Com proposta de integrar música, natureza e arte contemporânea, a segunda edição do Jardim Sonoro 2025, festival com curadoria própria do Inhotim, que neste ano tem a voz como grande protagonista, apresentou ao público, desde sexta-feira (11) até este domingo (13/7), uma série de espetáculos marcados pela delicadeza, experimentação e conexão com plateias e espaços. 

Entre as tantas atrações que desfilaram pelos dois palcos montados no museu, o maior a céu aberto da América Latina, a reportagem de O TEMPO falou com duas: Mônica Salmaso e Tetê Espíndola, que se apresentaram, respectivamente, no segundo e terceiro dia do evento – cada qual com sua linguagem e repertório, mas ambas alinhadas à ideia de que a música pode ser tão sagrada quanto acolhedora, tão elaborada quanto experimental.

No sábado (12/7), coube a Mônica Salmaso transformar a clareira ao lado da obra Piscina, de Jorge Macchi, em palco para o início das homenagens ao centenário de Tom Jobim, que será celebrado em 2027. A cantora, acompanhada por Teco Cardoso nos sopros e João Camarero no violão, apresentou um espetáculo inédito com foco no repertório do maestro da bossa nova. Para a artista, o local foi mais que um cenário inspirador: “É muito lindo ser em Inhotim, né? Porque é um paraíso da arte, que respira cultura, natureza. Então já é lindo ter um festival aqui. E se chama Jardim Sonoro… Tinha que ser Tom Jobim. Era importante encontrar o Tom aqui, visitar o Tom”, disse, após a apresentação.

Mônica confessou que, mesmo já tendo se prometido inúmeras vezes conhecer o museu localizado em Brumadinho, a 60 km de Belo Horizonte, só agora teve a oportunidade – ainda que entre ensaios e compromissos – de visitar algumas galerias. “Pirei com a Adriana Varejão. Desde a concepção arquitetônica do espaço até a escala e o material das obras…”, reconheceu, dizendo ainda ter se sentido “num estado de solenidade” quando passou pela obra Sonic Pavilion, também conhecida como Centro do Mundo – um pavilhão de vidro e aço revestido de película plástica, poço tubular de 202 m de profundidade, microfones e equipamentos de amplificação sonora, 335×1400 cm. “Eu preciso voltar”, resumiu.

Sobre o show, Mônica disse ter se sentido em uma apresentação em roda: íntima, calorosa, com crianças dançando, adultos emocionados. “É um abraço grande que acontece aqui pra música e pra todo mundo”, definiu. Aliás, ousando sugerir paralelos entre a performance da intérprete e trabalhos que integram os pavilhões do Inhotim, a comparação imediata é Forty Part Motet (2001, localizado na Galeria Praça), da artista canadense Janet Cardiff – aquela das caixas de som, que tem justamente a voz como plataforma para uma experiência entre o contemplativo e o imersivo.

Já no domingo (13/7), a conexão com o território, as raízes culturais e m a experimentação veio com Tetê Espíndola. Celebrando 45 anos de carreira, a artista sul-mato-grossense trouxe ao palco um repertório que atravessa diferentes fases de sua trajetória, indo desde os tempos do disco Piraretã até músicas mais recentes, incluindo composições de Arrigo Barnabé. “Preparei um show especial”, explicou. “Trouxe polcas e guarânias do Mato Grosso do Sul, mas misturei tudo, tem blues, outras roupagens… a ideia é mostrar que a raiz é universal”, explicou, antes de subir ao palco.

Acompanhada de um trio formado por Toninho Porto (baixo e vocais), Adriano Magu (teclado e sanfona) e Rodrigo Digão (bateria), Tetê levou para o festival uma proposta cênica pautada pela interatividade, convocando o público a um devir-bicho: em diversos momentos, propôs e dirigiu o público criando um coro de quero-queros, seriemas, sapos, pererecas, etc. “Tem muita troca, muita conversa durante o show. É algo que eu gosto muito”, havia adiantado.  E, mesmo com a agenda apertada – “cheguei ontem à noite e hoje, 7h30, já estava passando o som” –, Tetê ainda planejava visitar alguma galeria do Inhotim antes de ir embora. “Se Deus quiser, eu vou”, garantiu.

E, repetindo o exercício de encontrar obras expostas no Inhotim que dialogam com a linguagem de artistas que se apresentaram no museu, no caso de Tetê Espíndola dois nomes surgem de pronto: UÝRA e seus autorretratos integrados neste ano à Galeria Claudia Andujar | Maxita Yano, que também exploram essa transmutação gente-floresta; e Yayoi Kusama, nas obras do pavilhão dedicado a ela, que compartilham com a cantora o apelo para o lisérgico.

Além de Mônica Salmaso e Tetê Espíndola, o Jardim Sonoro contou com um elenco diverso de artistas. Na sexta-feira, a cantora e ativista indígena Djuena Tikuna abriu o festival com o ritual sonoro Torü Wiyaegü. No sábado, Luiza Brina levou ao palco o show Prece, seu mais recente trabalho, enquanto a norte-americana Cécile McLorin Salvant encerrou o dia com um espetáculo de jazz contemporâneo. No domingo, a baiana Josyara abriu os trabalhos, o grupo Ilê Aiyê colocou a plateia para dançar ao som de sua tradicional percussão do Ijexá. Por fim, a multiartista Brisa Flow encerrou o festival com uma apresentação de discotecagem.