“Transar é muito fácil. O mais importante é o afeto, é preciso ter uma conexão de alma. Hoje em dia, independentemente do gênero, as pessoas não querem mais um relacionamento sério”, lamenta a estudante Mary Fernandes, de 29 anos.

Ela integra um grupo recentemente detectado em pesquisa do instituto Ipsos, em que os solteiros do país revelam uma menor taxa de satisfação sexual. Só 50% dos brasileiros sem par disseram estar contentes com a vida sexual, contra 81% dos que têm um relacionamento.

A pesquisa Love Life Satisfaction ouviu mais de 23 mil pessoas em 30 países, incluindo mil brasileiros. No caso do Brasil, a data de hoje, em que se celebra o Dia do Solteiro, não tem tantos motivos para ser comemorada.

“Não estou satisfeita com a minha vida sexual. Gostaria de ter uma vida mais ativa, de ter esse momento especial com o meu parceiro, mas como hoje em dia é tudo muito casual e eu não consigo me adaptar a essa modernidade, de transar sem sentimento, ela está péssima”, sentencia Mary.

Opinião semelhante tem a cabeleireira Saraí Donato, de 30 anos. “As pessoas não querem compromisso; somente encontros promíscuos”, critica. Ela só não está inteiramente insatisfeita porque pode contar com os brinquedos sexuais.

“Tenho um vibrador lá em casa e uso ele. Então posso dizer que todo dia ‘tem’”, revela Saraí. Para o vendedor ambulante Gabriel Moura, de 20 anos, a satisfação depende muito do momento. “Quando estou disposto a me satisfazer, creio que sim”. 

A sexóloga Bruna Belo observa que, culturalmente falando, o ser humano carrega a necessidade de ter um parceiro, o que pode explicar a razão de os solteiros estarem mais insatisfeitos com a sua vida sexual.

“Nós somos educados, durante toda a vida, para ter parceiros. Somos um ser social. A gente desenvolve laços de trabalho, de amizade... E o casamento pode funcionar como uma rede de apoio também”, analisa.

Para ela, em nossa sociedade atual, ser solteiro é sofrido, “no sentido de que é difícil encontrar alguém, já que as pessoas também estão mais seletivas, buscando tudo em uma pessoa só”, salienta Bruna.

“As pessoas querem estabilidade, intimidade, segurança, prazer, tentando juntar todas essas pecinhas. O fato de estar comprometido pode ajudar a compartilhar responsabilidades e tarefas”, afirma a especialista.

Mas a sexóloga frisa que ter um parceiro às vezes passa longe de ser a solução para todos os problemas. Muito pelo contrário. “Tudo vai depender do tipo de relação que está tendo, porque ela pode ser infeliz no casamento”.

Por outro lado, uma pessoa que desfruta de sua solteirice tem um autoconhecimento, podendo buscar fontes diferentes para entender e alcançar o seu prazer. O porém é que, no campo sexual, a pessoa corre o risco de não receber os estímulos que gostaria.

“Quando casadas, há uma maior intimidade para poder dizer o que gosta e o que não gosta, pelo menos é isso o que se espera. Uma pessoa solteira que faz sexo com várias parceiras, ela terá que se reajustar a cada encontro”, assinala.

No final das contas, destaca Bruna Belo, há prós e contras e tudo vai depender dos objetivos de cada pessoa. Mais do que o status, o mais importante é saber como o sexo é realizado, já que o desejo é responsivo.

“Tudo vai depender também do ciclo da vida. Em cada fase, há uma condição, em que as necessidades sexuais e sociais são diferentes. De acordo com a idade, com o que se quer naquele momento, tudo pode depender”, completa. (Com Mateus Pena)