Não foi o fato de o público acompanhar em coro todos os sucessos da noite, o que mais impressionou Rodrigo Toffolo. Foi o silêncio dos momentos em que a multidão se concentrou para acompanhar o som dos instrumentos.

“Eles escutam com atenção, o que nos dá muito orgulho da nossa contribuição para a formação de público, de as pessoas entenderem que é gostoso ouvir uma orquestra. Essa talvez seja a coisa mais importante da nossa história, abrir os olhos e os ouvidos das pessoas para o que é uma orquestra e como ela funciona”, afirma o maestro da Orquestra Ouro Preto, que, neste domingo (27) celebrou 25 anos de bem-sucedida trajetória com um concerto gratuito na Praça da Liberdade, que renovou no palco a célebre parceria com Alceu Valença, iniciada ainda em 2010, e que rendeu dois volumes intitulados “Valencianas”.

“Nosso projeto com Alceu mudou o entendimento das pessoas sobre esse encontro da música popular com a erudita e se tornou uma marca nossa, inclusive fora do Brasil. Muitas orquestras se inspiraram nesse projeto. Quando começamos, apontamos uma direção de equilíbrio onde a orquestra não só acompanha o músico, ela é a máquina que carrega tudo isso”, orgulha-se Toffolo. 

O maestro, que recebeu uma ligação emocionada de Alceu na manhã seguinte à apresentação, observa que o compositor pernambucano, autor de clássicos do cancioneiro popular como “La Belle de Jour”, “Anunciação”, “Morena Tropicana”, “Coração Bobo”, “Como Dois Animais”, dentre outros, é dono de uma obra que “possibilita essa rica interação”.

“Alceu é um poeta que conhece o Brasil profundo como ninguém, você pensa em sucessos dele e chega a mais de 20”, analisa. Mesmo durante a regência o maestro conta que se surpreende. “Até as que você acha que não são tão conhecidas, o público canta junto!”, diverte-se.

Ele toma como exemplo “Tesoura do Desejo”, lançada em 1992, em um dueto com Zizi Possi. “A melodia é muito marcante, a poesia é linda, e ritmicamente é uma canção complexa, com muitas mudanças de compasso. Aquilo que o músico percebe pelo conhecimento, o público percebe através da beleza. É uma obra-prima”, exalta Toffolo. 

Noite épica

O maestro define como “épica” a apresentação da Orquestra na Praça da Liberdade. “Estávamos em um dos cartões postais mais importantes do Brasil, com um show gratuito, comemorando 25 anos da Orquestra, fiquei muito feliz de ver todo aquele público diverso, com muitas famílias, idosos e crianças”, celebra. “Não é todo dia que um grupo independente como o nosso chega a esse tempo de estrada”, complementa.

Por outro lado, a lotação da praça não configurou exatamente uma novidade para a Orquestra. A Polícia Militar estimou um público presente de 45 mil pessoas. “Felizmente tem sido uma constante para nós que nossos concertos tenham um público grande, seja com ou sem convidados. Em Mariana, por exemplo, a Orquestra Ouro Preto se apresentou sozinha e a praça também ficou abarrotada. É um projeto que está chegando ao amadurecimento”, ressalta Toffolo, que tem planos de continuar levando o som orquestral da Ouro Preto para multidões em praças. 

Neste segundo semestre, eles iniciam a turnê nacional da ópera “Hilda Furacão”, baseada no romance do jornalista Roberto Drummond (1933-2002) e ambientada em Belo Horizonte. Além da capital mineira, a trupe se apresenta em São Paulo, Rio, Curitiba e Boa Vista, em Roraima. “Em breve divulgaremos novos shows em praça pública”, promete Toffolo.