Um prato pode significar muito mais que uma simples refeição. Ele também pode ter o poder de contar uma história, de provocar sensações diversas, de despertar memórias afetivas… Este, aliás, é um dos grandes tesouros da gastronomia.
Com essa ideia em mente, o chef Caio Soter, à frente do restaurante Pacato e do Bar Pirex, e a presidente brasileira do The World’s 50 Best Restaurants e embaixadora de Turismo e Hospitalidade do Ecossistema Ânima Educação, Rosa Moraes, apresentam o painel “Sabores que contam histórias: a gastronomia como experiência sensorial”, que será realizado na próxima quarta-feira, 30 de outubro, dentro do Seminário O TEMPO Gastrô.
Para Soter, o ato de comer não se resume ao paladar. “Ainda mais falando de uma experiência em um restaurante, todos outros elementos se tornam importantes, como a música, a decoração, as pessoas que estão servindo, como elas te recebem… Então, acredito que exista todo um contexto responsável por uma experiência gastronômica além da comida, que é uma das coisas mais importantes em um jantar, mas não a única”, analisa.
Entretanto, contar a história sobre um prato deve ser compreendido como um elemento acessório. “Acho incrível quando conseguimos contar uma história legal sobre um prato, mas é fundamental que ele seja gostoso. Caso contrário, a história pode se tornar boba”, indica. Ele, inclusive, é especialista em narrativas, contadas por meio de seus menu-degustação do Pacato. No mais recente dele, o “Queijo: Vida e Tempo”, Soter apresenta queijos de todas as regiões de Minas Gerais em oito tempos.
Durante o painel do Seminário O TEMPO Gastrô, Soter vai conversar sobre comida mineira e suas tradições. “Queremos falar um pouco sobre o trabalho que o Pacato tem feito de resgatar pontos muito importantes da cozinha mineira”, adianta ele, que se diz ansioso por este momento. “Acho que vai ser muito legal. Conheço a Rosa, é uma pessoa muito querida, já visitou meu restaurante algumas vezes. Todas as trocas são muito legais, e ela sempre tem algo muito valioso para somar de conhecimento”, comenta.
Rosa Moraes, a propósito, inaugurou o primeiro curso superior de gastronomia do Brasil. Para ela, é fundamental se qualificar e se profissionalizar no setor para se destacar. “Este é um mercado extremamente competitivo. Cada vez mais, quem der de ombros para a importância da formação e diversificação do conhecimento profissional na área, vai perder espaço. E hoje, mais do que nunca, é necessário também ter resiliência, criatividade e empatia. Resiliência para suportar os obstáculos no caminho, muitas vezes inesperados; criatividade para encontrar soluções e inovar sempre que necessário, sem se apegar a antigas receitas ou regras muito rígidas que podem tirar de você a capacidade de se adaptar; e empatia para olhar para quem está construindo junto, seja na carreira ou no empreendimento”, ressalta.
Ela também é a embaixadora de Turismo e Hospitalidade da Ânima Educação, que trouxe o primeiro instituto no Brasil da escola francesa de artes culinárias Le Cordon Bleu, localizada, em São Paulo. Agora, o grupo vai abrir uma unidade também em Belo Horizonte. “O curso já é um sucesso, e estamos formando a nova geração de cozinheiros, gerentes, líderes empresariais e outros profissionais para a cadeia da hospitalidade. Esse é o nosso objetivo: ensinarmos a gastronomia além da cozinha”, pontua.
Na avaliação de Rosa, Minas Gerais é um Estado especial, pois os mineiros têm orgulho da própria cultura e exaltam a culinária produzida aqui. “Seus produtos são de muita qualidade, como café, charcutaria e cachaça, entre outros. Os vários preparos e pratos com a carne de porco são excelentes: estão entre os melhores do mundo. Além disso, tem uma variedade e uma qualidade muito grande de queijos – e eu não poderia deixar de citar o pão de queijo, que é excepcional e mora no meu coração! Para coroar, eu me chamo Rosa em homenagem à minha avó paterna, que era mineira de Guaranésia, pertinho de Guaxupé, e cozinhava extremamente bem. A cozinha mineira faz parte das minhas memórias mais queridas”, celebra.
A gastronomia foi se tornando tão presente na vida dela que, hoje, ocupa um espaço que significa mais que a sua área de atuação. “Quando a gente trabalha com um objeto de estudo tão vital, que permeia o dia a dia de todas as pessoas, ele acaba representando uma parte muito importante da vida. A gastronomia não é só minha área de atuação profissional em tantas frentes, como também a forma que muitas vezes tenho de demonstrar amor aos meus filhos, aos meus amigos. É uma linguagem, é uma forma de compreender mundos e culturas. Então eu digo que literalmente como, bebo e respiro gastronomia na minha vida hoje – ela está em quem eu sou, profissional e pessoalmente”, aponta.
Não é por menos que ela tem inspirado muitas pessoas, especialmente mulheres, a apostarem suas fichas na gastronomia. “Fico emocionada quando percebo que, de alguma forma, fiz parte da trajetória de tantos. E minha palavra, principalmente para as mulheres, é sempre de apoio e resiliência. Tivemos e ainda temos muitas vezes que abrir portas com um pé de cabra (risos), em um mercado que sempre foi bastante machista e em um mundo comandado por homens, para, no final, ainda termos que provar que merecemos ocupar esses lugares. Mas acredito que, juntas, estamos conseguindo mudar essa realidade, para construir um presente e um futuro em que somos reconhecidas e respeitadas, sem precisar provar nada a ninguém”, sintetiza.
SERVIÇO
O quê. Seminário O TEMPO Gastrô
Quando. 29 e 30 de outubro, de 13h às 20h
Onde. Mercado de Origem (rua Adriano Chaves e Matos, 447, Olhos D’Água)
Quanto. Gratuito, mediante retirada de ingressos pelo site GoFree