Eleições 2022

Lula reabre campanha em Minas Gerais em ofensiva contra ‘BolsoZema’

Em visita a Belo Horizonte neste domingo (9), ex-presidente alerta que “povo não é gado, mas promete relação republicana caso eleito seja


Publicado em 09 de outubro de 2022 | 17:43
 
 
 
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Após dedicar os primeiros dias da campanha em 1º turno a São Bernardo do Campo, Guarulhos e Campinas, o ex-presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retornou a Minas Gerais, neste domingo (9), quando visitou Belo Horizonte. Antecipada, a agenda foi uma resposta à passagem do presidente Jair Bolsonaro (PL) pela capital na última quinta (6). Ao lado do governador reeleito Romeu Zema (Novo), Bolsonaro foi recebido em uma solenidade da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).

Em coletiva à imprensa, Lula ponderou que Zema tem o direito de apoiar quem quiser. “Não me oporei e nem pensava que fosse diferente”, pontuou o ex-presidente. “A única coisa que ele tem que levar em conta é (se ele) pensar que o povo é gado. É pensar que o povo possa ser tangido pra lá e pra cá. O povo tem consciência do que está acontecendo no país”, acrescentou. 

A estratégia de Zema é tentar reverter a favor de Bolsonaro os votos “LuZema”. Dos 5,8 milhões de votos de Lula em Minas, apenas 3,8 milhões foram para o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD), o que sugere que ao menos 2 milhões foram para Zema. “É só tomar cuidado pra tratar o povo como rebanho, (mas) tratar o povo como cidadão de inteligência, consciente e sabedor do que quer”, afirmou Lula.

O ex-presidente, então, apontou que os eleitores podem comparar quaisquer quatro anos dos oito à frente da presidência com os quatro de Bolsonaro. “Se o governador souber 10% do que fizemos em Minas Gerais, ele terá um problema de remorso”, provocou. De acordo com Lula, entre 2003 e 2010, foram investidos R$ 260 bilhões em Minas, sendo R$ 208 bilhões em infraestrutura e economia urbana e R$ 50,9 bilhões em habitação. 

Por outro lado, Lula prometeu que, se eleito for, ajudará o Estado a concluir as obras do Hospital Regional de Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, cujo edital foi lançado em 29 de setembro. “Não conheço o governador Zema, mas sei que ele foi eleito governador do Estado em 1º turno. Pois bem, se eu for eleito, ou ele vai conversar comigo em Brasília ou venho a Belo Horizonte conversar com ele, porque a gente vai acabar esse hospital escola”, afirmou. 

Como já mostrou O TEMPO, uma das estratégias da campanha de Lula é sinalizar a Zema que não haverá retaliações caso o ex-presidente retorne ao Palácio do Planalto. “Quando você é chefe de Estado, você não faz distinção na relação com os entes federados. Não quero saber de que partido é o governador ou o prefeito. (...) A minha relação com o Aécio sempre foi uma relação altamente produtiva”, citou Lula. 

Em ironia ao ex-governador Aécio Neves (PSDB), o ex-presidente afirmou que o único “probleminha” é que, “de vez em quando”, o tucano rebatizava os programas do governo federal. “Mas não tem problema. O que era importante é que as coisas aconteciam e a gente tinha prazer de fazer acontecer sem ficar colocando picuinha político-ideológica nas nossas ações”, concluiu.

Lula projeta dois debates contra Bolsonaro

Já durante a caminhada entre a Praça da Liberdade e a Praça Tiradentes, na região central de Belo Horizonte, Lula, em ataque a Bolsonaro, disse que irá passar repelente no corpo “com medo de uma mordida”. “Ele disse em uma entrevista para o The New York Times que teria coragem de comer carne de índio. Se ele pensar em dar uma mordida no pernambucano, ele vai morrer envenenado”, afirmou o ex-presidente. Inclusive, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou, neste mesmo domingo, que a campanha de Lula não associe o presidente ao canibalismo no horário eleitoral gratuito de TV e rádio.

