Buenos Aires, Argentina. Não é todo dia que alguém tem a oportunidade de experimentar as delícias de um restaurante eleito o melhor da América Latina, certo? Tive essa sorte ao almoçar no Don Julio, que conquistou o topo do ranking do 50 Best no último mês de novembro (leia mais aqui). Localizado na charmosa esquina das ruas Guatemala e Gurruchaga, na elegante região de Palermo, em Buenos Aires, o restaurante oferece cortes de carne que, sem exagero, são realmente especiais. E eu posso explicar o porquê, além de entender o que atraiu personalidades como Messi (sim, eu comi no mesmo restaurante que o genial craque). Ah, mas não pense que o único atrativo do Don Julio é a carne…
Uma experiência única desde o início
Concorrido, como era de se esperar, o Don Julio apresenta uma cena comum: filas de espera na porta, reflexo da dificuldade natural de conseguir a tão sonhada reserva. Isso se deve, em parte, ao fato de o restaurante ser aconchegante, com capacidade limitada para acomodar o grande público que espera ansioso por uma mesa. Para amenizar essa espera, o Don Julio oferece uma taça de champanhe aos clientes que aguardam na rua. Isso mesmo: uma recepção digna de aplausos.
Por dentro, o restaurante possui um grande salão, onde fica a parrilla, que já abre o apetite só de observar. Os cozinheiros exibem detalhes de cada peça de carne em um processo interativo que já se tornou parte do ritual. Além do salão principal, há um espaço menor com mais algumas mesas e, na área externa, mesas cobertas. Importante destacar que todos os ambientes são supervisionados por uma equipe numerosa de garçons: prestativos, simpáticos e ágeis, que garantem um serviço impecável.
O tesouro escondido no subsolo
Antes de falar sobre a comida, vale mencionar um dos tesouros do Don Julio: a adega subterrânea. Descendo dois lances de escada, encontra-se um verdadeiro paraíso para os amantes de vinho. Com mais de 15 mil garrafas de diferentes origens, décadas e estilos, a adega é cuidadosamente controlada em temperatura e iluminação para preservar os sabores.
Os vinhos são divididos por categorias, incluindo os de maior rotação no restaurante, os de regiões específicas da Argentina, como Mendoza, Patagônia e Jujuy, além de rótulos brancos, tintos e garrafas de tamanhos variados. Entre as preciosidades estão um vinho de 1938, à venda por 21 milhões de pesos (cerca de R$ 124 mil), e outro de 1923, que nem possui preço, já que pertence a uma coleção particular. Na mesa, o cliente se impressiona com o cardápio de vinhos, que mais parece um livro, tamanha a quantidade de opções.
O prato principal
Escolher uma carne em um restaurante tão renomado não é tarefa fácil. O menu é detalhado, com ilustrações dos cortes de carne, o que facilita a decisão. Além disso, o atendimento cuidadoso dos garçons e sommeliers ajuda a esclarecer as opções e sugerir acompanhamentos.
Minha escolha foi o lomo — o nosso tradicional filé-mignon. E que filé! Extremamente macio e saboroso. Pedi ao ponto, ou seja, ainda rosado no interior. Lembrando que se trata de uma peça de 500 gramas. Sobre o tempero, uma diferença marcante em relação ao que estamos acostumados no Brasil é o uso do sal: os argentinos utilizam bem menos. Apesar de estar delicioso, não resisti a adicionar um pouco mais de sal, o que realçou ainda mais o sabor para o meu paladar.
A textura da carne, no entanto, foi o grande destaque: uma maciez impressionante. O restaurante ainda oferece como acompanhamento um delicioso vinagrete e o tradicional molho chimichurri. Experimentei ambos, mas sou mais fã do vinagrete, que estava excelente.
E os acompanhamentos?
Para completar a refeição, optei por algo leve: uma porção de tomates com cebola, o clássico tomate à criolla, que estava delicioso. A combinação de carne e salada foi perfeita, e o prato, apesar de simples, foi extremamente farto.
Quem quiser explorar mais, o cardápio oferece diversas opções de saladas, vegetais na parrilla e entradas variadas. Logo que o cliente se senta à mesa, já é recebido com pão macio e quentinho, uma flor comestível (sim, eu provei) e uma empanada de carne, uma cortesia saborosa.
E os preços? Vale a pena?
A experiência no Don Julio é, sem dúvida, muito agradável. O atendimento é impecável, e a carne, o carro-chefe da casa, é deliciosa, certamente uma das melhores que já experimentei. Porém, ao converter os preços para reais, muita gente pode se assustar.
Sem incluir bebida ou sobremesa, o prato com a peça de filé e a porção de tomate custou 112 mil pesos, o equivalente a R$ 666,54 (cotação: 1 real = 0,0060 pesos). A porção de tomate saiu por 13 mil pesos (R$ 77,37), e o filé, 99 mil pesos (R$ 589,17). Um valor salgado — sem trocadilhos.
A sobremesa
Terminei com uma bola de sorvete de doce de leite, produção própria do restaurante. Como bom mineiro, posso afirmar: estava mais que aprovado! O sorvete não era enjoativo nem excessivamente doce, equilibrando sabor e textura. Custou 8 mil pesos (R$ 47,61), um preço mais razoável dentro do contexto. Outras sobremesas famosas, como mamão com queijo e flans, também estavam disponíveis, todas muito convidativas.
A horta comunitária
Quando achei que já havia visto tudo, descobri uma surpresa: uma horta comunitária, localizada a uma esquina do restaurante. Criada durante a pandemia pelos donos do Don Julio, a horta transformou um espaço antes abandonado em um local produtivo e acolhedor. Tudo o que é plantado ali é destinado à comunidade local, seja para moradores ou instituições.
Além disso, o espaço promove atividades, como o plantio de sementes, e oferece um local para compostagem de resíduos orgânicos. Nada do que é produzido na horta vai para o restaurante. Cercado por bancos e muita tranquilidade, o lugar se tornou um refúgio de paz — uma verdadeira cereja no bolo desta experiência gastronômica inesquecível.
Don Julio
Guatemala 4691, esquina com Gurruchaga, Palermo Viejo, Buenos Aires, Argentina / Tel.: +54 11 4831-9564, ou +54 11 4832-6058 ou +54 11 5311-5668 / Horário de funcionamento: todos os dias, das 11h30 às 16h e das 19h à 1h