Para quem já tem a “tampa de sua panela” ou um “cobertor de orelha”, expressões simpáticas para indicar um correspondente amoroso, a véspera do Dia do Namorados é o momento de planejar aquele que será (ou deveria ser) o ponto alto romântico do ano. Para outro grupo, o dos solteiros, o sinal de alerta deve ser ligado, para não ser vítima de uma síndrome muito comum nesta época: a recaída. 

Quando aquelas musiquinhas melosas começam a tocar e imagens de casais passam a pipocar em todos os cantos, há um perigo real de sentir saudades do ex, caracterizado pela amnésia momentânea dos perrengues sofridos ao lado do dito cujo. Parece um fato isolado, mas as pesquisas não mentem: 37% dos casais adultos retomam a relação após a ruptura, de acordo com a Universidade Estadual do Kansas.

“A tentação é grande. Para quem está sem companhia, pode ser um momento desafiador devido à sensação de solidão”, observa a sexóloga Graziela Chantal. “É importante avaliar os motivos para entrar em contato com um relacionamento anterior. Certifique-se de que as suas intenções são saudáveis. Considere se entrar em contato pode gerar mais dor ou confusão em vez de conforto”, sugere a especialista.

Graziela recomenda avaliar cuidadosamente as razões e as possíveis consequências como o melhor caminho para uma escolha mais saudável e consciente. “Reflita sobre os motivos que levaram ao término. Isso pode ajudar a avaliar se é uma boa ideia retomar o contato”, destaca a sexóloga, apontando a solidão e a carência emocional como os principais estimuladores para voltar aos braços do antigo amor.

"Ao não ter alguém para conversar, passar por datas comemorativas e frequentar lugares que faziam parte do relacionamento, tudo isso pode desencadear sentimentos nostálgicos. Retomar um relacionamento gera muitas vezes a ideia de conforto no passado, ainda que não seja saudável, porque muitas pessoas têm medo do novo e incerteza sobre o futuro”, analisa Graziela.

De acordo com ela, a ideia de que ainda existam sentimentos, uma esperança de reconciliação ou, ainda, a saudade dos momentos vividos com a parceria configura os casos de retomada da antiga relação. Algumas vezes, porém, “recaídas em um relacionamento podem se tornar prejudiciais ou doentias quando começam a impactar negativamente a saúde mental e emocional das pessoas envolvidas”.

Em entrevista publicada em O TEMPO, sobre o mesmo tema, a psicóloga Tatiana Freitas Wandekoken destacou que as recaídas podem ser gostosas, mas se deve indagar se, ao pôr tudo na balança, essa volta estaria realmente fazendo bem. “Se esse movimento de retorno te impede de viver novas experiências, de conhecer novas pessoas e caminhar com a própria vida, você pode levantar algumas questões. O quanto isso vem interferindo na sua vida cotidiana? Como você se sente nessa relação?”, levanta.

“A partir dessas perguntas, esse trabalho de autoavaliação é essencial porque não há ninguém, além de você mesmo, que possa responder se vale a pena continuar investindo nessa relação, mesmo de forma ‘não oficial’”, pondera a psicóloga. Ela é taxativa ao dizer que, mesmo que exista o sentimento, é preciso compreender que só amor não é suficiente para manter uma relação saudável. “Eu entendo que não é fácil introjetar essa lógica quando somos ensinadas, constantemente, que basta um grande amor para que haja um relacionamento, mas, na prática, isso não poderia ser mais equivocado”.

Sem esse entendimento, o risco é haver “uma negação dos motivos reais que levaram à separação, o que pode gerar repetição dos mesmos erros, principalmente se não tiverem ocorrido mudanças nas atitudes e comportamentos que levaram ao término”, aponta Graziela. Isso pode fazer com que “o casal caia em ciclos repetitivos, gerando dependência emocional, o que impede o crescimento pessoal, fortalecimento da identidade e a possibilidade de estabelecer relações mais saudáveis”.