Se souberem combinar seus superpoderes, os integrantes do Quarteto Fantástico podem até vencer a batalha contra o devorador de mundos Galactus. Difícil mesmo para esses heróis é enfrentar o fraco e equivocado roteiro escrito para mais uma tentativa da Marvel para emplacar um bom filme desse grupo de heróis.
O pavoroso filme de 1994, produzido pelo rei do cinema barato Roger Corman, nem conta. Em 2005, a versão que tinha Jessica Alba como a Mulher Invisível teve até uma sequência, mas foi bombardeada de críticas. Dez anos depois, a escalação de um elenco mais jovem tinha Miles Teller como o Senhor Fantástico e quase foi apedrejada.
Mais uma década se passou e este "Quarteto Fantástico: Primeiros Passos" chegou a esboçar em trailers e cenas vazadas alguns indícios que poderia ir bem diante de um novo público.
Só faltou criar uma história que fosse inteligente, emocionante e com boas ideias para aproveitar a química de uma equipe que reúne personagens que podem oferecer discussões sobre gênero, família, gap geracional e visões de mundo opostas, amparadas pela ciência ou pela força.
Alguns roteiristas geniais fazem isso nos quadrinhos há mais de 60 anos. Mas para este filme a escolha foi um roteiro centrado na gravidez de Sue Storm, a Mulher Invisível, e na perda de confiança das pessoas no Quarteto, depois que várias circunstâncias fazem os terrestres que eles sempre defenderam não acreditarem mais em seus heróis.
É difícil dizer se a escolha de Pedro Pascal para ser Reed Richards é um acerto ou um erro. O chileno talvez seja hoje o ator mais fofo do planeta Terra, fazendo um filme atrás do outro, e isso gera antagonismos. Alguns fãs dizem "Que legal! Pedro Pascal de novo!", enquanto outros reclamam "Ah, não! Pedro Pascal de novo?".
O filme começa com a notícia de que ele vai ser pai, e esse anúncio enterra até o final a figura do líder cerebral que Richards desempenha nos quadrinhos. Ele é um pai nervoso e muito pressionado pela mulher, interpretada pela inglesa Vanessa Kirby, a melhor Mulher Invisível de todas as versões.
O Tocha Humana ainda consegue ter uma participação razoável na trama, mas o pobre Coisa é quase um vaso no Edifício Baxter, QG dos heróis. Como vilão, partiram para o grande desafio de escolher logo o maior de todos, Galactus, a entidade espacial gigante que come planetas quando bate uma fome.
No início da história, tudo vai bem numa Nova York que mistura visual retrô de anos 1950 em roupas e carros com o design futurista dos prédios de Manhattan. Isso poderia ser uma ousadia visual até interessante, se o roteiro desse alguma atenção a ela. É apenas um cenário de fundo para os heróis correrem de um lado para o outro. A produção não soube aproveitar o que talvez fosse sua única boa ideia.
E é quando o inimigo aparece que tudo começa a perder o rumo. A partir da ousadia, ou talvez o melhor seja dizer heresia, de mudar o gênero de um dos personagens mais icônicos do universo Marvel. No lugar do Surfista Prateado, o arauto que Galactus envia aos planetas que vai destruir, aparece a Surfista Prateada. E essa mudança não passa por empoderamento feminino.
Ela é uma mulher nua coberta de energia cósmica que está na história apenas para servir de interesse romântico aos hormônios incandescentes do Tocha Humana.
Se o filme ainda é assistível até o nascimento do pequeno Franklin, o filho de Sue e Reed, na metade final ele não sabe o que fazer para manter um bebê fofinho no centro das batalhas interplanetárias.
Na última parte do longa, parece que o grupo de roteiristas se lembrou que os personagens têm superpoderes e precisam utilizá-los em batalhas contra vilões para justificar esta ser uma aventura de super-heróis.
E aí vem um encaminhamento final constrangedor, no qual a entidade maior da força cósmica Galactus parece mais um gigante bobão tentando caçar o Quarteto pisando em seus diminutos integrantes.
Talvez agora a Marvel desista de vez de dar outros filmes para o grupo. No entanto, a famigerada cena "reveladora" depois dos créditos finais já entrega que o Quarteto Fantástico pode ter alguma participação importante nos próximos filmes dos Vingadores. É esperar para ver.
QUARTETO FANTÁSTICO: PRIMEIROS PASSOS
- Avaliação Ruim
- Quando Estreia nesta quinta (24), nos cinemas
- Classificação 12 anos
- Elenco Pedro Pascal, Vanessa Kirby e Joseph Quinn
- Produção EUA, 2025
- Direção Matt Shakman