O orgasmo costuma ser definido como o ponto alto de uma relação sexual, o clímax. Envolvendo uma série de respostas fisiológicas e emocionais do corpo, ele, assim como o sexo, é responsável por trazer uma infinidade de benefícios - que incluem desde sensações de euforia e felicidade, até mesmo o alívio de dores como as de cabeça, cólicas menstruais e tensões musculares. E, embora seja tratado na grande maioria das vezes no singular, o orgasmo também acaba sendo dividido em tipos. É isso o que pontuam alguns especialistas.
Uma delas é a jornalista e sexóloga Jessica Toscano. Em uma reportagem para o jornal britânico Daily Mail, publicada no início do mês, ela listou que existem 15 tipos de orgasmos diferentes. Segundo ela, eles podem ir desde as formas mais tradicionais, como o orgasmo clitoriano e vaginal, a orgasmos provocados por exercícios físicos ou alcançados durante o sono.
A sexóloga Enylda Motta também acredita que eles podem ser variados. “Existem diversas zonas erógenas no corpo, que sendo estimuladas podem gerar orgasmos”, explica ela, ponderando que as sensações causadas pelo clímax podem variar de acordo com as experiências de cada pessoa, ou seja, com suas vivências sexuais. “O que temos são estimulações locais que geram prazer intensos e o cérebro enviando todos os sinais para que isso possa acontecer”, acrescenta.
Conforme Enylda, existem seis tipos principais de orgasmos. O primeiro deles é o vaginal, que acontece a partir da estimulação da parte interna na vagina. “Geralmente, as mulheres relatam que esse é o tipo mais profundo e intenso”, diz. Há também o orgasmo anal, ocasionado pela estimulação das terminações nervosas do ânus e ao redor dele. “É importante ressaltar que é necessário o uso de lubrificante, uma boa higiene, pois é uma área que tem muitas terminações nervosas e a dor estará presente se não tiver os cuidados necessários”, orienta.
Ela acrescenta também que existe o orgasmo misto, causado por estímulos diferentes feitos no mesmo momento. Ainda é possível chegar ao clímax através dos da estimulação dos mamilos. “É uma área muito sensível, mas a pessoa tem que gostar”, diz Enylda, ressaltando a importância do conhecimento sobre o próprio corpo, já que as zonas erógenas podem ser variadas.
Há controvérsias
Para Sarita Milaneze, sexóloga e embaixadora da A Sós, marca de produtos íntimos, não existem diferenças entre os tipos de orgasmo, mas sim nas formas como você chega a ele. “Antigamente se falava que existiam 12 tipos de orgasmo. Porém, percebemos que não. O orgasmo é apenas um, entretanto a forma pela qual alcançamos ele, pode variar. Podemos usar o estímulo do clitóris, do canal vaginal, do ponto G e das zonas erógenas para chegar ao clímax, mas ele sempre será o mesmo”, afirma.
Sarita explica, porém, que as maneiras como os orgasmos são sentidos podem variar. “Em 2022, o Jornal de Sexualidade Medicina, publicou uma pesquisa da Universidade de Charles, em Praga, na qual 54 mulheres colocaram dispositivos no assoalho pélvico para poder medir como eram as contrações ao ter um orgasmo. A conclusão foi que existem três formas de senti-lo”, conta ela.
Ela explica que esses três tipos foram chamados de onda, avalanche e vulcão. “A onda foi experimentada por 42% das mulheres, a avalanche por 32% e o vulcão por 20%”, afirma. Conforme Sarita, o estudo definiu que tipo onda ocorre quando o assoalho pélvico apresenta ondulações ou contrações sucessivas na liberação da tensão do orgasmo, como se fossem mesmo ondas que vão e vêm até chegar ao clímax. Já o avalanche é uma tensão mais elevada do assoalho, com contração que diminui o durante o orgasmo. Por fim, o tipo vulcão é sentido quando o assoalho pélvico permanece na mesma tensão baixa durante todo o tempo e depois tem um aumento repentino como se fosse uma grande explosão.
Assunto delicado
O sexólogo Rodrigo Torres acredita que dividir os orgasmos entre tipos é algo delicado, principalmente pela pouca quantidade de estudos científicos acerca dos assuntos. “O que a ciência sabe é que o orgasmo feminino é disparado pelo clitóris. Mas algumas mulheres, por exemplo, relatam que sentem orgasmo anal, outras relatam que chegam a ele através da estimulação do mamilo. A gente também tem orgasmo dormindo, o que prova que não precisamos necessariamente da estimulação e que a partir do momento que o cérebro fantasia, ele pode proporcionar uma sensação de orgasmo”, pontua.
Outra preocupação de Rodrigo é que esse tipo de divisão estimule uma busca incessante pelos tipos de estímulos sem levar em consideração o que é bom para cada pessoa. “A gente sabe que o orgasmo tem níveis de intensidade diferentes, que é necessário um contexto, um ambiente, uma parceria, relaxamento, entrega. São várias coisas necessárias para que a pessoa chegue nesse nível de prazer”, ressalta.
Ele pontua também que embora o orgasmo seja considerado o ápice da relação sexual, é possível que o sexo seja satisfatório mesmo que o clímax não seja alcançado. Essa é inclusive uma questão destacada por todos os especialistas ouvidos pela reportagem. “Não é o orgasmo que vai trazer os benefícios para a relação, mas sim a vivência mútua do prazer”, afirma Rodrigo. Enylda reforça o coro. “Quando não há orgasmo, há o que chamamos de satisfação sexual, que é todo o processo sexo, do início ao fim, sem chegar ao orgasmo. E durante esse processo, todas as vivências são tão boas, tão boas, que ele acaba não sendo o ponto principal de tudo”.
Sarita faz uma analogia com uma viagem para reforçar essa possibilidade. “Existe sim prazer sem orgasmo. Eu falo que ele é o destino final e o sexo é como se fosse uma viagem. Quando a gente vai viajar, a gente está tão preocupado em chegar ao destino que a gente acaba não curtindo a viagem. Esquece de apreciar a paisagem, ver as árvores no caminho da estrada ou no avião, curtir o voo até chegar no destino. E isso pode ser tão prazeroso quanto o destino final. Óbvio que o destino final é maravilhoso, mas a gente tem que curtir o prazer mesmo sem chegar ao destino”, pontua.