"Não coma nada que sua avó não reconheceria como comida". A frase, do jornalista, autor e especialista em alimentação Michel Pollan, é um norte para a pesquisadora de culturas alimentares Patty Durães, uma das convidadas do Seminários O TEMPO Gastrô, que estará ao lado da nutricionista e terapeuta do comportamento alimentar, Ana Soares, no painel ‘Você é o que você come: cultura e saúde no prato’, que acontecerá no próximo dia 29, no Mercado de Origem, no bairro Olhos D’Água.
O local será o palco para uma série de encontros gratuitos, que vão reunir grandes nomes do setor, reconhecidos nacional e internacionalmente, promovendo um diálogo rico e diverso sobre o universo culinário.
Para Patty, a culinária local e a herança cultural desempenham um papel crucial na preservação da identidade alimentar brasileira. Ela destaca que, em muitos territórios, essas tradições estão sendo remanescentes por referências alimentares estrangeiras, principalmente da América do Norte e Europa. “A gente tem aquela impressão do que é local, do que é nacional, tem menos importância do que do que é importado”, comenta Patty, ressaltando que a biodiversidade e a riqueza cultural do Brasil são únicas no mundo.
Nesse contexto, ela ressalta que resgatar receitas tradicionais não só promove uma alimentação mais saudável, como também uma economia sustentável. “Quanto menos a gente cozinha no nosso dia a dia, mais a gente se distancia do ciclo do alimento”, explica, defendendo que o saber fazer de pratos típicos como queijos, doces e carnes é um patrimônio imaterial que fortalece a conexão das pessoas com a alimentação de verdade.
Quanto ao tema que será discutido no painel, Patty acredita que esse é um debate essencial neste momento. “As escolhas alimentares definem nossa forma de olhar o mundo”, afirma, acrescentando que elas estão ligadas a questões políticas, econômicas e sociais. “A comida é um meio de comunicação, a gente deveria conversar com o nosso prato, com as nossas panelas, com a nossa sacola de feira, com o nosso carrinho de mercado”, pontua.
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Patty ressalta que esse olhar multidisciplinar pode modificar as mudanças de hábitos e a valorização dos pequenos produtores e da cultura local. “Estou superfeliz com esse convite para participar dessa primeira edição do Seminários O TEMPO Gastrô. Minas Gerais mora no meu coração, e costumo dizer que a gastronomia, a cultura alimentar do Estado é uma comida corajosa, dos preparos longos, dos preparos sem pressa, da produção local, da preservação das tradições. Poder trazer o meu olhar enquanto pesquisadora de cultura alimentar para esse evento será muito especial”, finaliza.
Cultura da saúde
Pensando na vertente da saúde, aliada à cultura alimentar, Ana Soares parafraseia Bela Gil e reafirma que “voltar ao simples é um bom caminho”. Ela reforça a valorização da “comida de panela”, feita de forma caseira, incluindo alimentos mais frescos como vegetais, arroz, feijão, incluir uma carne ou não.
“O papel da alimentação adequada e saudável na promoção da saúde, na prevenção das doenças, na manutenção do peso e na qualidade de vida é inquestionável e suas recomendações devem ser vistas como importantes aliadas. Por isso, a regra de ouro do Guia Alimentar, que orienta a preferir sempre alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias a ultraprocessados, não existe à toa”, ressalta.
Ana pontua que a cultura alimentar mineira, por si só, é rica em legumes, folhas verdes, plantas alimentícias não convencionais (PANCS). “Alimentos como o milho e mandioca em suas múltiplas formas de preparo também falam da nossa ancestralidade africana e indígena, e quando os incluímos estamos trazendo sabor, memória, identidade e nutrição. E eles são excelentes substitutos para o pão, inclusive”, afirma.
Além dos valores nutricionais
O caminho de resgate desses alimentos, como a famosa comida de vó, é um forte aliado na busca por uma alimentação mais saudável e que tenha sentido emocional. “Essa alimentação totalmente desconectada de nossa ancestralidade e tradição tem gerado um impacto negativo para a saúde das crianças, adolescentes e adultos, e estão diretamente relacionados a doenças como pressão alta, diabetes, alteração de colesterol, obesidade, problemas gástricos, intestinais e até depressão e ansiedade”, alerta a nutricionista Ana Soares.
No entanto, para além de valores nutricionais, Ana concorda que a comida também pode ser vista como uma forma de autocuidado. “Desde muito cedo já associamos comida com vínculo, afeto e cuidado – quanto tivemos o contato com o primeiro alimento – o leite materno ou outro tipo que quem de nós cuidou nos ofereceu. Essa memória antiga nos acompanha pela vida. Ao incluir alimentos mais nutritivos estamos cuidando também da nossa vitalidade, disposição e saúde integral. Tudo isso faz parte do autocuidado”, diz.
“Fiquei feliz com o convite para participar deste painel. Em tempos de alimentação cada vez mais industrializada, fazer esse movimento é essencial. Reunir especialistas e diversos pontos de vista é inspirador e motivo de orgulho para os mineiros”, finaliza a nutricionista.
SERVIÇO
O quê. Seminário O TEMPO Gastrô
Quando. 29 e 30 de outubro, das 13h às 20h
Onde. Mercado de Origem (rua Adriano Chaves e Matos, 447, Olhos d’Água)
Quanto. Gratuito, mediante retirada de ingressos pelo site Gofree