Criar ou se abster de criar mais seres humanos é uma questão ética? Para um grupo de pessoas, a resposta é sim. Indivíduos adeptos a uma doutrina chamada ‘antinatalismo’ afirmam que as pessoas não deveriam procriar, e que a geração de novas vidas é um dos maiores erros da humanidade. Entenda:

O que é o antinatalismo

O antinatalismo, de forma simples, é uma corrente filosófica que defende que não deveriam nascer mais pessoas no mundo. Por isso, os seres humanos devem parar de procriar imediatamente. 

Um dos principais expoentes dessa corrente é David Benatar, um filósofo sul-africano de 57 anos. Ele é o autor do livro “Better never to have been”, inglês para “Melhor nunca ter existido”, e se autodeclara o "filósofo mais pessimista do mundo", já que acredita que viver é sofrer e, no final das contas, as partes positivas não valem a pena.

Segundo ele, tal crença é o fato principal que motiva um pensamento antinatalista, afinal, quem gera filhos coloca mais pessoas em um mundo terrível, destinadas a sofrer.  “Há muitos argumentos a respeito, mas um deles é que há muita dor e sofrimento na existência humana. Por isso que é um horror trazer novos seres humanos ao mundo”, explicou o professor em uma entrevista à BBC, em 2017.

Benatar é somente um dos mais conhecidos pensadores dessa crença, mas a doutrina tem adeptos em todos os cantos do mundo. Existem evidências que essas ideias remontam à Grécia antiga, mas os autoproclamados antinatalistas vêm ganhando mais notoriedade por meio das redes sociais no mundo moderno. Um sub-Reddit chamado r/antinatalism, por exemplo, reúne 224 mil pessoas no fórum de língua inglesa. Por lá, adeptos discutem questões relacionadas à escola pessoal de não ter filhos, além de debaterem o sentido de sua própria existência.

Impossibilidade de consentimento

Outro aspecto que orienta o antinatalismo é o fato de que pessoas nascem sem consentimento delas mesmas. Ou seja, seria a materialização da frase: “eu não pedi para nascer”. Se não é possível gerar um ser com sua própria aprovação, é, portanto, antiético criar uma vida.

“Tenho pensado nisso há anos. Você não pode só não fazer nada se for pobre, porque tudo custa dinheiro, até mesmo as necessidades básicas como comida, roupa e habitação. Portanto, estamos todos pagando por uma vida que nunca pedimos, e não podemos sequer questioná-la sem sermos chamados de preguiçosos. Felizmente, porém, eu escolho não ter filhos, então a maldição da existência termina comigo, assim como minha contribuição para o capitalismo. Forçado a nascer, forçado a existir, forçado a ganhar a vida. Tudo é forçado na vida, exceto a decisão de não trazer um filho a este mundo”, escreveu um usuário anônimo do fórum antinatalista do Reddit.

Isso não quer dizer, porém, que os crentes no antinatalismo pregam a exterminação da raça humana. O grupo também se diz não-violento. Segundo Benatar, deixar com que a humanidade seja extinta naturalmente é a única forma ética de habitar o mundo, mas a extinção não é o objetivo, e sim, uma consequência.

Ambientalistas também se apoiam nessa vertente

Ativistas ambientais também encontram motivos para defender o antinatalismo. Para alguns deles, a única forma de combater efetivamente as mudanças climáticas e frear o aquecimento global passa pela diminuição da população mundial.

Com as perspectivas pessimistas para o futuro do meio-ambiente, os adeptos do antinatalismo ambiental afirmam que trazer uma criança ao mundo, nessas condições, é uma escolha antiética e pode ser considerada ‘loucura’.