No dicionário, simbiose significa, no sentido figurado, uma “ligação muito íntima e interativa de duas pessoas.” No caso d’O Grande Encontro, essa relação vai além. Estabeleceu-se entre três, quatro pessoas. Para ser mais exato, entre Alceu Valença, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho, que, em um movimento “hiper natural”, apresentaram-se todos em um mesmo show, sem qualquer combinado anterior, quase 30 anos atrás.

Alceu Valença lembra-se daquele dia com clareza, mesmo que lhe falte a memória a data exata – o primeiro disco do quarteto foi lançado em 1996. “Geraldo estava no Canecão com Zé Ramalho fazendo um show chamado ‘Dueto’, e fui assisti-los. Estava na plateia, e, de repente, Geraldo convidou Elba, e ela subiu no palco. Depois, Geraldo também me chamou, e eu cantei lá. Fui ao camarim, e ele convidou a mim e a Elba para fazerem parte do Grande Encontro”, recorda.

E um novo grande encontro volta a acontecer neste sábado (10), no BeFly Hall, dentro do Breve Drops, sem Zé Ramalho, que já não se apresenta com eles faz tempo. Mas o que motiva os três a continuarem as apresentações juntos? A tal da simbiose.

“Somos todos interioranos, não somos da zona da Mata ou Litoral. Elba é do interior da Paraíba, Geraldo Azevedo, de Petrolina, e eu de São Bento do Una. A cultura que ouvíamos na infância é a mesma: bandas de pífanos, violeiros, cordelistas, coquistas… Fora isso, ouvíamos também Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, tanto nas praças, dos alto-falantes, quanto na rádio. Então, nossa cultura é a do baião, do xaxado, xote, do frevo. Tudo isso está nos nossos HDs da memória. Então, quando cantamos, há uma simbiose muito grande”, acentua o artista.

Geraldo Azevedo concorda com o amigo. “Alceu, Elba e eu temos uma química que vai além do palco”, aponta. “A nossa amizade e o respeito mútuos são o que fazem O Grande Encontro ser tão especial. Nos conhecemos há décadas, e essa intimidade se reflete na nossa música e na forma como interagimos com o público”, ressalta o artista.

Para ele, manter acesa a chama desta apresentação depois de tantos anos na estrada é um desafio, e, ao mesmo tempo, “um grande prazer.” “O segredo está na paixão e na autenticidade que a gente traz para o palco. Cada apresentação é uma nova oportunidade de compartilhar a nossa música e a nossa história com o público”, diagnostica.

Já Elba Ramalho, que se alegra de ter tido o “privilégio de conviver com Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Dominguinhos”, afirma que a relação entre eles permanece sólida também por um pedido de quem os acompanha.

“Por diversas vezes, já encerramos o projeto e acabamos voltando em função do público que sempre pede novas apresentações.  Eu gosto de dividir o palco, eu tenho que cantar nos tons dos rapazes, tons masculinos, é um desafio para mim, mas a expectativa sempre é a melhor possível”, assinala. 

“Não faria sentido que eu cantasse, por exemplo, com um americano ou inglês. Eles fazem uma coisa, e eu faço outra. E eu só faço o que eu gosto e o que acredito”, afirma Alceu, fazendo questão de destacar, porém, que cada um tem carreira própria. “Eu faço meu show independente, assim como o Geraldo e a Elba. Mas, dentro da nossa agenda, sempre deixamos um espaçozinho para o Grande Encontro”, revela o pernambucano.

Veja o repertório do show

O público pode esperar, para o show deste sábado (10), a boa música do cancioneiro brasileiro, especialmente do nordestino, como conta Geraldo Azevedo. “Essa turnê está na estrada há alguns anos, mas com um formato que não se esgota, visto que tem um repertório que reúne grandes canções, que fazem parte da história da música brasileira. E sempre com casas cheias, Brasil afora! É mais uma oportunidade para o público de BH reviver, ao vivo, sucessos como ‘Anunciação’, ‘Dia Branco’ e ‘Ai Que Saudade D'Ocê’, entre muitos outros”, indica.

Para Elba Ramalho, subir ao palco é também uma oportunidade de exercer a sua espiritualidade. “‘Quem canta reza duas vezes’, já dizia Santo Agostinho. O canto é importante na liturgia católica e nos auxilia no exercício da fé. Para mim, como cantora, cantar e rezar estão intimamente relacionados com o nosso estado de espírito”, elabora. 

Em relação às músicas, Alceu Valença conta que o trio vai seguir uma direção a qual já está acostumado. “Em quase todos os shows, fazemos o mesmo roteiro. Gosto de seguir assim porque tudo o que faço é cinema”, inicia Alceu. “Canto as primeiras três músicas com Geraldo e Elba. Começa com ‘Caravana’, música minha e do Geraldo. Depois, tem ‘Sabiá’, do Luiz Gonzaga, e, aí, vem “Pelas Ruas que Andei, que é uma música minha”, afirma. No repertório deles, ainda estão “Flor de Tangerina”, “Rosa Vermelha”, “Moça Bonita” e “Solidão.”

A última música, a propósito, foi composta por Alceu em Belo Horizonte. “Eu fiz um show no Teatro do Palácio das Artes e voltei para o hotel sozinho. Subi no elevador, cheguei na porta, abri o apartamento e fiquei naquela tristeza, numa solidão da peste. Então, abri a janela, olhei pela rua, mal tinha carros, porque já era tarde. Olhei pra rua, olhei pra lua… E compus a música”, arremata.


SERVIÇO

Breve Drops: O Grande Encontro, com Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo

Quando. Sábado (10), às 21h Local

Onde. BeFly Hall (avenida Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi)

Quanto. De R$ 144 (meia-entrada) a R$ 550 (inteira, na cadeira Ouro). Ingressos aqui.