerente de RH Alessandra Ravaiani,

Segundo ela, há, ainda, dificuldade de encontrar candidatos alinhados aos valores e à cultura da empresa. “Alguns profissionais, por verem que a demanda é alta, dão pouca importância para o processo a que concorrem. É importante pesquisar se a empresa está adequada ao próprio interesse profissional”, afirma. “Buscamos mais habilidades do que conhecimento técnico pronto. Consideramos muito a questão de o candidato ser colaborativo, ter facilidade de lidar com outras pessoas e novas tecnologias e ter proatividade”, pontua.