Lula ainda reafirmou que irá recriar o Ministério da Cultura. “Cada capital vai ter um comitê de cultura para que a gente possa nacionalizar a cultura e não ficar refém do eixo Rio-São Paulo. Nós queremos que a cultura seja nacionalizada, que os artistas de outros estados tenham oportunidade, que os pequenos produtores artesanais tenham oportunidade”, prometeu o ex-presidente, que estava ladeado por Chico Buarque, que está em Belo Horizonte desde a última quinta para a turnê “Que tal um samba?”. 

Além de reiterar a retomada do Ministério da Cultura, o ex-presidente reforçou que pretende criar o Ministério dos Povos Originários. “Mais importante ainda: não haverá espaço para garimpo ilegal nesse país. A pena será dura. Esse país tem terra pra todo mundo plantar. Esse país tem 30 milhões de hectares de terra que podem ser recuperados. Todo e qualquer produtor decente do agronegócio sabe que é melhor manter a floresta em pé”, indicou.

Por fim, Lula acenou para os eleitores que se abstiveram de votar em 1º turno, cujo índice superou 22% no pleito presidencial. “A gente vai pra urna tranquilamente”, pontuou. “A gente não tem que aceitar nenhuma provocação. Vamos, pacificamente, no dia 30, fazer a revolução mais pacífica que o mundo conheceu: a vitória nossa nas eleições presidenciais”, apelou o candidato. 

Além da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, estavam ao lado do ex-presidente a prefeita de Contagem, Marília Campos (PT), os deputados federais reeleitos Reginaldo Lopes (PT), Patrus Ananias (PT), André Janones (Avante) e Luis Tibé (Avante), as deputadas federais eleitas Dandara (PT), Célia Xakriabá (PSOL) e Duda Salabert (PDT), o deputado estadual reeleito Ulysses Gomes (PT) e a deputada estadual eleita Bella Gonçalves (PSOL) estavam presentes. Ainda compareceram o senador Alexandre Silveira (PSD), que não foi reeleito, e o deputado estadual André Quintão (PT).  

Fuad Noman declara apoio a Lula 

A surpresa da visita de Lula foi o apoio declarado do prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), um burocrata egresso dos governos Aécio Neves (PSDB) e Antonio Anastasia (à época, PSDB). Após ser secretário de Fazenda durante o primeiro mandato de Kalil - 2017 a 2020 -, Fuad foi alçado à condição de vice quando o ex-prefeito foi reeleito em 2020. Depois, ele foi empossado como prefeito após a renúncia do ex-prefeito para ser candidato ao governo de Minas em março passado.

Discreto, o prefeito sequer havia anunciado publicamente o apoio à candidatura de Kalil. “Muitas pessoas devem estar se perguntando por que o prefeito de Belo Horizonte está aqui, porque eu sempre disse que eu não participava de campanha por ter que cuidar de uma cidade. Mas hoje é domingo, a situação está calma, e eu posso vir aqui, presidente, ao seu lado”, disse Fuad, que foi o primeiro a falar antes da coletiva de imprensa de Lula nesse domingo.

De acordo com o prefeito, Belo Horizonte foi abandonada nos últimos anos. “Belo Horizonte não tem recebido nada”, criticou. “Nós estamos sofrendo de uma carência de ações do Estado. No Brasil e acho que em grande parte do mundo, nenhum município sobrevive sem o apoio do governo federal e do governo estadual. Nós precisamos de investimentos, precisamos de recursos e precisamos de apoio, e nós não temos isso hoje”, acrescentou Fuad, que, segundo Lula, o recebeu no Aeroporto da Pampulha.    

Fuad apelou para que Belo Horizonte esteja ao lado de Lula para que o Município receba recursos para “construir casas populares, para poder combater as enchentes e para poder resolver o problema do Anel Rodoviário”. “Esperamos que no dia do 2º turno, dia 30 de outubro, Belo Horizonte inteira possa comparecer às urnas e dar ao senhor uma expressiva votação, porque Belo Horizonte precisa de Lula”, concluiu. Embora tenha liderado a votação em Minas no 1º turno, Lula foi derrotado em Belo Horizonte, onde somou 42,53% dos votos válidos. Bolsonaro, por sua vez, teve 46,6%.

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